Mais de uma hora depois do horário marcado para que a Comissão Mista
de Orçamento (CMO) se reunisse hoje (24) para discutir o projeto que
altera a meta de resultado primário do governo federal (PLN 1/16),
deputados e senadores ainda discutiam se a reunião seria ou não mantida.
O tumulto foi protagonizado pela senadora Gleise Hoffmann (PT-PR), que,
visivelmente exaltada, gritava, tentando ser ouvida pelo colegiado.
A
senadora pediu que a reunião fosse cancelada sob o argumento de que
havia expirado o tempo – 30 minutos - para atingir o quórum mínimo de
pelo menos seis senadores e 16 deputados. Não integrante da comissão,
Gleise pediu a palavra e se revezou entre os microfones que eram ligados
e desligados pela mesa para tentar ser ouvida como líder do PT, e
alertou que a questão era “regimental”.
“A senhora não tem o
direito nem de estar falando”, retrucou o presidente do colegiado,
deputado Arthur Lira (PP-AL), que levou mais de vinte minutos tentando
reestabelecer a ordem.
Favoráveis ou não ao projeto que altera a
meta de resultado primário do governo federal, os integrantes da
comissão apostam que o texto só deve ser votado em plenário, durante a
sessão do Congresso Nacional, marcada para às 11h, para discutir e votar
a matéria. A expectativa é que o quórum mínimo para o plenário do
Congresso iniciar as discussões – 41 senadores e 257 deputados – só seja
atingido no início da tarde. Conformado com a possibilidade de não
votar a meta fiscal na CMO, o presidente do colegiado, deputado Arthur
Lira (PP-AL), espera que, pelo menos, o texto comece a ser debatido na
comissão para esclarecer pontos de maior impasse. Para ele, o início
deste processo pode acelerar a votação conjunta do texto.
“Temos
número suficiente para aprovar a meta. É importante que os partidos se
desprendam das questões pragmáticas e pensem no Brasil. O momento agora é
de votar a meta para que no final do prazo não tenhamos as sanções”,
afirmou Lira, lembrando que o projeto precisa ser votado até a próxima
segunda-feira (30).
Lira disse que a nova meta já tem sinalização
favorável, inclusive do PDT, mas o texto, estimando em R$ 170,5 bilhões
o déficit primário do ano fiscal, sofrerá a resistência de
parlamentares do PT e PCdoB. “Eles vão tentar usar o rolo compressor.
Estão tentando construir o discurso da herança maldita, que não é
verdadeiro”, afirmou Silvio Costa (PTdoB-PE), que foi vice-líder do
governo Dilma Rousseff na Câmara.
Costa admitiu que a equipe
econômica do governo de Dilma teria que reenviar uma revisão da meta
posteriormente, revendo a previsão de déficit de R$ 96 bilhões,
estudando, inclusive, se seria mantido ou não o contingenciamento de R$
30 bilhões. Apesar disto, o parlamentar afirmou que a equipe do
presidente interino Michel Temer “maquiou” os números e precisa
esclarecer pontos que estão “obscuros”.
“Eles têm que provar, por
exemplo, a questão da repatriação [de recursos no exterior]. A previsão
do governo da presidente Dilma era, de até junho, repatriar R$ 5
bilhões. O até ontem ministro Romero Jucá falou que até agora só foi
repatriado R$ 1 bilhão. A gente quer ver esta contabilidade. Ainda tem a
questão do contingenciamento. Eles disseram que precisaram
descontingenciar para o país não parar, mas o país não estava parado”,
afirmou.
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