Por Leandro
Roque
Se 2012 foi o
ano em que as intervenções do governo federal na economia adquiriram um ritmo
frenético (ver detalhes completos aqui e aqui), 2013 foi o ano
em que colhemos as inevitáveis consequências deste frenesi.
Desde que
assumiu a presidência, em janeiro de 2011, Dilma Rousseff e sua equipe
econômica declararam abertamente — e para o total regozijo de seus defensores —
que o Brasil iria adotar uma "Nova Matriz Econômica" (veja aqui uma
notícia de meados de 2011 em que tal política já era mencionada). O real
mentor desta política foi o ex-secretário executivo da Fazenda, Nelson Barbosa,
mas foram Guido Mantega e Márcio Holland seus mais entusiasmados
defensores.
Esta
"nova matriz" era, na realidade, incrivelmente velha e se baseava em
cinco pilares tão sólidos quanto farofa: política fiscal expansionista, juros
baixos, crédito subsidiado, câmbio desvalorizado e aumento das tarifas de importação
para "estimular" a indústria nacional.
Segundo os
proponentes desta "nova matriz", a combinação destes cinco elementos
garantiria ao país taxas de investimento típicas do leste asiático, crescimento
econômico chinês, aumento da renda de fazer inveja aos outros países em
desenvolvimento e um setor industrial de robustez alemã. Tenha a bondade
de conferir a entrevista concedida
por Márcio Holland, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.
E, de fato,
não se pode acusar o governo de inépcia. Todas as políticas prometidas
foram cumpridas.
Os déficits
orçamentários foram crescentes (o governo conseguiu a façanha de apresentar déficits
primários durante dois meses seguidos), as tarifas de importação atingiram
seu maior
nível pós-plano real, os subsídiosconcedidos
pelo BNDES alcançaram recordes históricos, a taxa SELIC foi mantida
durante seis meses em seu menor
valor desde o Plano Real, a desvalorização da
taxa de câmbio foi quase tão acentuada quanto a ocorrida durante a crise de
2008, e o endividamento da população chegou a níveis
recordes.
O que tudo
isso gerou? A consequência mais notável foi o fato de que a inflação de
preços chegou a níveis não vivenciados desde 2003. E, não apenas o
governo inicialmente nada fez contra isso, como ainda seguiu aferrado à ideia
de que "mais inflação gera mais crescimento", o que fez com que ele
passasse a ser corretamente acusado de leniência para
com a inflação.
A
verdadeira inflação de preços no Brasil
Se você também
tem a sensação de que a inflação de preços no Brasil está aumentando a uma taxa
muito maior do que a divulgada pelo IBGE, saiba que esta sua sensação é
real. Os preços dos bens com os quais você lida diariamente de fato
aumentaram sensivelmente este ano, e a uma taxa bem acima da inflação oficial
divulgada pelo IBGE.
Esta
informação sobre o nível da inflação de preços pode parecer estranha, pois não
é amplamente divulgada pela mídia. A realidade, no entanto, é que a
mensuração dos preços no Brasil está amplamente disponível para quem quiser
ver. Justiça seja feita, o IBGE de fato divulga este aumento. O
problema é que a imprensa lamentavelmente se encarrega de divulgar apenas o
valor final ponderado.
Explico melhor: a inflação acumulada em 12 meses para os bens não-comercializáveis — ou seja, todos os produtos e serviços que não sofrem concorrência de importados — está acima de 8,20%, e com picos de 9,70%.
Isso significa
que os preços de todos os serviços — desde serviços médicos até serviços
pessoais, como manicure, cabeleireiro e cursos, passando por coisas como
estacionamento, lavagem de carro, serviços mecânicos, consertos e manutenção —
e de bens como produtos in natura, alimentação fora de casa, aluguel, despesas
com habitação, recreação, cultura, livros, matrícula e mensalidade escolar
estão crescendo a uma taxa acima do teto da meta estipulada pelo Banco Central
(6,50%), e muito acima do valor da inflação oficial divulgada pelo IBGE (5,77%
em novembro).
Os dois
gráficos a seguir mostram a evolução da taxa de inflação de preços dos bens
não-comercializáveis. O primeiro gráfico mostra a taxa mensal e o segundo
mostra a taxa
acumulada em 12 meses.
