Novo estudo
qualitativo e quantitativo leva em conta o nível socioeconômico das escolas, as
matrículas na Educação Integral e nos turnos diurno e noturno, as taxas de
evasão e abandono e a formação docente.
A Coordenação
de Pesquisas do Cenpec (Centro de Pesquisas e Estudos em Educação, Cultura e
Ação Comunitária) divulgou nesta quarta-feira, 2 de março, em São Paulo (SP),
os resultados preliminares do estudo Ensino Médio, Qualidade e Equidade: Avanços e Desafios em
Quatro Estados: CE, GO PE e SP.
Veja a apresentação com os principais resultados do estudo.
Assista ao vídeo da coletiva
de divulgação da pesquisa à imprensa.
Os três
principais resultados são: há um modelo de política educacional, nos quatro
estados, orientado pela busca de melhoria de resultados por meio do
aprimoramento da gestão (1); a diversificação da oferta de matrícula está
associada a uma distribuição desigual das oportunidades educacionais, em função
da origem social dos estudantes (2); na relação com a escola, os jovens: mantêm
uma relação positiva com ela; veem nela um importante instrumento para uma
colocação no mundo do trabalho; e esperam prosseguir em seus estudos (3).
Metodologia – A investigação usou
procedimentos quantitativos e qualitativos. Foram analisadas as bases de dados
da Pnad/IBGE, Saeb e do Censo Escolar. Pesquisadores dos 4 estados estudados
descreveram e analisaram as políticas executadas, a partir do levantamento da documentação
e da legislação pública e de observação das escolas (24 escolas foram
observadas mais detidamente, 6 em cada estado) e de entrevistas, em campo, com
secretários de Educação (com exceção do estado de São Paulo), técnicos
das secretarias e de órgãos intermediários, diretores, professores e
estudantes. Foi apresentada, neste início de março, a análise das matrículas na
Educação Integral e nos turnos diurno e noturno, as taxas de evasão e abandono,
a formação docente e a percepção de estudantes dos estados investigados (leia detalhes do estudo no “Informe da
Pesquisa Ensino Médio, Qualidade e Equidade: avanços e desafios em quatro
estados: CE, GO PE e SP”).
Critérios – A escolha de SP, GO,
PE e CE, e não de outras unidade federativas, está relacionada aos bons
indicadores de resultados obtidos, em geral, por esses quatro estados e ao fato
de eles implementarem, de forma mais abrangente, medidas que outros estados vêm
colocando em prática de forma mais restrita, como, por exemplo, a ampliação das
matrículas em tempo integral, o monitoramento dos processos pedagógicos, o
investimento em reformas curriculares, em formação continuada de docentes, grau
de autonomia das escolas, políticas de responsabilização e evolução das taxas
de aprovação e do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica).
Resultados
preliminares
– Os achados iniciais indicam que a execução das políticas de
diversificação da oferta do Ensino Médio produz desigualdades educacionais. “As
escolas de tempo integral atraem os estudantes com perfis social e acadêmico
mais altos, colocando os estabelecimentos de ensino de tempo parcial em
desvantagem no recrutamento de alunos”, explica Antônio Augusto Gomes Batista,
coordenador de pesquisa do Cenpec. Ele ressalta ainda que a diversificação da
matrícula no Ensino Médio, quaisquer sejam seus supostos benefícios, deve ser
posta em prática com cuidado. É que ela pode envolver uma relação com a origem
social dos alunos e implicar uma distribuição desigual de oportunidades
educativas, pouco contribuindo para a promoção da equidade.
“Dada a
ampliação do debate público sobre os desafios do Ensino Médio no Brasil e a
necessidade de flexibilizar a oferta dessa etapa de ensino, o Cenpec opta por
apresentar os dados preliminares do estudo para contribuir com as discussões no
País”, afirma Maria Alice Setubal, educadora e presidente do Conselho
Administrativo do Cenpec. Realizada em 2014, a pesquisa é parte de um esforço
maior e de longo prazo do Cenpec para o enfrentamento das desigualdades
educacionais. Ela visa descrever e analisar políticas implantadas por estados
brasileiros para o Ensino Médio, bem como o modo pelo qual escolas em
territórios socialmente vulneráveis respondem aos desafios e às possibilidades
colocadas por essas políticas.
Contexto
no Brasil – Cabe
salientar, por fim, que a conclusão da Educação Básica é historicamente baixa
entre os brasileiros. Pela Pnad 2014, 82,6% da população de 15 a 17 anos está
na escola, porém somente 58% destes estão cursando o Ensino Médio. Some-se a
isso o fato de o Brasil ter mais de 1,7 milhão de adolescentes nessa mesma
faixa etária fora da escola, além de um contingente de 11 milhões de jovens de
18 a 29 anos que não concluíram o Ensino Médio. Para atender a essa demanda, as
redes estaduais de ensino oferecem esta etapa nos ensinos regular (em tempo
integral ou parcial) e profissional e na EJA (Educação de Jovens e Adultos),
nos turnos diurno (matutino e vespertino) e noturno.
