Relatório final da reforma política mantém esquema de
financiamento eleitoral por empresas. Organizações da sociedade civil
são contra proposta.
Por Pedro Rafael Vilela
Uma
comissão formada por deputados federais para analisar propostas de
reforma política apresentou relatório final que aprofunda a influência
do poder econômico nas eleições. Parecer do deputado Marcelo Castro
(PMDB-PI), divulgado na última terça-feira (12), permite que empresas
continuem fazendo doações para campanhas políticas. Movimentos sociais
estão chamando essa proposta de “PEC da corrupção”, porque mantém as
empresas no controle do sistema político. “A doação empresarial para
campanhas é a principal fonte de desvios e da corrupção”, afirma Luciano
Santos, advogado especialista em direito eleitoral e diretor do
Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE).
Doações
As
eleições no Brasil estão então entre as mais caras do planeta. Somente
em 2014, o custo total das candidaturas ficou em cerca de R$ 5 bilhões.
Estima-se que 90% das doações são feitas pelo setor empresarial. Um dado
revelador é que as contribuições vieram de um grupo pequeno, que não
chega nem a 1% do total de empresas no país. “Em geral, são empresas que
dependem basicamente de licitações públicas, têm uma relação forte com o
poder político. Então, elas fazem investimento em doação para recuperar
depois”, explica Luciano Santos, do MCCE.
Foto: Mídia Ninja |
Os
números parecem confirmar esse raciocínio. Entre as 10 maiores doadoras
eleitorais no ano passado, pelo menos cinco eram empreiteiras, como
OAS, Queiroz Galvão, UTC Engenharia e Andrade Gutierrez. Todas elas
estão sendo investigadas na Operação Lava Jato, que apura justamente
fraude em licitações com a Petrobras. Até mesmo o ex-diretor da estatal,
Paulo Roberto Costa, delator e um dos principais réus no processo,
ironizou as doações empresariais de campanha durante seu depoimento na
CPI da Petrobras, na semana passada. Para Costa, “não existe almoço de
graça” em contribuições de campanha. “Não existe doação que, depois,
essas empresas não queiram recuperar. Se ela doa R$ 5 milhões vai querer
recuperar na frente R$ 20 milhões”, disse.
Há quase
um ano, a maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) votou a
favor de uma ação proposta pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que
considera inconstitucional a doação empresarial nas eleições. A
validade da medida, no entanto, foi travada pelo ministro Gilmar Mendes,
que pediu vistas do processo. Se a proposta dos deputados for aprovada,
a Constituição será alterada para legalizar de vez as doações.
Como
resultado, esse modelo acaba garantindo a eleição dos candidatos que
tiveram com mais dinheiro. Mais de 70% dos deputados federais eleitos em
2014 tiveram as campanhas mais caras entre seus concorrentes. A
paisagem do Congresso Nacional não reproduz bem a distribuição
populacional brasileira. Os empresários são grande maioria entre os
parlamentares, possuindo três vezes o número de cadeiras de deputados de
origem trabalhista e sindical. Setores da burguesia como latifundiários
também tem grande representação no Congresso, ao contrário de
agricultores, por exemplo.
Sociedade Civil
Organizações
como OAB, CNBB, MCCE, UNE, entre outras estão articulados em torno da
Coalizão por uma Reforma Política Democrática e Eleições Limpas. A
principal iniciativa é um projeto de lei de iniciativa popular, que já
recolheu 200 mil assinaturas em todo o país em tem a meta de chegar a
1,4 milhão; além de pôr fim ao financiamento empresarial, a proposta
estabelece modelos eleitorais que garantem maior diversidade e
pluralidade na representação política. O advogado Luciano Santos informa
que uma caminhada até o Congresso Nacional, marcada para o dia 20, será
mais um momento de pressão para barrar o que chama de “contrarreforma”
política.
No dia 26, outra ação, puxada pela campanha
do Plebiscito Constituinte, que envolve MST, CUT, entre outras, também
promete mobilização em Brasília para pressionar pela convocação de uma
Assembleia Constituinte exclusiva para mudar o sistema político, por
meio de um plebiscito. A avaliação é de que o atual Congresso não vai
aprovar uma reforma política que contrarie seus próprios interesses
eleitorais e políticos.
Além de legalizar a doação
empresarial, o relatório do deputado Marcelo Castro (PMDB-PI) muda o
sistema eleitoral para o chamado “distritão”, em que estados e
municípios são divididos em regiões ou distritos onde serão eleitos os
mais votados, tanto para vereadores, deputados estaduais e federais. Com
essa fórmula, se um determinado estado tem 10 vagas de deputado federal
e, nas eleições, o partido A fica com 49% dos votos e o partido B fica
com 51%, mesmo com uma diferença pequena, todas as vagas vão para o
partido B, causando uma grave distorção na representação. “O voto
distrital é excludente da representação de grande parte do eleitorado ao
não assegurar a representação política da parcela minoritária da
sociedade mesmo com uma votação próxima da metade do eleitorado. Promove
a ditadura da maioria sobre a minoria”, analisa Luciano Santos,
advogado especialista em direito eleitoral e diretor do MCCE.
Resistência
Com
essas características, o projeto de reforma política apresentado na
Câmara deve sofrer forte resistência interna e muitos parlamentares vão
propor destaques e emendas para alterar de forma significativa o texto.
Um deles é o deputado Henrique Fontana (PT-RS), que já adiantou querer
modificações. “O primeiro destaque é para retirar empresas do
financiamento eleitoral. A nossa visão é que empresas não devem
financiar partidos políticos nem candidatos em momento algum. E o
segundo será um destaque contra o distritão, que é péssimo e agrava os
problemas que a democracia já tem”.
A
deputada Margarida Salomão (PT-MG) anunciou que, na votação do
substitutivo, apresentará emenda para resgatar a proposta de cotas para a
representação feminina na política. Margarida criticou o relatório de
Castro. “Não há expectativa de que nós avancemos na representação das
mulheres nem das outras minorias sociais”, disse a deputada. (Com informações da Agência Câmara).
A farra vai continuar
ResponderExcluirSem a tal "farra" dos financiamentos meu caro Ivan, a política passaria a ser desinteressante tanto para políticos, como para muitos empresários.
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