Gráfico 1: taxa da inflação mensal de preços dos bens não-comercializáveis |
Gráfico 2: taxa da inflação de preços acumulada em 12 meses dos bens não-comercializáveis |
São esses os
preços que você sente diariamente sempre que utiliza algum serviço ou quando
adquire algum bem que não sofre a concorrência de importados. Observe
que, em meados do ano, tais preços cresciam ao ritmo de 9,70% ao ano, o
maior ritmo desde 2003 e o segundo maior desde 1998. Estavam corretas
aquelas pessoas que afirmaram que uma das causas dos protestos de junho deste
ano era a disparada da inflação de preços.
No entanto,
como o IBGE só divulga para a imprensa o valor ponderado de cada
item, e dado que o peso atribuído aos preços dos serviços que são controlados
pelo governo (taxa de água e esgoto, energia elétrica, gás de bujão,
transporte público, combustíveis, plano de saúde, pedágio, licenciamento, IPTU,
IPVA) é relativamente alto, o número final da inflação total acaba sendo
arrefecido, fazendo com que o valor divulgado da inflação de preços total não
seja tão grande quanto o que você realmente sente.
Os dois
gráficos a seguir mostram a evolução da taxa de inflação de preços dos bens
monitorados pelo governo. O primeiro gráfico mostra a taxa mensal e o
segundo mostra a taxa acumulada em 12 meses.
Gráfico 3: taxa da inflação mensal de preços dos serviços monitorados pelo governo |
Gráfico 4: taxa da inflação de preços acumulada em 12 meses dos serviços monitorados pelo governo |
Observe como
eles estão sendo artificialmente mantidos no nível mais baixo desde os primórdios
do real.
Uma das
consequências desta política de "inflação reprimida" pode ser vista
atualmente na situação da Petrobras. De um lado, a desvalorização do real
perante o dólar encareceu sobremaneira o preço do petróleo importado; de outro,
a estatal foi proibida pelo governo de aumentar o preço da gasolina que ela
revende às distribuidores, pois isso afetaria substantivamente o índice geral
de preços.
Resultado:
queda acentuada nos lucros, endividamento recorde da empresa, rebaixamento de
seus títulos de longo prazo e, segundo a administradora de investimentos
americana Macroaxis, 32,4% de probabilidade de falência.
O outro lado
da encrenca está no setor elétrico. Após obrigar as concessionárias a
reduzir as tarifas, o governo teve de arcar com os rombos nos balancetes destas
empresas. A dívida pública aumentou
R$31 bilhões apenas para bancar este populismo.
Uma
palavra sobre o BNDES e as manobras contábeis do Tesouro
Antes de
darmos prosseguimento à análise das outras variáveis da economia, é importante
o seguinte parêntese: um dos principais causadores do descalabro inflacionário
apresentado acima atende pelo nome de BNDES.
O BNDES,
quando despido de toda a propaganda ideológica, não passa de uma perniciosa
máquina de redistribuição de renda às avessas. Uma vez que você entende
como realmente funciona este suposto banco de desenvolvimento, torna-se claro
seu mecanismo espoliativo.
Originalmente,
os recursos do BNDES eram oriundos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador —
fundo destinado a custear o seguro-desemprego e o abono salarial). Só
que, dado que os recursos do FAT advêm das arrecadações do PIS e do PASEP, na
prática os recursos do BNDES eram originados dos encargos sociais que incidem
sobre a folha de pagamento das empresas. Esse dinheiro era então
direcionado para as grandes empresas a juros subsidiados.
Este arranjo,
por si só, já denota um grande privilégio. Por que, afinal, as pequenas
empresas devem financiar os juros subsidiados das grandes empresas?
O problema é
que essa matriz, já ruim, foi alterada para pior a partir de 2009. Se
antes o BNDES se financiava exclusivamente via impostos, agora ele passou a se
financiar também via inflação monetária.
Funciona
assim: como o BNDES não tinha todo o dinheiro que o governo queria destinar a
seus empresários favoritos — como o multifacetado Senhor X —, o Tesouro começou
a emitir títulos da dívida com o intuito de arrecadar esse dinheiro para
complementar os empréstimos.
E quem compra
esses títulos? O sistema bancário. Como ele compra? Criando
dinheiro do nada, pois opera com reservas fracionárias.
O gráfico a
seguir mostra a evolução dos empréstimos do BNDES, atualmente com um saldo de
R$500 bilhões. Observe a guinada ocorrida em meados de 2009.
Portanto, além
de aumentar o endividamento do governo, este mecanismo utilizado pelo Tesouro
para financiar o BNDES também aumenta a quantidade de dinheiro na economia.
Logo, ele espolia duplamente os mais pobres: destrói o poder de compra da moeda
e ainda utiliza os impostos dos pequenos para financiar empresários ricos.
