A presidenta
afastada Dilma Rousseff defendeu ontem (9), em entrevista especial concedida à TV
Brasil, uma consulta popular caso o Senado não decida pelo seu impedimento. Ao
apresentador Luís Nassif, Dilma disse que é a população que tem que dizer se
quer a continuidade de seu governo ou a realização de novas eleições. “O pacto
que vinha desde a Constituição de 1988 foi rompido e não acredito que se
recomponha esse pacto dentro de gabinete. Acredito que a população seja
consultada”, disse.
Para ela, o
país não conseguirá superar a crise com o governo interino. Dilma acredita que
o povo não terá confiança no comando de Temer pelo fato de ele não ter passado
pelo crivo das urnas. “Como você acha que alguém vai acreditar que os contratos
serão mantidos se o maior contrato do país, que são as eleições, foi
rompido?", indagou. “Não acho possível fazer pacto nenhum com o governo
Temer em exercício”, completou.
Dilma criticou
uma vez mais a admissibilidade do processo de afastamento usando como o argumento
o fato de que, embora a Constituição preveja o impeachment, ela também estipula
que é preciso haver crime para que se categorize o impedimento. “Não é possível
dar um jeitinho e forçar um pouquinho e tornar esse artigo elástico e
qualificar como crime aquilo que não é crime. Os presidentes que me antecederam
fizeram mais decretos do que eu. O senhor Fernando Henrique [Cardoso] fez entre
23 e 30 decretos do mesmo tipo”, disse, referindo-se aos decretos de
suplementação orçamentária que embasaram o pedido de impeachment feito pelos
advogados Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr. e Janaína Pascoal.
“Não é o meu
mandato, mas as consequências que tem sobre a democracia brasileira tirar um
mandato. Isso não afeta só a Presidência da República, afeta todos os Poderes”,
disse ela.
Dilma disse
que reivindica voltar ao posto por compreender que não cometeu crime. Ela
criticou os que defendem um semiparlamentarismo, ou eleição indireta, por
considerar que isso traria um grande risco ao país. A presidenta afastada
defendeu que haja uma reforma política que discuta o tema. "Não temos que
acabar com o presidencialismo, temos que criar as condições pela reforma
política".
Nesse
contexto, ela defendeu novamente a consulta popular. “Só a consulta popular
para lavar e enxaguar essa lambança que está sendo o governo Temer”. Segundo
ela, nos momentos de crise pelo qual o Brasil passou, na história da democracia
recente, foi com o presidencialismo que o país superou as crises. "Foi
sempre através do presidencialismo que o país conseguiu dar passos em direção à
modernidade e à inclusão".
Eduardo
Cunha
Para Dilma, no
final do seu primeiro mandato, começou a se desenhar, especialmente na Câmara
dos Deputados, um movimento político “do centro para a direita”, com o surgimento
de pautas conservadoras, processo, segundo ela, comandado pelo então líder do
PMDB e hoje presidente afastado da Casa, Eduardo Cunha (RJ). “Ele é o líder da
direita no centro. O processo culmina na eleição dele”, disse.
Com a ascensão
de Cunha à presidência da Câmara, a interlocução do governo com o Casa ficou
inviabilizada, de acordo com ela, porque o peemedebista tem “pauta própria”. “O
grande problema de compor com o Eduardo Cunha é que ele tem pauta própria. No
momento em que o centro passa ter pauta própria, uma pauta conservadora, a
negociação fica difícil”. Dilma voltou a defender a tese de que o peemedebista
acatou a denúncia dos advogados contra ela em retaliação ao fato de o PT não
ter se comprometido a votar, no Conselho de Ética, contra a abertura do
processo de cassação do mandato de Cunha.
"Atribui-se
a mim não querer conversar com parlamentares. Agora, não tem negociação com
certo tipo de práticas. Quando começa o aumento da investigação que a
Procuradoria-Geral da República faz sobre ele [Cunha], qual a reação dele? Ou
você me dá três votos ou eu aceito a questão do impeachment. E a imprensa
relata. Trata-se de uma chantagem explícita.”
Política
externa
A presidenta
afastada também criticou as ações tomadas pelo ministro das Relações Exteriores,
José Serra, em relação a alguns países vizinhos. Ela defendeu a aproximação do
Brasil com países da região e com a África, iniciada no governo Lula e mantida
na sua gestão. "Fomos capazes de refazer nossas relações com a América
Latina e com a África. Ter uma visão de fechar embaixada é ter uma visão
minúscula da política externa".
Lava
Jato
Perguntada
sobre a Operação Lava Jato e os casos de corrupção deflagrados no país
recentemente com a ação da Polícia Federal e do Ministério Público, Dilma que
disse que o grande problema da corrupção é o controle privado que se faz das
verbas do Estado. “Não se pode fazer a escandalização de investigações sobre o
crime de corrupção. O que tem que se fazer é, doa a quem doer, investigar e
punir. Quando for as empresas é aplicar multas. Há uma hipocrisia imensa em
relação a essa questão das investigações”.
Celso
Kamura
Sobre as
denúncias de que teve despesas com cabeleireiro pagas com dinheiro de propina,
Dilma disse ter comprovantes de todas gastos que teve com o cabeleireiro Celso
Kamura e a cabeleireira particular que a acompanha até hoje.
Dilma contou
que conheceu Kamura após o fim do tratamento a que se submeteu para combater um
linfoma, em 2009, por meio da empresa responsável por sua campanha à
presidência. Kamura, segundo ela, a ajudou na fase em que seus cabelos voltaram
a crescer. Para ela, esse tipo de acusação é uma tentativa intimidá-la.
"Eles não vão me calar porque vão falar do meu cabelo. A sorte é que tenho
todos os comprovantes do pagamento, de transporte dele [Kamura] e da minha
cabeleireira particular. Também disseram que comprei um teleprompter. Já viu
alguém ter um teleprompter pessoal? Para que eu quero um teleprompter? Essa eu
achei fantástica", ironizou, referindo-se ao aparelho usado pelas TVs que
mostra o texto a ser falado por apresentadores de telejornais e programas
jornalísticos.
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