terça-feira, 8 de outubro de 2013

O pecado que Delfim Netto nunca conseguirá explicar

A explicação do ex-Ministro Delfim Netto a O Globo - sobre sua participação na grande crise externa de 1982 - não convence.

Por Luis Nassif no GGN
Antes, é preciso salientar que Delfim Netto é o mais completo economistas surgido no país nos últimos cinquenta anos.

Nenhum outro conseguiu alinhavar conhecimento da teoria com a história econômica, identificar os fatores centrais de desenvolvimento e os limites reais dados pela economia e pela conjuntura.

Quando Mário Henrique Simonsen morreu, incensado pela mídia como "o maior economista brasileiro", fui contra a maré. Simonsen era um esteta da economia, o imenso intelectual que entendia o mundo como a busca do equilíbrio, da perfeição.

Delfim era muito mais. Conhecia as limitações do mundo político, os problemas da mudança de padrão mental dos empresários, além de ser um executivo de primeiríssima, enquanto Simonsen mal conseguia cuidar da própria vida.

Apesar de todos essas ressalvas, a grande crise dos anos 80 foi de responsabilidade pesada de Delfim.

Depois do exílio em Paris, no governo Geisel, Delfim assumiu o Ministério da Agricultura no governo Figueiredo, tendo Simonsen na Fazenda. A crise externa já caminhava célere. Em 1979 sobrevieram os choques do petróleo e dos juros norte-americanos. Havia a necessidade urgente de uma freada de arrumação na economia.

Mas Delfim acenou para Figueiredo aquilo que é o sonho de todo governante despreparado: o crescimento a qualquer custo, para combater a crise.

Venceu o debate interno, Simonsen caiu e Delfim assumiu o Planejamento, ficando Ernanes Galveas na Fazenda.

No início de 1980 soltou um pacote econômico desastroso, talvez o maior até o Cruzado 2. Inspirado pelo economista Adroaldo Moura da Silva, Delfim pretendeu dar uma estilingada nas exportações.

A inflação já se acelerava. Além dela, Delfim criou uma regra salarial que indexava salários a cada seis meses. A política cambial previa um porcento de ganho real de câmbio ao mês.

Delfim montou a seguinte equação:

1. Uma maxidesvalorização de 30%, para estimular as exportações.

2. O fim das minidesvalorizações e o congelamento da OTN (que reajustava contratos e ativos financeiros), para evitar a propagação do câmbio para os preços.

A economia explodiu. Com os preços estourando e a OTN congelada, as empresas passaram a investir furiosamente em estoques, colocando mais lenha na fogueira. Em pouco tempo a inflação comeu a maxidesvalorização.

As contas externas entraram em pane. Para tapar buraco externo, Delfim se valeu das estatais se endividando a pleno vapor. Recorreu a operações de leasing da Petrobras para exportações fictícias. Arrebentou com os controles fiscais e com as contas direcionadas. Explodiu com a conta movimento do Banco do Brasil.

Foi uma luta insana, que só começou a apresentar resultados em 1985, quando os grandes investimento do 2o PND (Plano Nacional de Desenvolvimento) maturaram e o país recobrou os superávits comerciais.

Mas aí já tinha se esgotado seu tempo. De lá para cá, tornou-se o grande referencial de racionalidade no país, cumprindo uma missão imprescindível de apontar caminhos.

Mas não conseguiu ainda a tranquilidade para a autocrítica histórica.

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