Essas
consequências duplamente perniciosas já foram detalhadamente explicadas por
Fernando Ulrich neste
seu excepcional artigo, de modo que não irei repeti-lo aqui. Basta
apenas dizer que essa operação elevou substancialmente a dívida bruta do
governo (já em quase R$3 trilhões), o que acendeu a luz das agências de
classificação de risco que já estão ameaçando rebaixar a classificação dos
títulos da dívida brasileira.
E a primeira
consequência desta ameaça já está sendo sentida: como alertou a consultoria
Tendências, os títulos do Tesouro brasileiro já estão pagando um "seguro
contra calote" mais alto do que os títulos de Itália, Espanha e Irlanda.
Este seguro é conhecido pela sigla CDS (Credit Default Swap), e fica mais
caro à medida que cresce o risco de um título.
O que colhemos? E
quais as consequências de tudo isso que vivenciamos em 2013?
Além da perda
de credibilidade da
atual equipe que comanda o Banco Central e da chacota
internacional em que se transformou o Ministério da Fazenda, a
leniência do governo para com a inflação e seu intervencionismo exacerbado
fizeram com que o tão prometido crescimento econômico impulsionado pelo
acentuado aumento dos investimentos não ocorresse; com que a taxa de
crescimento do consumo — medido pelas vendas do varejo —caísse
à metade; e com que a massa salarial registrasse a menor
alta desde 2009, ano em que o país estava em recessão.
No momento em
que o governo transmite a ideia de que a inflação de preços não será
devidamente combatida, cria-se uma grande insegurança, o que faz com que o
investimento seja sensivelmente afetado. Isso é algo lógico: para que um
empreendedor decida fazer um investimento de longo prazo, é imprescindível que
ele tenha um mínimo de certeza a respeito do valor futuro da moeda. Mas
se você tem um governo que seguidamente dá demonstrações de que a manutenção do
poder de compra da moeda está longe de ser uma grande preocupação, e que está
disposto a tolerar taxas continuamente altas de inflação de preços, então fazer
investimentos produtivos se torna uma opção extremamente arriscada. O
cálculo dos custos em relação à receita futura estimada se torna um perigoso
jogo de adivinhação. É preferível comprar um título do governo e viver de
juros. É muito mais seguro.
Essa postura
de cautela em relação aos investimentos afeta o crescimento da renda e,
consequentemente, o consumo das pessoas. Para completar o cenário de
pasmaceira, temos o fato de que o endividamento da população chegou a níveis
recordes, o que vem afetando a taxa de crescimento do crédito.
Crédito
x emprego
No nosso atual
sistema monetário e bancário, quando uma pessoa ou empresa pega empréstimo, os
bancos criam dinheiro do nada (na verdade, meros dígitos eletrônicos),
emprestam este dinheiro e cobram juros sobre eles. Ou seja, todo esse processo
de expansão de crédito nada mais é do que um mecanismo que aumenta a
quantidade de dinheiro na economia.
E é esse
processo de aumento da quantidade de dinheiro o que de fato governa os
principais números da economia, como PIB, emprego, renda e inflação de
preços. Um aumento da quantidade de dinheiro na economia, gerado pela
criação de crédito bancário, aumenta a demanda por consumo, por mão-de-obra e
estimula investimentos. Ele faz com que, no primeiro momento, haja uma
grande sensação de prosperidade. A renda nominal aumenta, os
investimentos aumentam, o consumo aumenta e o desemprego cai.
Consequentemente,
a expansão do crédito faz aumentar a demanda por mão-de-obra em todos os
setores da economia, desde indústria e construção civil até os setores de
serviço, varejista e comércio em geral. Todos passam a requerer mais
mão-de-obra e mais recursos por causa do aumento generalizado da demanda gerada
pela expansão do crédito.
Essa disputa
por mão-de-obra e por recursos leva ao encarecimento de ambos. E isso
estimula os números do PIB, do emprego, da renda e da inflação de preços.
Mas, para se
manter esta taxa de "crescimento econômico", é necessário que a
expansão do crédito ocorra a uma taxa crescente. Somente um aumento
contínuo do crédito, ou seja, somente uma aceleração do crédito
permite que os empreendedores de todos os setores mantenham ou aumentem sua
força de trabalho e mantenham ou aumentem seus estoques e suas aquisições de
bens de capital a serem utilizados em novos investimentos.
Somente uma
expansão crescente do crédito permite aos empreendedores continuarem adquirindo
mão-de-obra, bens de capital e acumulando estoques, uma vez que esta mesma
mão-de-obra e estes mesmos bens de capital estão sendo demandados por todos os
setores da economia, justamente em decorrência do aquecimento gerado pela
expansão do crédito.
