quarta-feira, 22 de maio de 2013

Horrores do neoliberalismo

Avó inglesa se mata por não poder pagar “imposto do dormitório”
(protesto contra o imposto do dormitório na Inglaterra)
Por Cynara Menezes, no blog Socialista Morena

Quem paga a conta da crise na Europa? Os pobres, claro. Assim como vem acontecendo na Espanha, onde tem gente se matando por conta dos despejos promovidos pelos bancos, agora é na Inglaterra que começam a aparecer suicidas por questões econômicas. No último dia 4 de maio, Stephanie Botrill, de 53 anos, deu fim à própria vida porque não podia pagar uma nova taxa instituída pelo governo conservador de David Cameron: o “imposto do dormitório” (bedroom tax). Trata-se de um imposto bizarro que vai atingir sobretudo os mais carentes, porque é direcionado às casas e apartamentos administrados pelas prefeituras, onde moram as famílias de baixa renda, pagando aluguel.
Com o novo imposto, as pessoas que vivem nestas casas terão de pagar uma taxa extra de 10 libras semanais por quarto desocupado. Ou seja, se seu filho saiu de casa, você precisa dar uma grana ao governo por isso. Estima-se que mais de 220 mil famílias serão atingidas pelos cortes impostos por Cameron nos benefícios sociais. O primeiro-ministro já passou o facão na educação, saúde e segurança e agora chega à moradia. Obviamente as novas regras têm provocado protestos no país. Sindicatos, oposição e até líderes religiosos se uniram sobretudo contra o malfadado imposto do dormitório, que começou a vigorar no dia 1 de abril.

Stephanie Botrill, que criou os dois filhos como mãe solteira, estava triste por ter que deixar a casa onde viveu durante 18 anos porque não tinha como pagar o imposto. Como os filhos cresceram e foram morar sozinhos, ela teria que pagar, pelos dois quartos vazios, 80 libras a mais por mês (cerca de 245 reais), algo impensável em seu apertado orçamento. Já tinha até empacotado as coisas para ir embora quando tomou a decisão de se matar. Em um bilhete ao filho, Steven, de 27 anos, Stephanie deixa muito claras as razões para o ato desesperado: “Não se culpe porque terminei com a minha vida. Os únicos responsáveis estão no governo”.

Como no Brasil, os jornais ingleses também têm a tradição de não noticiar suicídios, mas, neste caso, como envolvia políticas públicas, abriram uma exceção. Integrantes do gabinete de Cameron tentaram minimizar o caso. Um ministro lamentou a morte “trágica”, mas disse ser “errado” conectá-la às políticas do governo, como se a própria Stephanie não tivesse feito isso em sua carta suicida.

O que mais me impressiona, além da crueldade destas leis supostamente para “resolver” a crise (eu duvido), é a possibilidade de se instaurar no país uma sociedade policialesca a la 1984 de George Orwell –ou à moda do regime stalinista que o livro criticava. Quem vai denunciar os moradores que têm quartos sobrando? Haverá dedos-duros oficiais? Eles serão premiados? Se for feita pelo governo, como será esta vigilância? Todo mês irá um fiscal às casas para verificar quantas pessoas estão lá morando? E o que é pior: para onde irão as pessoas que não podem pagar o imposto do dormitório, como Stephanie? Tristes tempos.

Um comentário:

  1. Via Facebook...

    O capitalismo não tem outra saída a não ser deixar bater no fundo do poço, aumentar o exército de reserva e diminuir gastos sociais para retomar a produção em algum momento. Os governos estão atolados com as dívidas dos bancos que assumiram e não podem fazer uma política keynesiana de investimento. Há uma crise política e de confiança que agrava mais ainda o quadro. E não há uma alternativa anticapitalista cristalizada. Na Grécia e na Itália isso ficou claro.Há muito sofrimento ainda pela frente.

    Marco Lisboa

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