É o que pensa
a jornalista Ana Alakija, editora da Agência Afro-Latina e Euro-Americana de
Informação; em artigo sobre a ida do ministro a uma roda de samba, no Rio, na
última segunda, ela diz que a repercussão deste fato soma-se a outras críticas
que o colocam na condição de “vítima de bullying e assédio racial”;
segundo a jornalista, em contraponto às acusações contra Barbosa de que as
prisões dos condenados na Ação Penal 470 foram ilegais, foi criada, nas
redes sociais, a campanha "Vamos abraçar Joaquim Barbosa e o
STF", com o objetivo de apoiar as ações do presidente do STF;
vitimização pode ser mais um passo na campanha à presidência da República
O
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, a maior
autoridade do Judiciário brasileiro, que tem amplo apoio da mídia conservadora,
precisa de defensores? Para a jornalista Ana Alakija, editora da Agência
Afro-Latina e Euro-Americana de Informação, sim. Ela vê Barbosa como uma
“vítima de bullying e assédio racial”, conforme escreveu em artigo sobre a ida
do ministro a uma roda de samba, no Rio de Janeiro, na última segunda-feira de
2013.
Segundo ela,
após a emissão de ordem de prisão dos condenados na Ação Penal 470, o mensalão,
Barbosa "foi vítima de uma campanha encabeçada por juristas, intelectuais
e personalidades da sociedade civil, que assinaram e publicaram um manifesto na
Internet e ainda derramaram artigos e notícias na imprensa contra o que eles
consideraram prisões ilegais".
Por isso, Ana
Alakija faz parte de um grupo que criou a campanha "Vamos abraçar Joaquim
Barbosa e o STF", que surgiu no e-black-group (um grupo no Google)
“Discriminação Racial”, de iniciativa do advogado Humberto Adami, co-fundador
do Instituto de Advocacia Racial e Ambiental e vice presidente da Comissão
Nacional da Igualdade do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil.
O projeto
prevê uma petição online a "ser assinada por todos aqueles que repudiam a
campanha desonesta, vil, e evidentemente racista, contra um brasileiro que tem
cumprido fielmente suas obrigações constitucionais, e trazido orgulho, de norte
a sul do pais, para a população brasileira”. Não há informações sobre a
quantidade de assinaturas que a campanha já coletou.
Leia aqui o manifesto de diversos intelectuais sobre o que
consideram arbitrariedades e abusos cometidos por Joaquim Barbosa na condução
da Ação Penal 470. Além disso, Joaquim Barbosa também divide a comunidade afro.
O deputado Edson Santos, ex-ministro de Promoção da Igualdade, citando o
poeta Cruz e Souza (1861-1898), afirmou que “Os negros que seguram o chicote
para bater em outros negros não são meus irmãos.”
Abaixo o texto
de Ana Alakija na íntegra:
2013:
Será que desta vez caiu o mito?
No Brasil tudo
acaba em samba. No bom sentido, desde que samba é coisa séria, como dizia o
mestre capoeirista baiano Cobrinha Verde. E assim, o ministro do Supremo
Tribunal Federal, Joaquim Barbosa seguiu à risca a letra da cartilha e, com
direito à cervejinha, caiu no Samba do Trabalhador, na última tradicional roda
de samba do ano de 2013 organizada às segundas-feiras no Clube Renascença, no
Andaraí, Rio de Janeiro. O ministro foi recebido como celebridade no local,
considerado um reduto da cultura negra.
Isto soa como
uma pré-campanha à presidência da República – será o ministro Joaquim Barbosa o
próximo primeiro presidente negro do país? Digo isto porque o Brasil, embora um
país mestiço, conserva as características pluriraciais de identidades diversas,
e com uma grande desvantagem para as identidades africanas e indígenas, com
essas populações descendentes à margem do poder político e econômico.
Embora a nação
brasileira esteja comemorando ‘apenas’ dez anos de idade em ações afirmativas –
política implantada durante a administração de Luis Ignacio Lula da Silva – em
dezembro deste ano, o Brasil branco ouviu um Grupo de Trabalho sobre
Afro-Descendentes das Nações Unidas , depois de dez dias de visitar a nação
brasileira, o que o Brasil negro já sabe desde que o país aboliu o sistema de
escravidão, em 1888 : o Brasil não é uma democracia racial.
