Por Deivison Souza Cruz*
Mal saiu o
resultado do FX-2, escolhido pela presidenta Dilma Rousseff, que as críticas à
escolha do Gripen NG já começaram. Além das já conhecidas – tipo ser apenas um
projeto no papel -, a mais repetida é que o caça da Saab seria incompatível com
a missão de defesa de um país continental como o Brasil. O argumento central da
escolha, ancorado no “bom, bonito e barato” – e vendido apenas a países
pequenos como Áustria, África do Sul, República Tcheca, Suíça e Suécia – é que
seria sinônimo de má qualidade.
Se isso é
verdadeiro, então o Brasil reconhece sua incompetência tanto por manter uma
defesa aérea equipada, e abre mão da dissuasão e desenvolvimento tecnológico, e
reduz suas metas de projeção como potência internacional, candidato que é a uma
cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. As vantagens ditas sobre o
Gripen NG provariam das limitações inerentes do Brasil.
Essa linha de
raciocínio merece uma discussão madura sobre as razões e implicações da escolha
Brasileira. Primeiramente, relembra-se a reconhecida dependência da Embraer de
motores e aviônicos dos EUA, inclusive no caso do novo cargueiro militar
KC-390. Em 2008 o pais firmou contrato com os Franceses para cooperação na
construção do submarino nuclear. Em 2013 houve a compra de baterias antiaéreas
russas (Pantsir S1) e em janeiro de 2014 militares brasileiros irão à Rússia
conhecer as defesas desse pais.
Uma ruptura
brusca não é o cenário desejável. Sabiamente, a estratégia do Ministério da
Defesa tem sido “evitar por todos os ovos na mesma cesta”, mas isso não
significa ter forças armadas estilo Frankenstein. Sem condições de modernizar
sua defesa apenas com recursos nacionais, o alinhamento automático a uma ou
outra potência empurraria o Brasil aos braços uma destas potencias. Há também
disputas entre os países que influenciaram na escolha brasileira.
No caso da
França relembra-se em 2010 a oposição a mediação brasileira com o Irã na
questão nuclear, e a oposição a eleição do diplomata brasileiro Roberto Azevêdo
à presidência da Organização Mundial do Comércio em 2013 criaram tensões que se
somaram ao alto custo dos Rafalle da empresa Dassalt. Embora a Rússia atue com
o Brasil no Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), a Embraer
iria a falência em caso de veto a venda de motores e aviônicos por parte dos
EUA.
O temor a
quebra de contratos por parte dos EUA é plausível mesmo com compensações
comerciais. O veto a venda dos Tucanos à Venezuela em 2006 e posterior contrato
deste país com a Rússia e compra do caças Sukhoi-30 é um bom exemplo. Some
agora o fato das armas dos F-16 do Chile estarem sob controle dos EUA. Em 2013
o episódio de espionagem da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos
(NSA) a contribuiu para azedar o pacote da Boeng (F-18 Hornet).
Há o risco
desta escolha levar a dependência nacional, o que se estende também a França e
em menor intensidade, à Rússia (caso o Brasil optasse pelo Sukhoi ou Pak-Fa 5ª
Geração). Considere agora a Índia e China, que usam intensamente engenharia
reversa e força trabalho barata e qualificada. Esses países possuem, cada uma,
classe média maior em número que a população inteira do Brasil. Embora o Brasil
possua mão de obra qualificada, essa ainda é em número reduzido. Quais as
implicações disso?
Se o Brasil
tentar um “voo solo”, sem parcerias estratégicas, o Brasil demorarpa décadas
para chegue ao nível da Índia e China. É um risco enorme para a defesa
nacional. Ainda que alguns vejam o Gripen NG seja um avião pequeno e barato
para um país pequeno, este - em termos técnicos - cumpriu os requisitos da
Força Aérea. A parceria entre países “médios” e não alinhados, como o Brasil e
Suécia, é uma parceria confiável e ideal.
Não é se
apequenar reconhecer as limitações do Brasil frente aos objetivos que se deseja
alcançar. O resultado do FX-2 reforça o ditado “mais vale um jumento que me
carregue que um cavalo que me derrube”. Por fim, dominado a tecnologia do
Gripen NG, espera-se que Brasil e Suécia construam construção de um jato de
duas turbinas e maior autonomia de ambos no setor de tecnologia de ponta que é
a aviação.
*Deivison Souza Cruz –
É Mestre em Ciência Política (UFMG).
Bom ver publicado aqui um artigo do Deivison - um dos intelectuais mais consistentes que conheci desde que estou em solo capixaba. Uma mente nem sempre fácil de acompanhar - mas se isso desqualificasse intelectual, bem uns 3/4 estariam desqualificados, rsrs
ResponderExcluirObrigado Ralf. Mas só para lembrar que escrevi por puro acaso, para uma "roda de boteco" no face. Neófito completo na área de defesa. Ser intelectual é simplificar as coisas. Se isso for verdade estou no caminho certo. abraços e felicidades
ResponderExcluir