Candidata ao
Senado, Eliana Calmon reclama de que a legislação eleitoral brasileira "é
muito esquisita", pois, em sua interpretação, Dilma e Lula, por exemplo,
conseguem fazer "campanha antecipada" sem punição; "Pela
legislação, eu nem posso dizer que vou ser candidata a senadora... A presidente
Dilma e o ex-presidente Lula estão fazendo propaganda claríssima, na televisão,
de forma que esta Legislação Eleitoral é uma coisa esquisita. São dois pesos e
duas medidas"; Eliana defende necessidade de ampla reforma política,
reclama da "injustiça" que a Rede sofreu por não conseguir registro
no TSE e admite que foi 'apadrinhada' pelo ex-senador e ex-governador ACM no
início de sua carreira no TJ da Bahia
Ex-ministra do
Superior Tribunal de Justiça e pré-candidata a senadora pela Bahia, Eliana
Calmon (PSB), começa sua caminhada político-partidária com investidas altas, já
contra a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula.
Juíza-política
reclama de que a legislação eleitoral brasileira "é muito esquisita",
pois, em sua interpretação, Dilma e Lula, por exemplo, conseguem fazer
"campanha antecipada" sem punição. "São dois pesos e duas
medidas".
"Pela
legislação, eu nem posso dizer que vou ser candidata a senadora, mas como é que
se faz política se a gente não diz o que quer ser? A presidente Dilma e o
ex-presidente Lula estão fazendo propaganda claríssima, na televisão, de forma
que esta Legislação Eleitoral é uma coisa esquisita. São dois pesos e duas
medidas".
Em entrevista
ao site Bahia Notícias, Eliana defende necessidade de ampla reforma política no
Brasil, reclama da "injustiça" que o Rede Sustentabilidade sofreu ao
não conseguir obter registro no Tribunal Superior Eleitoral e admite que foi
'apadrinhada' pelo ex-senador e ex-governador Antônio Carlos Magalhães no
início de sua carreira no Tribunal de Justiça da Bahia.
Abaixo os
principais trechos e aqui a entrevista completa.
Como está a
preparação para a eleição? Já está sendo feito o planejamento de pré-campanha?
Ainda não,
porque a minha filiação aconteceu no dia 19 de dezembro, minha aposentadoria no
dia 18 e eu não posso lutar em duas frentes. Eu estava com a cabeça totalmente
voltada para o Judiciário porque eu queria deixar os processos mais complicados
resolvidos. Trabalhei muito, nos últimos dias, e não pensei em política. Depois
da filiação, vieram as festas de Natal e Ano novo. Combinamos que, a partir da
segunda-feira seguinte, começaríamos. O partido vai alugar uma sala para montar
um escritório, já que não podemos ter comitê até junho, de acordo com a
Legislação Eleitoral. O que eu acho engraçado é que é tudo muito camuflado.
Pela legislação, eu nem posso dizer que vou ser candidata a senadora, mas como
é que se faz política se a gente não diz o que quer ser? A presidente Dilma e o
ex-presidente Lula estão fazendo propaganda claríssima, na televisão, de forma
que esta Legislação Eleitoral é uma coisa esquisita. São dois pesos e duas
medidas. Esta não possibilidade de Marina Silva regularizar a Rede de
Sustentabilidade, por exemplo, foi algo que, para a Justiça, ficou muito
difícil de explicar. Com relação aos partidos, acho que são verdadeiras
camisas-de-força para manter o sistema. Precisávamos modernizar esta
ritualística eleitoral, pois ela faz parte de um sistema que favorece os
candidatos "profissionais". Foi justamente isto que me deu ânimo para
enfrentar [as eleições]. Os profissionais chegam à política e não fazem nada ou
fazem aquilo que não deveriam fazer e nós ficamos a dizer "não tem
candidatos bons, isso é um absurdo!", "Hoje a política é muito feia,
só existe corrupção". A pergunta é a seguinte: E você, cidadão brasileiro,
fez o quê? Ficou com medo de enfrentar isso? Para quem não é profissional do
ramo é muito difícil enfrentar o eleitorado, mas eu acho que nós precisamos
começar, senão não muda. A mudança só vem a partir do momento em que tomamos a
deliberação de querer mudar.
Quando a
senhora tomou a deliberação de querer mudar na política? Quem chegou com o
convite primeiro? O próprio PSB ou outros partidos?