PRINCIPAIS
CONCLUSÕES DA PESQUISA DO CENPEC:
1
– MODELO DE POLÍTICA EDUCACIONAL ORIENTADO PELA BUSCA DE MELHORIA DE RESULTADOS
POR MEIO DO APRIMORAMENTO DA GESTÃO
Nota-se um
mesmo modelo de política educacional organizando as diferentes políticas dos
estados, que adquire diferentes contornos conforme o estado. Tal modelo tem 4
dimensões (currículo; monitoramento do processo de ensino-aprendizado;
avaliação dos resultados; e formação de professores), orientadas pela busca da
melhoria dos resultados por meio do aprimoramento dos processos de gestão.
2
– DIVERSIFICAÇÃO DA OFERTA DE MATRÍCULA ESTÁ ASSOCIADA A UMA DISTRIBUIÇÃO
DESIGUAL DAS OPORTUNIDADES EDUCACIONAIS, EM FUNÇÃO DA ORIGEM SOCIAL DOS
ESTUDANTES:
Análise:
Escola de Tempo Integral X Escola de Tempo Parcial:
Correlação
entre matrícula e nível socioeconômico
Em todos os
estados, com exceção de Pernambuco, quanto maior o percentual da matrícula em
tempo integral, maior o nível socioeconômico da escola;
A correlação é
sempre positiva e significativa nos estados do Ceará, São Paulo e Goiás, sendo
mais alta no Ceará e menor em Goiás. São Paulo ocupa uma posição intermediária;
Perfil
do Professor
Em todos os
estados analisados, o percentual de professores temporários é menor nas escolas
com turmas de tempo integral do que nas de período parcial;
Com exceção de
Pernambuco, em todos os estados analisados, o percentual de professores com
mestrado e doutorado é maior nas escolas com turmas de tempo integral do que
nas de período parcial.
Com exceção do
Ceará, em todos os estados analisados, o percentual de professores efetivos é
maior nas escolas com turmas de tempo integral do que nas de período parcial.
Distorção
Idade-Série
Em todos os
estados analisados, as escolas de tempo integral têm menores taxas de distorção
idade-série, quando comparadas a outras de tempo parcial. A correlação é maior
nos estados com mais matrículas integrais: Ceará e Pernambuco;
Entre 2008 e
2014, no quesito defasagem, em todos os todos os estados investigados aumentou
a desigualdade entre escolas de tempo integral e as de tempo parcial.
Esforço
docente
Nos quatro
estados, os professores de escolas de meio período têm maior carga de trabalho,
se comparados aos das integrais. Ou seja, atendem maior número de alunos e
atuam em mais escolas, turnos e etapas de ensino, se comparadas com as escolas
com período integral.
Análise:
Ensino Médio Diurno X Ensino Médio Noturno
Nos quatro
estados, as turmas do noturno são frequentadas por alunos com menor renda e a
taxa de distorção idade série é maior entre as matrículas do noturno do que nas
do diurno, confirmando dados de outras pesquisas.
No Ceará,
Pernambuco e Goiás, os professores das escolas que têm metade das turmas no
noturno têm maior carga de trabalho, se comparados aos das que têm menos da
metade no diurno.
3
– RELAÇÃO DOS JOVENS COM A ESCOLA
Foram
entrevistados 669 estudantes do 2º ano do Ensino Médio dos quatro estados
analisados na pesquisa:
Para os jovens
dos territórios vulneráveis, a escola é um espaço de sociabilidade.
A maioria dos
alunos gosta da escola, independente se está em turmas de tempo integral,
parcial, diurno ou noturno: ele é maior no integral, mas diminui no diurno e
mais ainda no noturno.
No caso do
noturno, quase 1/3 dos entrevistados afirma que, se pudesse escolher, mudaria
de escola.
A reputação da
escola é o principal motivo para escolha da escola pelos alunos de período
integral. Já entre os alunos do noturno, a escolha ocorre por que ela fica
perto de casa e por ser a única do bairro ou município.
Uma parte
importante dos alunos tem aspirações a continuar os estudos, além de acreditar que
a escola possibilitará uma melhor inserção no mercado de trabalho.
Leia
detalhes do estudo no “Informe da Pesquisa Ensino Médio, Qualidade e Equidade:
avanços e desafios em quatro estados: CE, GO PE e SP”, no site do Cenpec.
Viua Cenpec
Viua Cenpec
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