A conclusão de
um Grupo de Trabalho das Nações Unidas sobre Afrodescendentes após visita de
dez dias à nação brasileira, onde visitou favelas e quilombos de cinco cidades,
com autoridades e representantes da sociedade civil, apontou um grande
contraste entre a precariedade da situação dos negros e o elevado crescimento
econômico do país.
O GT visitou
favelas e quilombos de cinco cidades, com autoridades e representantes da
sociedade civil, e apontou um grande contraste entre a situação precária dos
negros e do elevado crescimento econômico. ” Afro – brasileiros não serão
totalmente considerados cidadãos de pleno direito , sem uma justa distribuição
do poder econômico , político e cultural “, disse Mireille Fanon (da França ) e
Maya Sahli ( Argélia ) , membros desse grupo, como resultados preliminares de
sua visita e cujo relatório conclusivo será apresentado em 2014.
Em comunicado
à imprensa, divulgado pela Agência Brasil, os especialistas da ONU destacaram
que, entre negros e brancos, existem desigualdades de acesso à educação, à
justiça, à segurança e aos serviços públicos. O grupo identificou racismo “nas
estruturas de poder, nos meios de comunicação e no setor privado”. Segundo os
representantes da ONU, apesar de serem metade da população brasileira, os
negros estão “subrrepresentados e invisíveis”.
A constatação
pela ONU, de que o racismo é um problema estrutural na sociedade brasileira,
mostra que o Brasil, para os afro-brasileiros está fazendo a coisa certa. Houve
progressos significativos em 2013 no sentido de colidir com esta realidade .
Não apenas no
campo executivo oficial , como a aprovação e encaminhamento de projetos de lei
nos níveis municipal , estadual e federal instituindo cotas para descendentes
africanos em concursos públicos . Mas outras vitórias sob pressão social, como:
a introdução do curso de Relações Étnico-Raciais no currículo de universidades
federais (essa disciplina é essencial para a formação de professores e profissionais
de ensino para a implantação de outras disciplinas como a História da Cultura
Africana e Afro-Brasileira nos níveis médio e fundamental do ensino conforme
lei aprovada há dez anos e sem funcionamento); e o embargo de recursos públicos
para a compra, distribuição e utilização nas escolas de obras de Monteiro
Lobato (referência da rede particular de ensino do DF, consideradas tão
ofensivas a afrodescendentes quanto a de Mark Twain) “sem que antes se
acrescente uma nota técnica sobre racismo à obra ou pelo menos que existam
medidas concretas para a capacitação de professores em educação étnico-racial”.
Como explica o presidente do Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (Iara) ,
Humberto Adami, e o técnico em Educação, Antônio Costa Neto, autores dos mandados
judiciais impetrados.
Voltando à
cervejinha e o samba desfrutados pelo ministro Barbosa, são bem merecidos .
Vítima de bullying e assédio racial (assim como o presidente Obama e as
práticas abomináveis republicanas do seu Congresso) desde que ele foi nomeado
ministro pelo ex-presidente Lula e, mais tarde eleito presidente do Supremo
Tribunal Federal , no estilo do racismo brasileiro e que, mesmo ele próprio não
tem como provar a acusação ( a lei brasileira contra o racismo está obsoleta ),
o primeiro ministro verdadeiramente negro do STF na história da nação que tem
mais da metade da população composta de descendentes africanos, fez cumprido a
sua missão.
Após
condenação e emissão de ordem de prisão de 25 cidadãos ligados à cúpula do
Partido dos Trabalhadores, o chamado caso “Mensalão” – canal através de onde
transcorria dinheiro, de forma organizada, para políticos aliados com o
objetivo de aprovar matérias do interesse governamental – ele foi vítima de uma
campanha encabeçada por “juristas, intelectuais e personalidades da sociedade
civil”, que assinaram e publicaram um manifesto na Internet e ainda derramaram
artigos e notícias na imprensa contra o que eles consideraram “prisões
ilegais”.
O Brasil dos
afro-brasileiros respondeu à altura, lançando a campanha “Vamos abraçar Joaquim
Barbosa e o STF” através das redes sociais, iniciada em e-black-groups , com o
objetivo de apoiar as ações do presidente do Supremo Tribunal Federal do país e
a moralização do órgão em sua decisão.
Do 247
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