O projeto
ainda terá de ser examinado no Senado, mas opositores discordam que clientes
são “delinquentes” e as mulheres, as "vítimas". Por Gianni Carta, de
Paris
Por Gianni Carta
na Carta Capital
Blog Dag Vulpi - O projeto de lei contra a
prostituição aprovado na quarta-feira 4 pelos deputados franceses é simplista.
A multa de 1500 euros para os clientes e o “estágio de sensibilização contra a
compra de atos sexuais” torna o homem um delinquente.
As vítimas são
as mulheres, “aparentemente todas elas vítimas do tráfico de seres humanos”. A
lei prevê uma reinserção social das prostitutas.
O projeto de
lei foi adotado por 268 votos favoráveis, 138 contra e 79 abstenções. O texto
será examinado em dezembro no Senado, onde opositores não escasseiam.
De fato, o
país está dividido.
De saída,
nenhuma legenda conseguiu forjar uma posição comum. Nem mesmo o Partido
Socialista: 5 deputados votaram contra e 18 preferiram se abster. Os Verdes
votaram majoritariamente contra a lei. Na agremiação conservadora União por um
Movimento Popular apenas 11 deputados foram favoráveis – 42 se abstiveram
e 101 votaram contra.
Numerosos
deputados e cidadãos não aceitam a comparação postulada pelos “abolicionistas”
de que prostituição seria uma forma de escravidão. O termo “escrava”, de fato,
é aplicável somente às estrangeiras. Em geral são jovens seduzidas por falsas
promessas feitas por traficantes de uma vida melhor na França. Uma vez aqui
seus passaportes são confiscados e vivem apinhadas em cubículos.
É, no entanto,
importante separar o joio do trigo.
Existem máfias
de traficantes de seres humanos que devem ser combatidas, diz a filósofa
feminista Élizabeth Badinter. “Mas se uma mulher quer ganhar em três dias
aquilo que outras amealham em um mês a escolha é sua.” A única condição é que a
mulher não seja forçada a se prostituir.
É claro que
nem todas as prostitutas são jovens estrangeiras e vítimas de traficantes de
seres humanos. Segundo o Strass (Syndicat du Travail Sexuel), a proibição dificultará
a vida das prostitutas. Serão criminalizadas e privadas de proteção devido à
nova lei. Especialmente as estrangeiras.
De acordo com
o Strass, os incentivos para a inserção social das prostitutas não é nada
atraente: 336 euros mensais.
Numerosas deputadas
também remam contra a nova lei. A tribuna Barbara Pompili disse na quarta-feira
4: “Sou feminista, luto contra as violências contra as mulheres, e votarei
contra esse texto”.
É óbvio, há
também feministas favoráveis à nova lei. Ficaram furiosas com os intelectuais
que assinaram uma petição favorável à prostituição intitulada Manifesto
dos 343 Bastardos. A nova petição remete ao manifesto de 1971 da escritora
Simone de Beauvoir no qual “343 putas”, incluindo Catherine Deneuve, admitiram
ter feito abortos. A petição foi crucial para a legalização do aborto.
Os ecléticos
intelectuais usam o slogan “Não mexa com minha puta”, este emprestado de um
movimento chamado SOS Racisme no início dos anos 1990 – “Não mexa com meu
camarada”.
Argumentou
Najat Vallaud-Belkacem, porta-voz do governo e ministra do Direito das
Mulheres: “As 343 putas pediam para usar seus corpos como bem entendessem. Os
343 bastardos demandam o direito de usar os corpos dos outros”. No
entanto, o argumento de Vallaud-Belkacem poderia ser rebatido pela seguinte
frase da deputada Pompili: “As mulheres têm o direito de usar seus corpos como
bem entenderem”.
A sanção
contra clientes agora em vigor na França se inspira no exemplo sueco, onde uma
lei castiga clientes.
Mas a França
sempre foi mais tolerante com a profissão. Toulouse-Lautrec certamente teria
participado do protesto contra a nova lei. No século XIX ele não somente pintou
quadros de meretrizes, mas as frequentava com assiduidade no bairro parisiense
de Pigalle. Degas também pintava moças hoje chamadas de “acompanhantes”. Balzac
lhes dedicou primorosas linhas.
Mas o mundo dá
voltas.
E, apesar da
nova lei, será difícil eliminar os websites a oferecer prostitutas,
especialmente os sites concebidos no exterior para clientes franceses.
Acompanhantes continuarão a receber no ambiente, e não mais em Pigalle.
O que está
ocorrendo é a reestruturação da prostituição. Certo ou errado, a mais antiga
profissão do mundo continuará sendo a mais velha.
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Dag Vulpi