Companhia é
acusada ainda de oferecer profissionais de 'baixa qualidade'. Mais cedo,
intérprete de cerimônia de Mandela alegou que esquizofrênia prejudicou sua
atuação
Por BBC Brasil
O governo da
África do Sul disse nesta quinta-feira (12) que a polêmica empresa que presta
serviços de linguagem de sinais para surdos e que foi contratada para o
memorial de Nelson Mandela tem mentido por anos e fornecido interprétes de
baixa qualidade.
O caso surgiu
após deficientes auditivos da África do Sul denunciarem que o intérprete
Thamsanqa Jantjie usou gestos que não significavam nada. O intérprete esteve ao
lado de oradores comos os presidentes Jacob Zuma, Barack Obama e Dilma Rousseff
na última terça-feira.
Mais cedo,
Jantjie disse ter sofrido um surto de esquizofrenia durante o ato em homenagem
ao líder sul-africano, morto na última sexta-feira. Milhares de pessoas e
dezenas de chefes de Estado e governo de todo o mundo compareceram à cerimônia,
em um estádio em Johannesburgo.
A
vice-ministra de Mulheres, Crianças e Pessoas com Deficiências, Hendrietta
Bogopane-Zulu, admitiu que o caso foi um constrangimento para o governo
sul-africano, mas assegurou que a presença de Jantjie no palco não representou
nenhuma ameaça.
A ministra
também reconheceu que Jantjie não era um intérprete profissional. "Ele não
era capacitado para traduzir do inglês para o xhosa (língua africana) e então
para a língua de sinais", disse.
Esquizofrenia
Em entrevista
à imprensa sul-africana nesta quinta-feira, o intérprete de 34 anos
justificou-se dizendo que teve alucinações durante a cerimônia e que
"ouviu vozes". Isso teria prejudicado a sua concentração.
"Não
havia nada que eu pudesse fazer. Eu estava sozinho em uma situação muito
perigosa", disse Jantjie ao jornal sul-africano Star. "Tentei me
controlar e não mostrar ao mundo o que estava acontecendo. Eu lamento muito. É
essa a situação na qual me encontrei."
Investigação
No entanto, em
entrevista a uma rádio sul-africana, o intérprete – que trabalha para a empresa
SA Interpreters – se disse satisfeito com seu desempenho. "Eu já fui
intérprete em muitos eventos grandes", disse ele à Talk Radio 702.
"Eu acho que eu sou um promotor da linguagem dos sinais."
Seu desempenho
foi duramente criticado por surdos na África do Sul. A política Wilma
Newhoudt-Druchen, a primeira parlamentar mulher surda da África do Sul, disse
no Twitter: "Intérprete ligado ao CNA (partido governista Congresso
Nacional Africano) no palco com vice-presidente do CNA está sinalizando apenas
lixo. Ele não sabe fazer sinais. Por favor, tirem-no dali."
O CNA foi quem
organizou o evento. Jantjie já havia trabalhado em outros dois eventos do
partido no ano passado, que contaram com a presença do presidente do país,
Jacob Zuma.
O Instituto de
Tradutores da África do Sul diz que o intérprete já fora alvo de denúncias no
passado, mas que o CNA nunca tomou nenhuma providência. As autoridades disseram
estar investigando o caso. Na quarta-feira, o governo disse trabalhar para
defender os direitos e a dignidade de pessoas com deficiências.
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