A coordenadora
do Programa de Educação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no
Brasil, Maria de Salete Silva, avalia que há, no país, um descompasso entre o
que é ensinado nas escolas e a realidade dos adolescentes. Para ela, isso
explica o elevado índice de evasão escolar entre jovens.
“Por que você
mata aula?”, perguntou a coordenadora a um adolescente que não queria
frequentar a escola. O jovem respondeu: “Eu não mato aula, a escola que me
mata”. “Que menino de 16 anos vai querer estudar em uma turma com menino de 12?
O que temos que fazer é garantir que ele percorra esse fluxo aprendendo”,
defendeu Salete.
De acordo com
ela, há uma “desvinculação da escola com o projeto de vida do estudante”. “Não
se trata propriamente de desinteresse, mas a vida coloca questões que não estão
envolvidas com a escola”. Segundo Salete, para enfrentar esse desafio, as
instituições de ensino devem trabalhar para a “construção da história de vida”
e não apenas mandar estudantes para a universidade ou o mercado de trabalho.
Divulgada no
14º Fórum de Dirigentes Municipais de Educação da União Nacional dos Dirigentes
Municipais de Educação (Undime), a publicação Fora da Escola Não Pode! – O
Desafio da Exclusão Escolar indica que, entre os adolescentes que
abandonam os estudos, a fase mais crítica ocorre a partir dos 15 anos de idade.
Segundo dados
da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2011, com 6 anos,
95,4% das crianças brasileiras frequentavam a escola. Com 12 anos, a proporção
de meninos e meninas que concluíram os anos iniciais do ensino fundamental no
Brasil era 76,2%. A porcentagem diminui com o aumento da idade: 62,7% dos
adolescentes com 16 anos concluíram o ensino fundamental. Entre os jovens de 19
anos, apenas 48,7% terminaram o ensino médio.
O Censo 2010
mostra que o percentual de jovens de 18 a 24 anos que não concluíram o ensino
médio e que não estudavam chegava a 36,5%. Mais da metade (52,9%) abandonaram
os estudos sem completar o ensino fundamental.
Outra questão
levantada no estudo é a formação dos professores. Na educação infantil, 43,1%
dos docentes não têm curso superior. Nos anos iniciais do ensino fundamental, o
percentual é 31,8% e, nos anos finais, 15,8%. No ensino médio, o índice cai
para 5,9%. “A qualificação dos professores é uma grande barreira para garantir
a oferta de uma educação de qualidade aos estudantes brasileiros”, diz a
publicação.
Entre grupos
específicos, o estudo aponta que as crianças e os adolescentes mais atingidos
pela exclusão escolar são aqueles que moram em áreas rurais, os negros, os
índios, os pobres, os que estão sob risco de violência e exploração e os com
deficiência. Isso indica, de acordo com a publicação, que “as desigualdades
ainda existentes na sociedade brasileira impactam diretamente o sistema
educacional do país”.
“É preciso
desafiar os dirigentes a trabalharem junto com as políticas públicas, tem
muitas que podem ajudar. Tem que formar professor e escola”, diz Salete.
O 14º Fórum
Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação da Undime vai até sexta-feira (17),
na Costa do Sauípe (BA). O encontro é o primeiro depois das eleições municipais
de 2012. Ao todo foram feitas mais de mil inscrições de secretários de
Educação, técnicos e educadores de todo o país.
Agencia Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua visita foi muito importante. Faça um comentário que terei prazaer em responde-lo!
Abração
Dag Vulpi