Por Rodolpho
Motta Lima no site Direto da
Direção
Não quero
entrar no mérito da validade da reivindicação dos jovens nas ruas de São Paulo
e do Rio (principalmente), envolvendo o preço das passagens dos ônibus e a
qualidade do nosso sistema de transporte popular, e propiciando, de quebra,
um interessantíssimo debate sobre a relação entre o lucro capitalista
e os serviços de interesse público. O dado mais relevante nesses episódios , cá
para nós, é que os jovens foram para as ruas, revivendo, simbolicamente, ainda
que em doses pequenas, momentos significativos da história da
participação política no país.
É obvio que a
espontaneidade da maioria dos participantes, que se foram convocando através da
internet, aliada, possivelmente, a uma certa infiltração não desejada, trouxe
para a manifestação alguns episódios que não podem ser aplaudidos, inteiramente
desvinculados do foco das reivindicações. Mas esse é o ônus que tem que pagar a
inexperiência de um movimento ainda sem organização, feito por uma geração que
ainda não tinha participado ativamente de atos políticos de ocupação das
ruas.
É muito
interessante verificar como ficam em cima do muro determinados “analistas” da
mídia. Eles estão divididos entre a vontade de atribuir às manifestações , de
forma oportunista, um caráter de crítica voltada para o Governo Federal e
seus aliados e o medo de que o movimento se estenda a um universo bem
maior , colocando em cheque outros aspectos sistêmicos que caracterizam a
desigualdade social no país.
É sintomático
que a turma da manipulação tente tirar casquinhas indevidas das escaramuças
ocorridas. Na edição deste sábado, 15.06, o Globo coloca como manchete: “Após
semana de batalha, Haddad pede negociação”. E abaixo, sem grandes destaques,
informações como “Alkmin defende PM”, “232 pessoas detidas”, “ mais de uma
centena de feridos”, “fotógrafo atingido por bala de borracha em ação policial
pode ficar cego”. Esse é o jeito usual de “informar deformando”, bem ao gosto
desse jornalismo subserviente. A manchete em letras garrafais vincula a
“batalha” ao “Haddad”,mas a polícia que praticou barbaridades é do Alkmin, o
que “defende PM”. Sutil , não? Registre-se que Haddad tem sido, em
toda a ocorrência, uma voz lúcida, buscando entendimentos.
É também
oportuno não ignorar o recrudescimento de posturas ideológicas de um certo tipo
de gente que simplifica o movimento como sendo apenas coisa de “vândalos” ,
justifica a desmedida e desproporcional violência da tropa de choque da polícia
em nome da “ordem social” – como nos velhos tempos da ditadura - e não
percebe, ou não quer perceber, que talvez se esteja, aqui no Brasil, e
felizmente (por que não?), seguindo a canção que se vem entoando no mundo
inteiro, que convida as pessoas a caminharem e protestarem,
não contra esse ou aquele governo, mas a favor de marcantes interesses
coletivos.
Na esteira da
manifestação tendo os transportes como foco, já surgiu outra, questionando os
elevados gastos dos diversos entes governamentais com a Copa das Confederações.
Já me manifestei sobre esse assunto. Adoro futebol, já o declarei muitas
vezes aqui. Mas o meu prazer começa no primeiro minuto do jogo e acaba quando
se transcorrem os noventa minutos de cada partida. Gosto das táticas, da
técnica, da criatividade e até da malandragem dos jogadores. Gosto do sentido
coletivo que o jogo impõe. Fora das quatro linhas do gramado, porém, quase tudo
é abominável: as negociatas que cercam o esporte, dentro dos clubes e
fora deles, nas entidades nacionais ou internacionais; o processo de alienação
imposto subliminarmente aos brasileiros com a malfadada expressão “pátria de
chuteiras”; essa avalanche de propagandas e exortações na mídia, todos querendo
bicar um pouquinho nessa irônica “festa do povo”; tudo isso me faz
recordar as incontáveis vezes em que tinha que lembrar a um dos meus filhos
que, enquanto ele chorava a derrota do seu clube, provavelmente os milionários
jogadores derrotados comiam e bebiam à farta e divertiam-se com as periguetes
de plantão. Afinal, ninguém é de ferro e paixão sincera pelo futebol é coisa
pra torcedor, de preferência pobre, que está sendo, aliás, desconvidado para
a festa...
Sempre me
preocupo em distinguir aquilo em que acredito – e que me leva a formular
críticas a setores políticos que usualmente aplaudo - das posturas dessa
oposição demotucana que, sem qualquer outra linha programática que não a da
cartilha neoliberal, não perde oportunidade de exercitar seu mau agouro,
alternando dados estatísticos colhidos casuisticamente aqui e ali, para
tentar decretar o insucesso das políticas governamentais da
presidenta Dilma e a volta dos que já foram (ou já eram...). Dilma
foi muito feliz ao evocar a figura do velho do Restelo, referência aos que
torcem ansiosamente pela derrocada do país... Eu, sem qualquer
preocupação diplomática, atualizo a imagem: trata-se das hienas, dos corvos e urubus
de sempre...
Ao criticar
certos aspectos no âmbito do governo, o que eu quero é mais ações que redundem
na minimização das desigualdades e mais canais para as vozes do povo. Bem
diferente dos ideais golpistas da oposição. Não sou petista – e já o revelei
muitas vezes - , mas penso que Dilma – por sua determinação no combate à
pobreza e o seu DNA de ativismo político – pode e deve conduzir esse processo,
da mesma forma que sei que os tucanos e companhia limitada estarão sempre
dispostos a suprimi-lo. Simples assim... Se as reivindicações de rua
aumentarem, não se iludam os golpistas de plantão, isso jamais virá a favor dos
seus propósitos conspiratórios. E, como inimigos declarados das conquistas
populares, pode até chegar a hora deles...
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