O primeiro
partido que me fez o convite foi o PTN. Eles me deram uma medalha ao mérito
legislativo e depois me convidaram para tomar um café, mas eu não pude ir, pois
tinha uma sessão de julgamento. Recebi a medalha e saí antes de a solenidade
terminar. Depois, me convidaram para outro encontro, eu fui e eles me fizeram o
convite. Naquela época, eu não pensava nisso [candidatar-se a senadora]. Eles insistiram
e eu disse que pensaria. O segundo convite veio do PSB. Eu estava na Bahia,
quando uma pessoa, através de meu irmão, disse que precisava falar comigo. Esta
pessoa disse que Eduardo Campos estava querendo conversar comigo sobre a
possibilidade de um convite para se candidatar ao governo do Estado ou ao
Senado e que as portas do PSB estariam abertas.
Isto foi
quando mais ou menos?
Isto foi antes
de junho, antes das manifestações sociais. A partir daí, aconteceram sucessivos
convites e eu fiquei assustada. A primeira conversa mais séria que eu tive foi
quando o PDT me convidou, através de Cristóvão Buarque [senador pelo DF], e eu
disse para ele que eu achava que eu tinha uma popularidade muito periférica:
pessoas que lêem jornais e sabem o que é o CNJ. Disse, ainda, que eu achava que
não teria uma candidatura que penetrasse no povão. Além disso, que eu ouvia
dizer que uma campanha custa milhões e eu estava saindo da Justiça com um
patrimônio muito pequeno, não tinha dinheiro para gastar em política, de forma
que eu teria de ser carregada pelo partido. Falei também que eu não era mulher
para ficar pedindo dinheiro a empresário e ele disse que eu não me preocupasse.
Todos me acenavam com a possibilidade de ser muito mais fácil a eleição em
Brasília por eu ser mais conhecida, o eleitor ser mais consciente e por não ter
municípios. Cristóvão Buarque chegou a dizer "Eu fiz campanha e dormi na
minha casa todos os dias. Saía para as cidades satélites e voltava".
Algum outro
partido te fez o convite?
O DEM convidou,
através do Agripino Maia [senador pelo RN], o PMDB também convidou, inclusive o
presidente, Valdir Raupp [senador por RO], esteve comigo. Mas todos eles me
empurravam para Brasília e eu comecei a refletir: o que é que eu tenho a ver
com Brasília? O fato de ser fácil se eleger? Eu estou querendo partir para uma
política diferente e já começaria errando, no primeiro passo, se escolhesse uma
cidade que não é minha, onde não tenho raízes. Eu continuo baiana, nunca deixei
de ter casa na Bahia, venho constantemente quando estou estressada porque é
onde eu consigo me energizar. Então decidi que seria candidata pela Bahia, mas
ainda resistindo muito. Depois, vieram os movimentos de junho que me deixaram
muito impressionada, com uma vontade de ir para rua. Se os meus netos fossem
maiores, eu iria e diria: "Eu tinha que tomar conta dos meninos, por isso
que eu fui". Neste momento, eu vi, por meio da TV Senado, quatro gatos
pingados discutindo a situação. Entre eles, Cristóvão Buarque juntamente com o
Pedro Simon [senador pelo PMDB-RS]. Logo depois, assisti uma longa entrevista
de Pedro Simon, na qual ele falava sobre o que vivenciou na República a partir
de Ulysses Guimarães [ex-deputado federal pelo PMDB-RJ e líder da Constituinte
de 1988]. No final da entrevista, ele criticava alguns políticos e o jornalista
perguntou a ele: " Se o senhor tivesse que dar um conselho a um jovem, o
senhor diria para ele se envolver na política ou não?" Ele respondeu que
diria ao jovem que fosse imediatamente, que ligasse o computador e começasse,
nas redes sociais, a fazer política. Ao refletir sobre tudo isto, tomei minha
deliberação. Muita gente me reprovou por eu ter vindo para a Bahia. Diziam que
eu gostava de coisas difíceis e que seria impossível.
Aqui na Bahia,
o DEM dava como certa a candidatura da senhora ligada à oposição. Nas
discussões também foi retomado o discurso do juiz Fernando da Rocha Tourinho
que disse que a senhora pediu a bênção de Antônio Carlos Magalhães para o STJ.
Mas, o ideário do que Eliana Calmon pensa sobre política está mais ligado a um
pensamento de direita ou esquerda? Porque a senhora se filiou ao PSB...
