Por Rodolpho Motta Lima
O
artigo do Urariano, aqui no DR, intitulado “A opinião pública e o mensalão”, é
lúcido e competente. Assim, eu deveria poupar os leitores de um posicionamento
talvez redundante diante do julgamento. Contudo, também quero deixar registrada
a minha palavra. Dirijo-a, preferencialmente, não aos petistas convictos, não
aos tucanos empedernidos, não ao pessoal do PIG, nem aos fascistas de
carteirinha. Não que esteja nivelando esses segmentos – são diferentes -, mas
porque pretendo dirigir-me aos que não estão emocionalmente comprometidos por
ódios ou paixões.
Muitas
vezes, como faço agora, tenho-me imposto a obrigação de esclarecer aquilo que,
na realidade, não precisava: não me vinculo a qualquer partido político, porque
não sou capaz de acreditar em nenhum deles. São um mal necessário ao processo
democrático, mas eu me reservo o direito de estar fora deles. O que não
me impede de ter, como tenho, uma ideologia, fundada na crença de que a maioria
das sociedades humanas – a nossa entre elas – é marcada por injustiças,
desigualdades e perversidades de todo gênero. Assim, aplaudir as políticas
sociais de Dilma não me caracteriza como componente do seu partido, mas como
alguém que, no exercício da cidadania, se coloca ao lado de quem busca fazer
mais pelos que têm menos. É simples. É nessa condição independente – mas
ideológica - que analiso os fatos políticos.
Depois
do voto do ministro Celso de Mello, que admitiu, com farta fundamentação legal,
os embargos infringentes, estamos sendo bombardeados por frases de efeito, ora
lamuriosas, ora raivosas, que apontam para a denúncia de uma impunidade que não
está manifesta. O que se discutiu foi o direito ao recurso por parte de quem –
segundo o regimento do Supremo – poderia pleiteá-lo. E aí, meus caros, não
importa saber se o nome do beneficiado é Dirceu ou Marília, porque o que está
em jogo é um princípio básico do ordenamento democrático.
O
problema é que uma parte do público, a que só lê o Globo ou a Veja,
apenas ouve a CBN e somente vê a TV Globo – todos frutos indigestos da
mesma árvore – não procura informar-se com maior profundidade, aceita
passivamente o que lhe é “informado”, acredita piamente nos noticiários
dirigidos e acaba formando um conceito capenga, caolho, unilateral, sectário e
quase fundamentalista.
É
isso que se quer denominar de “opinião pública”: o reflexo da suspeitíssima
opinião de uma mídia notoriamente oposicionista, que não engole a derrocada do
neoliberalismo tucano no país. Mas é sempre bom lembrar: o que mede a “opinião
pública”, em um regime democrático, é o voto, são as eleições de que, mal ou
bem, o público (povo) de um país participa, opinando. E as últimas “medições”
dessa opinião, nas eleições de Lula (segundo mandato) e Dilma, revelam que, ao
contrário do que pretende a mídia, o mensalão não é (nem virá a ser) um fator
determinante dos destinos políticos do país.
E
por que não é? Vejo duas razões: em primeiro lugar, o povo tem votado,
majoritariamente, em quem lhe parece atender melhor às suas necessidades, em
quem tem projetos sociais, em quem procura diminuir desigualdades; em segundo
lugar, o cotidiano desse mesmo povo lhe mostra claramente que a corrupção
no país, infelizmente, é algo enraizado, não é prerrogativa de um partido, e só
pode acabar com uma radical reforma política.
Cidadãos
bem informados e honestos nos seus posicionamentos têm obrigação de clamar, com
a mesma intensidade, pelo julgamento do mensalão tucano mineiro (anterior ao
petista), por averiguações do que foi denunciado no livro “Privataria Tucana”,
pelo desfecho final dos envolvidos no mensalão do DEM (noticia-se que Arruda
será candidato ao governo do DF), pela continuidade e desdobramentos do caso
“Cachoeira”, aí incluído o posicionamento do ex-Senador Demóstenes, um “pilar
da moralidade oposicionista”.
Ou
seja: é preciso tratar isso tudo sem hipocrisia. É preciso que os que destilam
sua raiva contra um caso de suposta corrupção se posicionem quanto a tantas
outras falcatruas, muitas delas envolvendo valores imensamente maiores, em
prejuízos à comunidade.
Assim
como a justiça na democracia, gostemos ou não, não pode dispensar os ritos
determinados pela lei sob pena de se ver implantado o arbítrio, também a
política verdadeira – de que a cidadania não pode prescindir – não se faz
com o ódio fascista de quem não quer ouvir, de quem não quer analisar com
isenção.
Um
posicionamento ilustra claramente o oportunista vale-tudo implantado e que de
ético nada tem: o colunista Merval Pereira, na quarta-feira do julgamento,
fazendo coro à pressão contra o possível voto de Celso de Mello, escreveu: “Não
é mais possível ao ministro dar um voto apenas técnico , já que suas consequências
podem ser graves para a imagem da instituição e, consequentemente, para a
democracia brasileira que o próprio Celso de Mello procurou defender”. Na
quinta-feira, porém, como foi possível ao ministro dar o tal voto, Merval
afirma: “A aceitação dos embargos infringentes tem a vantagem para a democracia
brasileira de impedir que prospere a lenda de que o Supremo Tribunal Federal
fez um julgamento de exceção contra os mensaleiros.”. Que tal?
Registro,
para firmar minha posição, que o julgamento pode vir a ser, sim, de exceção ,
caso a ele não se sigam outros, relativos aos “honrados” políticos de oposição.
Quem acha que não, explique por quê...
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