Mauro Zanatta
/ Brasília - Estadão
No momento em que Estados e municípios tentam acelerar investimentos,
melhorar serviços públicos - demandas que ganharam mais peso após a onda de
manifestações pelo País em junho - e reduzir gastos para manter suas
estruturas, a forte ampliação nas despesas com pessoal nos últimos quatro anos
tem restringido e até neutralizado esses esforços. O alerta abrange 20 das 27
unidades federativas do País e ajuda a elevar as pressões por mudanças na
legislação fiscal.
Levantamento feito pelo Estado a partir dos relatórios de gestão fiscal
enviados ao Tesouro Nacional mostra que essa despesa permanente cresceu acima
da inflação desde 2009. Vinte unidades federativas já superaram 90% do chamado
limite prudencial destinado a gastos com folha salarial (46,55% da receita).
Esse é o segundo dos três tetos previstos para os Poderes Executivos na Lei de
Responsabilidade Fiscal.
A situação deve piorar. Balanço dos primeiros quatro meses de 2013
revela que, na média, o gasto com servidores aproxima-se de 92% do permitido
pela LRF. Até abril, R$ 1,77 bilhão foram adicionados às folhas salariais,
segundo os Estados.
Governadores e prefeitos têm elevado de forma substancial a proporção
dessas despesas nos orçamentos, por vários motivos. De uma lado, tem havido
perda expressiva na arrecadação de ICMS - principal fonte de receita dos
Estados - em razão do ritmo fraco na economia brasileira, e as desonerações
federais, como isenções de IPI, reduzem a verba dos Fundos de Participação de
Estados (FPE) e Municípios (FPM). De outro, há um aumento vegetativo na folha
de pagamento, a redução nas transferências, o engessamento do orçamento com
despesas "carimbadas" e a indexação da dívida por índices
"caros".
"Há uma armadilha, uma compulsão, porque temos crescimento inercial
de 2% a 3% anual com prêmios, promoções. Mesmo sem aumento real, esse gasto
cresce", diz o secretário de Fazenda do Paraná, Luiz Carlos Hauly.
"Se não resolvermos, vamos para um precipício." O Paraná, que elevou
em R$ 4,8 bilhões o gasto com pessoal desde 2009, está próximo de superar o
limite de comprometimento máximo previsto na LRF (49% da receita).
Outro fator que eleva os gastos com pessoal é o aparelhamento político
de Estados e municípios. "Houve aumento dos cargos em comissão nas
secretarias em virtude de acordos políticos, além de aumento dos investimentos
em direitos sociais, como saúde e educação", diz o advogado e professor do
Ibmec-RJ Jerson Carneiro.
Superávit. Neste ano, o governo federal conta com uma boa contribuição
da economia de Estados e municípios para fechar sua conta de superávit. Se
depender das despesas com pessoal, a estratégia corre riscos. "O
relaxamento fiscal federal virou mau exemplo. Os Estados fizeram ajustes, mas
estão mais endividados porque usaram recursos próprios de investimentos para
pagar pessoal", afirma o especialista em finanças públicas do Ibre/FGV
José Roberto Afonso.
Em 2012, os 26 Estados e o Distrito Federal desembolsavam, em média,
43,8% de suas receitas com pessoal. Em 2009, o índice médio era de 42,65%. Com
isso, novos gastos com funcionários estaduais
não poderão passar de R$ 18,8 bilhões.
"Esse aumento acaba com o 'custeio bom', que é compra de remédios,
material de educação, segurança. Estão mudando a lei fiscal por dentro, o pior
que podia ocorrer", avalia Oberi Rodrigues, secretário de Planejamento e
Finanças do Rio Grande do Norte, Estado que também está perto de superar o
limite máximo com pessoal.
Nos últimos quatro anos, esse "G-27" elevou sua folha de
pagamento em R$ 55,7 bilhões em valores nominais, sem descontar a inflação - um
crescimento de 44,2% no período. De 2009 a 2012, o IPCA somou 24,52%. A despesa
per capita anual por funcionário foi de R$ 60.225 em 2012 - o País tinha
3.111.944 servidores públicos no ano passado, segundo o IBGE.
Em São Paulo, o dispêndio com servidores atingiu 91% do limite
prudencial. O Estado registrou o maior aumento nominal entre todas as unidades:
R$ 13,15 bilhões em quatro anos. A Secretaria da Fazenda informa que o
principal motivo foi a revisão salarial e planos de carreira para as áreas de
saúde, educação e segurança, abrangendo 87% dos servidores ativos.
Pressão. É consenso entre Estados e municípios de que há poucas saídas e
muita pressão por mais gastos, como a criação de pisos nacionais para
categorias. No Congresso, uma enxurrada de projetos pode piorar as finanças,
como a PEC 300, que eleva salários de policiais.
Na contramão, o lobby de governadores e prefeitos busca aprovar a
renegociação das dívidas, tentando "descolar" esse debate da reforma
do ICMS, onde não há consenso. Um projeto do líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ),
tem apoio de Estados. Não resolve, mas dá refresco nas contas públicas, segundo
os secretários de Fazenda. O texto prevê reduzir o juro da dívida para 4% e
mudar o indexador, de IGP-DI para IPCA, com teto na taxa básica da economia
(Selic), mas não alivia o comprometimento da receita, pois não estabelece teto
para pagamento de juros e da dívida, previsto na Resolução 43 do Senado.
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