quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Porque o Brasil escolheu o Gripen NG?

Por Deivison Souza Cruz*

Mal saiu o resultado do FX-2, escolhido pela presidenta Dilma Rousseff, que as críticas à escolha do Gripen NG já começaram. Além das já conhecidas – tipo ser apenas um projeto no papel -, a mais repetida é que o caça da Saab seria incompatível com a missão de defesa de um país continental como o Brasil. O argumento central da escolha, ancorado no “bom, bonito e barato” – e vendido apenas a países pequenos como Áustria, África do Sul, República Tcheca, Suíça e Suécia – é que seria sinônimo de má qualidade.

Se isso é verdadeiro, então o Brasil reconhece sua incompetência tanto por manter uma defesa aérea equipada, e abre mão da dissuasão e desenvolvimento tecnológico, e reduz suas metas de projeção como potência internacional, candidato que é a uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. As vantagens ditas sobre o Gripen NG provariam das limitações inerentes do Brasil.
Essa linha de raciocínio merece uma discussão madura sobre as razões e implicações da escolha Brasileira. Primeiramente, relembra-se a reconhecida dependência da Embraer de motores e aviônicos dos EUA, inclusive no caso do novo cargueiro militar KC-390. Em 2008 o pais firmou contrato com os Franceses para cooperação na construção do submarino nuclear. Em 2013 houve a compra de baterias antiaéreas russas (Pantsir S1) e em janeiro de 2014 militares brasileiros irão à Rússia conhecer as defesas desse pais.

Uma ruptura brusca não é o cenário desejável. Sabiamente, a estratégia do Ministério da Defesa tem sido “evitar por todos os ovos na mesma cesta”, mas isso não significa ter forças armadas estilo Frankenstein. Sem condições de modernizar sua defesa apenas com recursos nacionais, o alinhamento automático a uma ou outra potência empurraria o Brasil aos braços uma destas potencias. Há também disputas entre os países que influenciaram na escolha brasileira.

No caso da França relembra-se em 2010 a oposição a mediação brasileira com o Irã na questão nuclear, e a oposição a eleição do diplomata brasileiro Roberto Azevêdo à presidência da Organização Mundial do Comércio em 2013 criaram tensões que se somaram ao alto custo dos Rafalle da empresa Dassalt. Embora a Rússia atue com o Brasil no Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), a Embraer iria a falência em caso de veto a venda de motores e aviônicos por parte dos EUA.

O temor a quebra de contratos por parte dos EUA é plausível mesmo com compensações comerciais. O veto a venda dos Tucanos à Venezuela em 2006 e posterior contrato deste país com a Rússia e compra do caças Sukhoi-30 é um bom exemplo. Some agora o fato das armas dos F-16 do Chile estarem sob controle dos EUA. Em 2013 o episódio de espionagem da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA) a contribuiu para azedar o pacote da Boeng (F-18 Hornet).

Há o risco desta escolha levar a dependência nacional, o que se estende também a França e em menor intensidade, à Rússia (caso o Brasil optasse pelo Sukhoi ou Pak-Fa 5ª Geração). Considere agora a Índia e China, que usam intensamente engenharia reversa e força trabalho barata e qualificada. Esses países possuem, cada uma, classe média maior em número que a população inteira do Brasil. Embora o Brasil possua mão de obra qualificada, essa ainda é em número reduzido. Quais as implicações disso?

Se o Brasil tentar um “voo solo”, sem parcerias estratégicas, o Brasil demorarpa décadas para chegue ao nível da Índia e China. É um risco enorme para a defesa nacional. Ainda que alguns vejam o Gripen NG seja um avião pequeno e barato para um país pequeno, este - em termos técnicos - cumpriu os requisitos da Força Aérea. A parceria entre países “médios” e não alinhados, como o Brasil e Suécia, é uma parceria confiável e ideal.

Não é se apequenar reconhecer as limitações do Brasil frente aos objetivos que se deseja alcançar. O resultado do FX-2 reforça o ditado “mais vale um jumento que me carregue que um cavalo que me derrube”. Por fim, dominado a tecnologia do Gripen NG, espera-se que Brasil e Suécia construam construção de um jato de duas turbinas e maior autonomia de ambos no setor de tecnologia de ponta que é a aviação.

*Deivison Souza Cruz É Mestre em Ciência Política (UFMG).

2 comentários:

  1. Bom ver publicado aqui um artigo do Deivison - um dos intelectuais mais consistentes que conheci desde que estou em solo capixaba. Uma mente nem sempre fácil de acompanhar - mas se isso desqualificasse intelectual, bem uns 3/4 estariam desqualificados, rsrs

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  2. Obrigado Ralf. Mas só para lembrar que escrevi por puro acaso, para uma "roda de boteco" no face. Neófito completo na área de defesa. Ser intelectual é simplificar as coisas. Se isso for verdade estou no caminho certo. abraços e felicidades

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