A explicação
do ex-Ministro Delfim Netto a O Globo - sobre sua participação na grande crise
externa de 1982 - não convence.
Antes, é
preciso salientar que Delfim Netto é o mais completo economistas surgido no
país nos últimos cinquenta anos.
Nenhum outro
conseguiu alinhavar conhecimento da teoria com a história econômica,
identificar os fatores centrais de desenvolvimento e os limites reais dados
pela economia e pela conjuntura.
Quando Mário
Henrique Simonsen morreu, incensado pela mídia como "o maior economista
brasileiro", fui contra a maré. Simonsen era um esteta da economia, o
imenso intelectual que entendia o mundo como a busca do equilíbrio, da
perfeição.
Delfim era
muito mais. Conhecia as limitações do mundo político, os problemas da mudança
de padrão mental dos empresários, além de ser um executivo de primeiríssima,
enquanto Simonsen mal conseguia cuidar da própria vida.
Apesar de
todos essas ressalvas, a grande crise dos anos 80 foi de responsabilidade
pesada de Delfim.
Depois do
exílio em Paris, no governo Geisel, Delfim assumiu o Ministério da Agricultura
no governo Figueiredo, tendo Simonsen na Fazenda. A crise externa já caminhava
célere. Em 1979 sobrevieram os choques do petróleo e dos juros
norte-americanos. Havia a necessidade urgente de uma freada de arrumação na
economia.
Mas Delfim
acenou para Figueiredo aquilo que é o sonho de todo governante despreparado: o
crescimento a qualquer custo, para combater a crise.
Venceu o
debate interno, Simonsen caiu e Delfim assumiu o Planejamento, ficando Ernanes
Galveas na Fazenda.
No início de
1980 soltou um pacote econômico desastroso, talvez o maior até o Cruzado 2.
Inspirado pelo economista Adroaldo Moura da Silva, Delfim pretendeu dar uma
estilingada nas exportações.
A inflação já
se acelerava. Além dela, Delfim criou uma regra salarial que indexava salários
a cada seis meses. A política cambial previa um porcento de ganho real de
câmbio ao mês.
Delfim montou
a seguinte equação:
1. Uma
maxidesvalorização de 30%, para estimular as exportações.
2. O fim das
minidesvalorizações e o congelamento da OTN (que reajustava contratos e ativos
financeiros), para evitar a propagação do câmbio para os preços.
A economia
explodiu. Com os preços estourando e a OTN congelada, as empresas passaram a
investir furiosamente em estoques, colocando mais lenha na fogueira. Em pouco
tempo a inflação comeu a maxidesvalorização.
As contas
externas entraram em pane. Para tapar buraco externo, Delfim se valeu das
estatais se endividando a pleno vapor. Recorreu a operações de leasing da
Petrobras para exportações fictícias. Arrebentou com os controles fiscais e com
as contas direcionadas. Explodiu com a conta movimento do Banco do Brasil.
Foi uma luta insana,
que só começou a apresentar resultados em 1985, quando os grandes investimento
do 2o PND (Plano Nacional de Desenvolvimento) maturaram e o país recobrou os
superávits comerciais.
Mas aí já
tinha se esgotado seu tempo. De lá para cá, tornou-se o grande referencial de
racionalidade no país, cumprindo uma missão imprescindível de apontar caminhos.
Mas não
conseguiu ainda a tranquilidade para a autocrítica histórica.
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Dag Vulpi