terça-feira, 25 de junho de 2013

E o Brasil acordou


Por Antonio Tozzi, no site Direto da Redação
Pois é, falavam tanto que o brasileiro era passivo, acomodado, só pensava em futebol, festa e carnaval que as manifestações pegaram todos de surpesa. E, quando se fala de surpresa, inclui-se governantes, classe e partidos políticos, imprensa e polícia. Parece que ninguém foi capaz de antever o movimento que começou com uma pressão para rever o reajuste das passagens dos ônibus urbanos e do metrô em São Paulo e se espalhou como um rastilho de pólvora por todo o país.


Agora, depois da eclosão do movimento, começam as trocas de acusações entre políticos, gente que quer apadrinhar-se do fato e ficou exposta a falta de tato das autoridades e das polícias para se lidar com manifestações populares. A polícia divide-se em dois extremos – ou desce o cacete indiscriminadamente ou fica passiva diante de atos de vandalismo -, enquanto os políticos assumem que é preciso ouvir a voz das ruas e pregam mudanças. O problema é que, na opinião do povo, quem deve mudar são eles.

Os analistas também não ficam atrás. Perplexos, ficam acusando-se mutuamente. Os conservadores dizem que os baderneiros são os “esquerdistas”, enquanto os setores mais liberais colocam a bagunça na conta dos “direitistas”, como uma estratégia para desestabilizar o país e ganhar o poder na marra, visto que perderam nas urnas para “o partido esquerdista que está governando para o povo”.

Na verdade, todos estão equivocados. É verdade que o Movimento Passe Livre (MPL), que deflagrou o processo, foi criado por petistas e setores mais à esquerda. O problema é que ele foi montado para criar dificuldades em São Paulo para os poderes constituídos com objetivo de desacreditar o governador Geraldo Alckmin e consequentemente conquistar o governo do estado mais rico da nação, considerado o último bastião a ser derrubado. De quebra, atacaria também o então prefeito Gilberto Kassab, aliado de José Serra, considerado o diabo em forma de gente para os petistas.

As eleições municipais, no entanto, alteraram o roteiro. Fernando Haddad, do PT, tornou-se prefeito e o partido obteve um grande trunfo ao vencer a capital paulista com um político que vem sendo preparado para assumir postos maiores na política nacional. Porém, ao anunciar o reajuste da tarifa municipal em conjunto com o governador Alckmin que aumentou o preço da tarifa do metrô, Haddad entrou na mira do MPL que saiu às ruas para fazer pressão pela redução das tarifas. Como alguns manifestantes exageraram na pressão, a repressão policial foi dura e chocou a população brasileira. A consequência disto, todo mundo sabe qual foi.

Como os brasileiros já estavam irritados com a situação do país, houve a explosão. Portanto, de nada adianta dizer que as manifestações são coisas de direita ou de esquerda – denominações que estão em desuso, sobretudo depois da ascensão do PT ao poder. O autodenominado Partido dos Trabalhadores traiu seus princípios e hoje é um dos participantes do festim associando-se ao partidos “de direita para garantir a governabilidade”. Assim, o vice-governador de São Paulo Guilherme Afif Domingos também se tornou ministro do governo de Dilma Rousseff, que tem como vice Michel Temer, do PMDB. Ou seja, a política nacional tornou-se uma geleia geral que somente serve para confundir os eleitores.

Não é à toa que os manifestantes estão repelindo a intrusão de partidos políticos nas manifestações com o claro objetivo de faturar eleitoralmente. Ora, se o povo está exatamente criticando a politicagem como poderia permitir que partidos políticos se aliassem às manifestações? Nas ruas, os manifestantes pedem fim da corrupção, reforma política, mais segurança pública, hospitais dignos, medicamentos, educação de verdade e ética. Algumas bandeiras de luta acabam conflitando nas causas sociais, quando o grupo de manifestantes tem prioridades diferentes em relação ao aborto, homossexualismo e diminuição da maioridade penal, entre outros itens.

Quem parece ter entendido a mensagem do povo foi o senador Christovam Buarque. Ele também está pedindo o fim dos atuais partidos e uma reforma política. Aliás, esta deve ser a receita para o Brasil se reinventar. Hoje, criam-se partidos com muita facilidade e políticos trocam de legendas como trocam de camisas. Não há princípios programáticos nem projetos para melhorar o Brasil.

O que existe simplesmente é o projeto de poder. O PT faz qualquer coisa para se manter no poder e os partidos lhe dão apoio em troca de cargos. Assim não é de estranhar que o governo de Dilma Rousseff tenha 39 ministros. Será que se precisa de tantos ministérios para se governar um país? Na verdade, isto só atrapalha, porque são muitas pastas com diferentes prioridades e verbas para gabinetes, ajudando a diluir o orçamento federal. Ou seja, sacia-se a sede dos políticos por cargos e verbas em troca de votos no Congresso e tempo na televisão para a campanha eleitoral, mas frustra-se a ansiedade do povo por soluções básicas, como saúde, educação, justiça e segurança pública. Hoje, no Brasil, ser corrupto é fácil. Rouba-se, mas não se é punido. Portanto, por que as pessoas vão deixar de fazê-lo? A única coisa que impede um sujeito de ser corrupto é sua ética pessoal.

O ideal seria extinguir todos os atuais partidos políticos e recriar no máximo cinco siglas com programas que acomodem as diferentes ideologias. Deveria haver um partido de ultraesquerda (formado pelos dissedentes do PT); um de centro-esquerda (PT), um de centro (PSDB), um de centro-dirieta (PMDB) e outro de ultradireita (juntando os conservadores). Pelo menos, o eleitor saberia a diferença entre eles.

Ou a classe política entende o recado das ruas ou corremos o risco de voltarmos ao tempo de trevas com o ressurgimento da ditadura. Ainda é tempo de mudar, mas os ponteiros do relógio estão andando bem depressa para os acomodados e espertos de plantão.



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