O Ministério
Público Federal (MPF) do Rio de Janeiro denunciou cinco agentes da ditadura
militar que atuaram no sequestro de Mário Alves de Souza Vieira, militante
político que foi detido no dia 16 de janeiro de 1970 e permanece desaparecido.
Os denunciados, segundo o MPF, faziam parte do Destacamento de Operações de
Defesa Interna – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi/RJ).
Após
investigações sobre o desaparecimento de Mário Alves, o ministério denunciou
Luiz Mário Valle Correia Lima, conhecido como tenente Correia Lima; Luiz
Timótheo de Lima, o inspetor Timóteo; Roberto Augusto de Mattos Duque Estrada,
o Capitão Duque Estrada; Dulene Aleixo Garcez dos Reis, tenente Garcez e Valter
da Costa Jacarandá, major Jacarandá.
Na denúncia,
os procuradores pedem que os acusados sejam condenados pelo crime de sequestro
qualificado, com os agravantes de motivação torpe, utilização de recursos que
dificultam a defesa, emprego de tortura, abuso de autoridade, abuso de poder e pelo
fato de a vítima estar sob proteção de autoridade. O MPF requer também “a perda
do cargo público dos denunciados, com o cancelamento de suas aposentadorias ou
qualquer provento de reforma remunerada de que disponham, além da retirada de
medalhas e condecorações obtidas pelos denunciados”.
Os
procuradores pedem ainda que os acusados paguem indenização no valor de R$ 100
mil a título de reparação material à família da vítima.
Prisão
e desaparecimento
Mário Alves
saiu de sua casa no bairro da Abolição, no subúrbio carioca, por volta das 20h,
dizendo a família que retornaria em pouco tempo. Porém, foi capturado e levado
ao DOI-Codi/RJ, localizado no quartel da Polícia do Exército na rua Barão de
Mesquita, na Tijuca, zona norte do Rio.
Segundo a
investigação, Mário foi submetido a várias torturas durante toda a madrugada e,
na manhã seguinte, foi visto por vários presos, sangrando, mas ainda vivo,
quando foi retirado da cela para depois desaparecer. A denúncia do MPF afirma
que Alves sofreu vários tipos de tortura, especialmente por métodos como
choques elétricos, “pau de arara”, afogamento e espancamento.
Para o Supremo
Tribunal Federal, não há prescrição ou anistia do crime, pois o crime de
sequestro é um delito permanente, que continua se consumando durante todo o
tempo em que a vítima é privada de sua liberdade. Para os procuradores, “o
sequestro e encarceramento da vítima nas dependências do DOI-Codi/RJ foi ilegal
porque os agentes jamais estiveram legalmente autorizados a privar pessoas de
sua liberdade indefinidamente, sem comunicação às autoridades judiciárias,
tampouco de fazê-las desaparecer, nem mesmo de acordo com a ordem jurídica
autoritária vigente na data dos fatos”
Líder
comunista
Mário Alves
foi um dos líderes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e dirigiu diversas
publicações da imprensa partidária no início dos anos 60. Em 1964, Mário Alves
foi preso no Rio de Janeiro, tendo sido libertado um ano depois em razão da
concessão de um habeas corpus. Em maio de 1966, teve seus direitos políticos
cassados por 10 anos após um ato do então presidente Castelo Branco.
Posteriormente, após divergências sobre a linha de atuação do PCB, fundou com
outros dissidentes o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR).
Mário Alves
tornou-se alvo do governo brasileiro, tendo sido perseguido e monitorado por
órgãos de inteligência do Estado desde o golpe militar de 1964. A vigilância e
monitoramento das atividades da vítima ficou comprovada pelos documentos
obtidos pelo Ministério Público Federal e produzidos pelos órgãos de
inteligência da repressão. O governo da época referia-se a Mário como
“marginado”, “terrorista” e “subversivo”.
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