Opinião é de
Pedro Abramovay, ex-secretário Nacional de Justiça e coordenador do Avaaz, site
que organiza petições online; segundo ele, ao conceder liminar para que
estabelecimentos comerciais escolhessem quem pode ou não entrar em suas
dependências, Justiça oficializou uma política de segregação e só escutou um
lado: o dos donos de shopping-centers, como Carlos Jereissati, do JK Iguatemi,
que barrou suspeitos de rolezinho; lei contra o preconceito é clara e
estabelece penas de reclusão de até três anos para quem impedir o acesso de
qualquer cliente a um local comercial, mas as liminares permitiram um
retrocesso de 25 anos no País
A Justiça
brasileira oficializou uma política de apartheid no País e permitiu um
retrocesso de mais de duas décadas. A opinião é do advogado Pedro Abramovay,
ex-secretário Nacional de Justiça, que escreveu um artigo sobre o fenômeno dos
"rolezinhos" (leia aqui "Liminar que proíbe rolezinho assegura direito à segregação").
Abramovay bate
na mesma tecla da reportagem do 247 "Veto a rolezinho consagra apartheid brasileiro",
que se tornou viral nas redes sociais. "Shoppings são espaços de livre
circulação. Impedir a entrada de alguém em estabelecimento comercial por motivo
de discriminação ou preconceito é crime", diz ele. "Admitir que só
algumas pessoas podem circular por lá, com policiais e oficiais de Justiça
analisando quem pode ou não entrar, oficializa a discriminação."
Na prática, o
Brasil recuou 25 anos com as liminares judiciais que permitiram a
estabelecimentos, como o JK Iguatemi, do empresário Carlos Jereissati, fazer
uma triagem que selecionava quem poderia ou não entrar no estabelecimento –
jovens pretos ou pardos, suspeitos de participar de um rolezinho no último
sábado, foram barrados com amparo legal e ainda estavam sujeitos a multas de R$
10 mil.
Isso contraria
frontalmente uma lei sancionada em 1989, pelo ex-presidente José Sarney contra
o preconceito. O artigo quinto da lei 7.716 é claro e define como crime
"recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a
servir, atender ou receber cliente ou comprador". As penas de reclusão
variam de um a três anos.
Abramovay, que
hoje coordena o site de petições online Avaaz, afirma que apenas um do dos
lados foi ouvido nesta disputa: o dos donos de shoppings, como Jereissati.
"Na verdade, não se trata apenas do conflito entre direito de propriedade
e de manifestação. Trata-se de uma nova agenda de desigualdade que não se
encerra em programas de transferência de renda, mas com questão de como se cria
um país de convivência e não de segregação", diz ele.
Em
solidariedade à segregação oficializada pela Justiça em São Paulo, novos
rolezinhos foram convocados no Rio de Janeiro e em Brasília. Na capital
federal, o alvo é o Iguatemi, também de Jereissati, definido pelos jovens como
"templo da segregação social" nos convites espalhados pelo Facebook.
Do Brasil 247
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