Totalmente de
esquerda. Embora tenham me ligado muito a Antônio Carlos Magalhães, eu nunca
estive ligada a ele. Pelo contrário. Quando eu me candidatei a uma vaga no STJ,
me disseram que ele tinha um candidato: Lázaro Guimarães. Todos os políticos me
perguntavam: a senhora é da Bahia, porque a senhora não está com Antonio
Carlos? Soube que o senador dizia: "Eu não conheço bem esta moça, mas eu
só sei que ela não fez nada pelo carlismo". Terminei indo, por um amigo,
conversar com Edison Lobão [Ministro de Minas e Energia e senador licenciado
pelo PMDB-MA] e Jader Barbalho [senador pelo PMDB-PA]. O Jader disse para mim:
"Eu conheço a senhora, a senhora votou contra mim no caso do polígono dos
castanhais [que foi um processo contra grilagem], mas eu gosto de juiz correto.
Eu vou ajudar a senhora". Eu não acreditei, mas ele ajudou. Durante o
processo, o candidato de ACM não entrou na lista de escolhidos, quem entrou fui
eu concorrendo com Ellen Gracie, do Rio Grande do Sul. Eu soube que já estava
tudo certo para ela ser apresentada como a primeira mulher a entrar no Superior
Tribunal de Justiça no dia 8 de março (Dia internacional da Mulher). Segundo
Jader, Ellen era a candidata do presidente [Fernando Henrique Cardoso]. Liguei
para Edison Lobão e ele disse que apenas uma pessoa desmancharia isso: Antônio
Carlos Magalhães. Entrei em contato com Tomás Bacelar, que foi meu professor,
expliquei a situação e disse que eu precisava de alguém que chegasse até
Antônio Carlos Magalhães e dissesse que, embora eu não fosse a candidata dele,
eu era da Bahia. Pedi também a outros amigos que falassem com o senador, mas
ninguém me dava resposta. Decidi ligar para ele. Consegui o telefone com Josafá
Marinho [ex-senador pelo PFL-BA], liguei a primeira vez, em um domingo, e ele
não atendeu. Um dia, de noite, o telefone tocou. "Doutora Eliana, aqui é
Antônio Carlos." Eu nem acreditei, pensei que fosse trote. "Está nervosa?",
eu respondi: "A alma está saindo pela boca". Ele deu risada e disse
"Fique calma, já tomei todas as providências. Não vai sair nada amanhã,
vai demorar. Não estou prometendo nada, porque o presidente está irredutível,
mas disse a ele que nós precisávamos conversar porque ele tinha um compromisso
com a Bahia. Era doutor Lázaro, mas ele não entrou. Então, vamos ver."
Foram três meses esperando. Algumas vezes, ele ligava e dizia: "Esta
gaúcha está danada, mas estamos no páreo, eu estou insistindo". Neste
período, fizeram dossiê contra mim, disseram que eu julgava contra a União e eu
tive que fazer um contra-dossiê. Foi um inferno. Finalmente, fui eleita pelas
mãos de Jader e Antônio Carlos, porque os dois ficaram unidos. Esta é a
história de Eliana unida a Antônio Carlos. Não tive mais nada a ver com ele.
Este
apadrinhamento já te prejudicou de alguma maneira?
Fiquei muito
preocupada com este apadrinhamento e, no Senado, quando fui sabatinada, disse
que achava muito política a escolha de um ministro de um tribunal superior.
Disse que o escolhido chegava ao cargo comprometido politicamente e, como tinha
muitos interesses para julgar, isto não era bom. Perguntaram se eu havia me
comprometido politicamente. Eu disse que não tive compromisso, mas tive
padrinhos políticos: Edison Lobão, Jader Barbalho e Antônio Carlos Magalhães.
Todos acharam que eu era uma anta política e que eu tinha enlouquecido quando
assumi isto. Mas foi o mais certo que eu fiz, pois, a partir dali, eu não podia
julgar nada que eles tivessem interesse, já que todo mundo sabia que eles
haviam sido meus padrinhos. Antonio Carlos sempre me fez os maiores elogios e
muita gente que ia pedir para ele para que eu interferisse em julgamento, ele
dizia: "Nem a mim ela atende. É melhor não pedir". Eu joguei as regras
do jogo. Eu não poderia ser diferente, senão eu não seria ministra. É diferente
de agora. O que eu acho importante para a nação é a gente mudar as regras do
jogo e eu sei que não é fácil. Mas a população quer mudança e a maior prova
disso foram os movimentos nas ruas. Não estou achando que eu vou ganhar, mas
estou colaborando para uma mudança. Se eu não mudar, eu acho que eu apresso o
processo e isso é o que basta para mim. No Judiciário, eu sempre fiz isto e
quando eu cheguei à Corregedoria, consegui mudar algumas coisas. Este é o meu
objetivo nesta campanha.
Do Brasil 247
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