Por Antonio Tozzi, no site Direto da Redação
Pois
é, falavam tanto que o brasileiro era passivo, acomodado, só pensava em
futebol, festa e carnaval que as manifestações pegaram todos de surpesa. E,
quando se fala de surpresa, inclui-se governantes, classe e partidos políticos,
imprensa e polícia. Parece que ninguém foi capaz de antever o movimento que
começou com uma pressão para rever o reajuste das passagens dos ônibus urbanos
e do metrô em São Paulo e se espalhou como um rastilho de pólvora por todo o
país.
Agora,
depois da eclosão do movimento, começam as trocas de acusações entre políticos,
gente que quer apadrinhar-se do fato e ficou exposta a falta de tato das
autoridades e das polícias para se lidar com manifestações populares. A polícia
divide-se em dois extremos – ou desce o cacete indiscriminadamente ou fica
passiva diante de atos de vandalismo -, enquanto os políticos assumem que é
preciso ouvir a voz das ruas e pregam mudanças. O problema é que, na opinião do
povo, quem deve mudar são eles.
Os
analistas também não ficam atrás. Perplexos, ficam acusando-se mutuamente. Os
conservadores dizem que os baderneiros são os “esquerdistas”, enquanto os
setores mais liberais colocam a bagunça na conta dos “direitistas”, como uma
estratégia para desestabilizar o país e ganhar o poder na marra, visto que perderam
nas urnas para “o partido esquerdista que está governando para o povo”.
Na
verdade, todos estão equivocados. É verdade que o Movimento Passe Livre (MPL),
que deflagrou o processo, foi criado por petistas e setores mais à esquerda. O
problema é que ele foi montado para criar dificuldades em São Paulo para os
poderes constituídos com objetivo de desacreditar o governador Geraldo Alckmin
e consequentemente conquistar o governo do estado mais rico da nação,
considerado o último bastião a ser derrubado. De quebra, atacaria também o
então prefeito Gilberto Kassab, aliado de José Serra, considerado o diabo em
forma de gente para os petistas.
As
eleições municipais, no entanto, alteraram o roteiro. Fernando Haddad, do PT,
tornou-se prefeito e o partido obteve um grande trunfo ao vencer a capital
paulista com um político que vem sendo preparado para assumir postos maiores na
política nacional. Porém, ao anunciar o reajuste da tarifa municipal em
conjunto com o governador Alckmin que aumentou o preço da tarifa do metrô,
Haddad entrou na mira do MPL que saiu às ruas para fazer pressão pela redução
das tarifas. Como alguns manifestantes exageraram na pressão, a repressão
policial foi dura e chocou a população brasileira. A consequência disto, todo
mundo sabe qual foi.
Como
os brasileiros já estavam irritados com a situação do país, houve a explosão.
Portanto, de nada adianta dizer que as manifestações são coisas de direita ou
de esquerda – denominações que estão em desuso, sobretudo depois da ascensão do
PT ao poder. O autodenominado Partido dos Trabalhadores traiu seus princípios e
hoje é um dos participantes do festim associando-se ao partidos “de direita
para garantir a governabilidade”. Assim, o vice-governador de São Paulo
Guilherme Afif Domingos também se tornou ministro do governo de Dilma Rousseff,
que tem como vice Michel Temer, do PMDB. Ou seja, a política nacional tornou-se
uma geleia geral que somente serve para confundir os eleitores.
Não
é à toa que os manifestantes estão repelindo a intrusão de partidos políticos
nas manifestações com o claro objetivo de faturar eleitoralmente. Ora, se o
povo está exatamente criticando a politicagem como poderia permitir que
partidos políticos se aliassem às manifestações? Nas ruas, os manifestantes
pedem fim da corrupção, reforma política, mais segurança pública, hospitais
dignos, medicamentos, educação de verdade e ética. Algumas bandeiras de luta
acabam conflitando nas causas sociais, quando o grupo de manifestantes tem
prioridades diferentes em relação ao aborto, homossexualismo e diminuição da
maioridade penal, entre outros itens.
Quem
parece ter entendido a mensagem do povo foi o senador Christovam Buarque. Ele
também está pedindo o fim dos atuais partidos e uma reforma política. Aliás,
esta deve ser a receita para o Brasil se reinventar. Hoje, criam-se partidos
com muita facilidade e políticos trocam de legendas como trocam de camisas. Não
há princípios programáticos nem projetos para melhorar o Brasil.
O
que existe simplesmente é o projeto de poder. O PT faz qualquer coisa para se
manter no poder e os partidos lhe dão apoio em troca de cargos. Assim não é de
estranhar que o governo de Dilma Rousseff tenha 39 ministros. Será que se
precisa de tantos ministérios para se governar um país? Na verdade, isto só
atrapalha, porque são muitas pastas com diferentes prioridades e verbas para
gabinetes, ajudando a diluir o orçamento federal. Ou seja, sacia-se a sede dos
políticos por cargos e verbas em troca de votos no Congresso e tempo na
televisão para a campanha eleitoral, mas frustra-se a ansiedade do povo por
soluções básicas, como saúde, educação, justiça e segurança pública. Hoje, no
Brasil, ser corrupto é fácil. Rouba-se, mas não se é punido. Portanto, por que
as pessoas vão deixar de fazê-lo? A única coisa que impede um sujeito de ser
corrupto é sua ética pessoal.
O
ideal seria extinguir todos os atuais partidos políticos e recriar no máximo
cinco siglas com programas que acomodem as diferentes ideologias. Deveria haver
um partido de ultraesquerda (formado pelos dissedentes do PT); um de
centro-esquerda (PT), um de centro (PSDB), um de centro-dirieta (PMDB) e outro
de ultradireita (juntando os conservadores). Pelo menos, o eleitor saberia a
diferença entre eles.
Ou
a classe política entende o recado das ruas ou corremos o risco de voltarmos ao
tempo de trevas com o ressurgimento da ditadura. Ainda é tempo de mudar, mas os
ponteiros do relógio estão andando bem depressa para os acomodados e espertos
de plantão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua visita foi muito importante. Faça um comentário que terei prazaer em responde-lo!
Abração
Dag Vulpi