Fausto Macedo e Ricardo Chapola
O presidente e
o diretor de operações da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM),
respectivamente Mário Bandeira e José Luiz Lavorente, estão entre os 33
indiciados pela Polícia Federal no inquérito que investigou o cartel no setor
metroferroviário que operou em São Paulo entre 1998 e 2008, nos governos de
Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin. Lavorente e Bandeira são os únicos
servidores públicos que constam da lista de indiciados, entre doleiros,
empresários e executivos das multinacionais que teriam participado de conluio
para obtenção de contratos no Metrô e na CPTM.
A PF também
indiciou funcionários e ex-funcionários das multinacionais Alstom, Siemens,
Bombardier, Mitsui, CAF e TTrans. A lista dos 33 indiciados pela PF foi obtida
pelo jornalista José Roberto Burnier, da Rede Globo. Todas pessoas indiciadas
pela PF são investigados pelos crimes de corrupção passiva, ativa, formação de
cartel, crime licitatório, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Cerca de R$
60 milhões dos alvos estão bloqueados. O inquérito chegou à Justiça Federal na
segunda-feira. Segundo a PF, as duas estatais "foram vítimas do ajuste das
empresas".
O nome do
ex-diretor da CPTM, José Roberto Zaniboni, também está entre os 33 indiciados
pela PF. Ele é acusado de receber propina das empresas via lobistas. O esquema
foi revelado em outubro de 2013, pelo ex-diretor da Siemens, Everton
Rheinheimer, em delação premiada à PF. Em seu depoimento, Rheinheimer relatou
sobre suposto pagamento de propina de multinacionais a deputados e funcionários
públicos.
Zaniboni
mantinha conta secreta na Suíça com saldo de US$ 826 mil. O dinheiro, segundo
seu advogado, Luiz Fernando Pacheco, já foi repatriado pelo próprio Zaniboni,
com recolhimento de impostos. Ontem, uma delegação de procuradores e promotores
brasileiros iniciou em Berna reuniões com o Ministério Público da Suíça. A meta
é identificar o percurso do dinheiro encontrado em contas em Zurique.
Os autos foram
remetidos ao Supremo Tribunal Federal (STF), órgão que detém competência para
processar os parlamentares citados por Rheinheimer na delação. O depoimento
prestado por Rheinheimer à Justiça foi ratificada pelas provas reunidas no
inquérito. O Supremo devolveu à PF parte da investigação que não atingia
autoridades com foro privilegiado. Depois disso, a polícia passou a colher
depoimentos e rastrear eventuais fluxos de recursos ilícitos em contas dos
suspeitos no caso do cartel. Alguns investigados já haviam sido indiciados
antes da remessa do inquérito ao STF. A outra parte foi enquadrada após o
retorno dos autos.
A Alstom
informou por meio de nota que "não pode se manifestar" em razão de o
inquérito correr sob segredo de Justiça. A Siemens disse apoiar o "total
esclarecimento" do episódio e reforçou ter tido "proatividade"
ao divulgar os resultado das auditorias que deram início às investigações da
Polícia Federal. Também por meio de nota, a Mitsui afirmou estar colaborando
com as investigações que estão em andamento. A empresa também informou que não
vai comentar a menção de um ex-funcionário na lista de indiciados da Polícia. A
Bombardier divulgou em nota disse que a empresa "segue os mais altos
padrões éticos" e afirmou que vai continuar colaborando com a
investigações.
A CPTM
informou em nota que os diretores eventualmente mencionados no relatório da
Polícia Federal não irão se manifestar, uma vez que não tiveram acesso ao conteúdo
do processo em razão do segredo de justiça. "Ambos autorizaram abertura de
sigilo dos seus dados fiscais e bancários, inclusive das respectivas esposas,
nada sendo encontrado. Os executivos negam veementemente qualquer prática
irregular na condução dos processos licitatórios, desconhecendo completamente
qualquer acusação. Os dirigentes da CPTM continuam colaborando com todos os
órgãos que investigam as denúncias sobre formação de cartel. A Companhia tem
total interesse em apurar os fatos e, constatado o prejuízo, exigir
ressarcimento aos cofres públicos", afirmou a companhia.
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