Isso gera uma
queda no desemprego e um aumento nos preços e nos salários, o que leva à
necessidade de expandir ainda mais rapidamente o crédito para que seja possível
manter este ciclo. Com o tempo, obviamente, toda esta expansão do crédito
irá levar tanto a um aumento do endividamento quanto a um acentuado aumento nos
preços, o que fará com que o Banco Central suba os juros para
"esfriar" essa atividade econômica. Caso a expansão do crédito
seja reduzida — e vale dizer que não é necessário que haja contração do
crédito; basta apenas que ele passe a crescer a taxas menores —, todo este
arranjo "virtuoso" (na realidade, totalmente artificial) se arrefece.
Algo que vem
chamando muita atenção é a resiliência do emprego. Mesmo com o PIB
estagnado, a taxa de desemprego se mantém estável em níveis historicamente
baixos. Mas há explicações.
A primeira é
que, como foi explicado em detalhes neste artigo, os reais
valores do desemprego estão bastante subestimados, e por uma mera questão de
metodologia utilizada pelo IBGE. No entanto, pelo bem do debate e para
evitar quaisquer acusações de manipulação, vamos aqui nos ater exatamente aos
números coletados pelo IBGE.
O gráfico a
seguir mostra a evolução do crédito total concedido ao setor privado (linha
vermelha, eixo da esquerda) e o número de empregados no setor privado (linha
azul, eixo da direita), segundo o IBGE. O crédito total abrange todo o
crédito concedido ao setor industrial, ao setor comercial, ao setor de
serviços, ao setor rural, à compra de imóveis, e às pessoas físicas.
Gráfico 6: Evolução do crédito total concedido ao setor privado (linha vermelha, eixo da esquerda) e o número de empregados no setor privado (linha azul, eixo da direita), segundo o IBGE. |
Analisando os
números absolutos, este gráfico não diz muita coisa. Por isso, o melhor
procedimento é fazer um gráfico que mostra a taxa de crescimento
anual do crédito total ao setor privado e a taxa de crescimento anual
do total de empregados no setor privado (o que deixa de fora os empregos no
setor público).
Gráfico 7: taxa de crescimento anual do crédito ao setor privado (linha vermelha; eixo da esquerda) vs. taxa de crescimento do emprego no setor privado (linha azul; eixo da direita) |
O mecanismo da
expansão do crédito descrito acima pode ser observado no gráfico. Quando
o crédito (linha vermelha) está acelerado, o emprego no setor privado (linha
azul) cresce. Quando ele estagna, o crescimento do emprego
arrefece. E quando o crédito se desacelera subitamente, o emprego se
contrai (vide 2009).
O crescimento
do crédito no Brasil se estagnou no primeiro semestre de 2011 e começou a
desacelerar no segundo semestre. O crescimento do emprego foi
junto. Se em 2010, ano da forte acelerada no crédito (a taxa de
crescimento anual passou de 12% em novembro de 2009 para 21% em novembro de
2010, aceleração de 75% em um ano), o emprego chegou a crescer a taxas maiores
que 6%, atualmente, com o crescimento do crédito tendo arrefecido para 14% ao
ano, o emprego está crescendo à módica taxa de 1% ao ano. A taxa da
expansão do crédito ainda está definitivamente alta para os padrões americanos
e europeus, mas é a mais baixa desde fevereiro de 2010.
(Aquela
recuperação pontual do emprego observada no segundo semestre de 2012 se deve
provavelmente à prorrogação das isenções fiscais concedidas pelo governo à
indústria e ao comércio).
Podemos apenas
especular o que está causando a desaceleração do crédito. A hipótese mais
robusta é aquela que aponta para uma combinação entre endividamento excessivo
da população, perda de confiança — tanto por parte dos bancos quanto por parte
da população — quanto ao futuro da economia, e a inadimplência em níveis
recordes (o que, além de afetar os balancetes dos bancos, torna-os mais
cautelosos).
O gráfico
abaixo mostra o nível de endividamento das famílias em relação à sua renda
acumulada nos últimos doze meses (linha azul) e os gastos das famílias com o
serviço de suas dívidas — ou seja, juros e amortização — em relação à sua renda
mensal (linha vermelha). De acordo com as últimas estatísticas, o
endividamento das famílias é de mais de 45% da sua renda acumulada em doze
meses, e os gastos das famílias para cumprirem o serviço de suas dívidas é de
quase 22% de sua renda mensal.
