Os investigadores
terão acesso a duas contas em Montevidéu, pelas quais passavam os pagamentos
Por Pedro Marcondes
de Moura no G1
Ao aprofundar
a apuração sobre o cartel do Metrô de São Paulo, os promotores e os
procuradores envolvidos nas investigações descobriram que as movimentações
financeiras do esquema percorreram o mundo. Foram detectadas transações
suspeitas em seis países, além do Brasil. Por meio delas, circulou o dinheiro
de multinacionais e de lobistas, destinado a pagar propina a agentes públicos
de estatais paulistas. Mediante suborno, empresas – como a francesa Alstom ou a
alemã Siemens – obtiveram contratos superfaturados em 30% para fornecer trens e
equipamentos ao Metrô de São Paulo e à Companhia Paulista de Trens
Metropolitanos (CPTM). Um prejuízo estimado em R$ 834 milhões aos cofres
públicos. Na trilha desse dinheiro, a investigação chegará, em breve, a um novo
e decisivo destino: o Uruguai.
Em janeiro,
uma força-tarefa desembarcará em Montevidéu. Os integrantes do Ministério
Público de São Paulo e do Ministério Público Federal terão acesso a uma leva de
documentos por meio da cooperação com as autoridades locais. Entre eles, estão
movimentações bancárias no país. Duas delas são consideradas chave para
elucidar uma incógnita das investigações: se há corruptores, quem são os
corrompidos? É o que devem responder os extratos das contas usadas pelo lobista
Arthur Teixeira e seus representantes no Uruguai, Nicolas Juan Alonso e Roberto
Diego Licio. Segundo informações preliminares, nelas ingressou dinheiro das
multinacionais, e delas saiu pagamento de propina.
Para os responsáveis pela investigação, Teixeira ocupa papel de destaque na engrenagem financeira. Ele é considerado o pivô das fraudes nas estatais metroferroviárias de São Paulo. Ao lado de Sergio Teixeira – morto em 2011 –, ele controlava duas empresas de “consultoria” no Brasil e três offshores sediadas no Uruguai: Leraway, Gantown e GHT. Todas registradas no mesmo endereço: um escritório de contabilidade em Montevidéu, conhecido por abrir e gerenciar firmas de fachada. As offshores simulavam serviços de consultoria para multinacionais interessadas em contratos com as estatais paulistas, entre 1998 e 2008, durante os governos dos tucanos Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra. Pelos contratos, companhias como Siemens e Alstom aceitavam pagar percentuais em futuros contratos e aditivos obtidos do Metrô paulista e da CPTM. Os recursos recebidos pelas offshores no Uruguai remuneraram serviços variados prestados por Teixeira. Ele comandava reuniões com executivos do cartel para repartir os projetos das estatais. Definia também, nos encontros, os valores das propostas superfaturadas a apresentar nas licitações. Para garantir que os acordos saíssem do papel, repassava parte dos valores recebidos como propina a agentes públicos.
Para os responsáveis pela investigação, Teixeira ocupa papel de destaque na engrenagem financeira. Ele é considerado o pivô das fraudes nas estatais metroferroviárias de São Paulo. Ao lado de Sergio Teixeira – morto em 2011 –, ele controlava duas empresas de “consultoria” no Brasil e três offshores sediadas no Uruguai: Leraway, Gantown e GHT. Todas registradas no mesmo endereço: um escritório de contabilidade em Montevidéu, conhecido por abrir e gerenciar firmas de fachada. As offshores simulavam serviços de consultoria para multinacionais interessadas em contratos com as estatais paulistas, entre 1998 e 2008, durante os governos dos tucanos Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra. Pelos contratos, companhias como Siemens e Alstom aceitavam pagar percentuais em futuros contratos e aditivos obtidos do Metrô paulista e da CPTM. Os recursos recebidos pelas offshores no Uruguai remuneraram serviços variados prestados por Teixeira. Ele comandava reuniões com executivos do cartel para repartir os projetos das estatais. Definia também, nos encontros, os valores das propostas superfaturadas a apresentar nas licitações. Para garantir que os acordos saíssem do papel, repassava parte dos valores recebidos como propina a agentes públicos.
As conexões de Teixeira emergiram com o acordo de leniência da Siemens, em junho de 2013. Em troca de redução de sanções para a empresa e seus executivos, a Siemens confessou a participação no cartel, que reunia 12 empresas. Desde então, o ex-diretor da área de transportes da Siemens Everton Rheinheimer passou a narrar os bastidores do esquema. Contou aos promotores que Teixeira se apresentava como “indicação do cliente (CPTM) para organizar o mercado”. “Arthur Teixeira dizia que os contatos com o cliente se davam na pessoa de Zaniboni e Lavorente”, afirmou. João Roberto Zaniboni foi diretor da CPTM entre 1999 e 2003. José Luiz Lavorente faz parte da direção da CPTM desde 1999. Ambos estão numa lista de 33 indiciados pela Polícia Federal no último dia 1o, em que aparecem também Teixeira e o atual presidente da CPTM, Mário Bandeira.
Os documentos
uruguaios esclarecerão uma incógnita da investigação: quem foram os
corrompidos?
As
movimentações de Teixeira também são seguidas de perto na Europa. Numa reunião
com procuradores suíços em Berna, no começo do mês, uma delegação brasileira
recebeu informações sobre cerca de dez novas contas dele até então
desconhecidas. A partir de março, os investigadores brasileiros e suíços
compartilharão ações contra os envolvidos nas fraudes do Metrô. A ideia é que
eles respondam pelos delitos nas esferas civis e criminais tanto no Brasil como
na Suíça. A comitiva brasileira ficou surpresa com a desenvoltura com que
Teixeira agia e com as somas que ele movimentou em bancos suíços. Lá, ele
responde a uma ação por lavagem de dinheiro.
Entre as evidências do processo, está um depósito feito em 27 de abril de 2000. Da conta 524374 Rockhouse, no banco Credit Suisse, em Genebra, Teixeira transferiu US$ 103.500 para uma conta denominada Milmar. O beneficiário era Zaniboni, o ex-diretor da CPTM. Ele disse ter recebido por consultorias. Não é o que pensam as autoridades suíças. Elas informaram a existência de indícios de que outras contas de agentes públicos paulistas também foram abastecidas por Teixeira. Em depoimento aos promotores, Teixeira negou ser lobista, disse ter prestado serviços de consultoria às empresas do cartel, refutou ser dono das offshores e seu envolvimento com irregularidades.
Ao mesmo tempo, os promotores tentam recuperar o dinheiro desviado. Estima-se que o Metrô de São Paulo e a CPTM tenham sido lesados em R$ 834 milhões. Numa ação na Justiça movida no último dia 4, promotores pedem que dez empresas do cartel sejam condenadas a devolver R$ 418 milhões ao Estado de São Paulo. A ação só leva em conta os contratos firmados entre 2001 e 2003 para a manutenção de trens da CPTM e pede a dissolução das empresas envolvidas no cartel. A Alstom afirma que não “comentará investigações em andamento e reitera que está colaborando com as autoridades competentes”. A Siemens diz que foram as suas denúncias que “deram origem às atuais investigações” e que “sempre desejou e apoiou o total esclarecimento desse episódio”.
Via G1
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