Tal nível de
endividamento levou a uma inadimplência total de R$85 bilhões, um recorde.
Gráfico 9: inadimplência dos brasileiros junto ao sistema financeiro |
Conclusão
A economia
brasileira está simplesmente colhendo o que plantou nos últimos três anos,
quando a atual equipe econômica decidiu "inovar" e apostar na velha
"nova matriz econômica".
Com as contas
do governo em descontrole, com a dívida pública se aproximando dos 60% do PIB
(isso na metodologia adotada a partir de 2008; na metodologia utilizada até
2007, o valor está em 65% do PIB), com os títulos da dívida já sendo punidos no
mercado estrangeiro, com o real dizimado perante o dólar e o euro, com os juros
em alta (no maior patamar em 18 meses), com a inflação muito acima do centro da
meta, com o custo de vida em ascensão, e com quase 70% dos lares com algum tipo
de dívida, é difícil visualizar uma súbita recuperação sem antes passarmos por
alguma correção mais robusta. Enquanto estas variáveis não forem
equacionadas, não há grandes perspectivas para o crescimento econômico.
Eis uma
notícia interessante, que mostra bem as consequências de um modelo de
crescimento baseado apenas na expansão do crédito:
Os brasileiros
[pessoas físicas] chegam ao fim de 2013 devendo — somente aos bancos — um total
de pouco mais de R$ 1,2 trilhão, o maior saldo da história, segundo dados do
Banco Central (BC)
A situação das
finanças domésticas se complica porque, com base nos números do BC sobre as
operações de crédito, os consumidores têm mergulhado nas dívidas mais caras do
mercado.
O saldo
devedor do cheque especial, por exemplo, é o maior já registrado, com alta
acumulada de 20,9% no ano. Os débitos com o cartão de crédito na modalidade
rotativa — quando se quita apenas o valor mínimo da fatura — cresceram 6,2% nos
10 primeiros meses, mais do que os pagamentos à vista com cartão, nos quais não
incidem juros, com alta de 5,1%.
A soma do que
os brasileiros devem às instituições financeiras representa, hoje, mais de um
quarto (25,8%) do Produto Interno Bruto (PIB).
Até o momento,
o grande trunfo do governo tem sido o de enfatizar a baixa taxa de desemprego.
No entanto, há aí outro problema: se o desemprego está de fato baixo, então a
economia deveria estar crescendo robustamente; afinal, essa seria a
consequência lógica do fato de você ter mais mão-de-obra produzindo e
consumindo. No entanto, isso não está ocorrendo.
Logo, há duas
conclusões possíveis: ou a taxa de desemprego é bem maior do que a oficial,
ou então a mão-de-obra brasileira nunca foi tão pouco produtiva e tão pouco
qualificada.
Com uma
mão-de-obra mal instruída e pouco produtiva, a única solução de curto prazo
seria a redução das tarifas de importação para bens de capital, os quais
poderiam aumentar nossa produtividade no curto prazo. Mas o que a atual
matriz econômica do governo está fazendo é justamente dificultar as
importações, tudo em nome da "defesa da indústria nacional".
Ao final de um artigo semelhante escrito
há exatamente um ano (dezembro de 2012), disse o seguinte:
No Brasil,
além de a qualidade dos serviços no geral ser ruim, a quantidade e a variedade
de bens de consumo é muito baixa, pois além de o governo dificultar ao máximo
as importações, nossa desvalorizada moeda não tem poder de compra em relação às
principais moedas do mundo. E não bastasse a pouca oferta e a pequena
variedade de bens e serviços, o acesso a eles é caro, justamente porque o
governo destrói continuamente o poder de compra da moeda.
Portanto, eis
a realidade atual do Brasil: qualidade da mão-de-obra em queda livre,
quantidade e variedade de bens e serviços bastante insatisfatória, e acesso a
eles cada vez mais caro. Em vez de facilitar a aquisição de bens de
capital, o que poderia remediar a questão da baixa produtividade e da qualidade
dos bens e serviços, o governo dificulta o acesso, tanto por meio de tarifas
quanto por desvalorizações cambiais. E, para piorar, não há absolutamente
nenhuma tendência de melhora na qualidade da mão-de-obra. Esse é o nosso
padrão de vida.
Mais ainda: a
julgar pelas políticas adotadas pelo atual governo no que tange a
protecionismo, câmbio e inflação, não há nenhuma indicação de que isso irá
mudar no futuro próximo.
Plus ça change, plus c'est la même chose.
Leandro
Roque é o editor e tradutor do site do Instituto Ludwig von Mises
Brasil.
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