A Organização
Mundial de Saúde (OMS) afirmou que a contratação de médicos estrangeiros pelo
Brasil deve ser vista apenas como uma solução a curto prazo e defende que o
País fortaleça seu sistema de saúde para que seus próprios profissionais possam
suprir a demanda interna. Para Hans Kluge, Diretor da Divisão dos Sistemas de
Saúde e Saúde Pública da OMS, a importação de médicos "não é a
panaceia" e deve ser feita com cautela pelo Brasil para garantir que
médicos de fora tenham treinamento e qualificação adequados para exercer a
medicina no País.
O Ministério
da Saúde estuda trazer milhares de médicos espanhóis, portugueses e cubanos.
Kluge defende que o governo estabeleça acordos bilaterais com os países que
fornecerão essa mão de obra para facilitar sua adaptação em terras brasileiras.
"É
importante que esses profissionais estejam preparados profissional e
pessoalmente para ir para o Brasil", disse ele à BBC Brasil,
acrescentando que a rede de apoio deve continuar depois que esses profissionais
começarem a atuar. "Temos exemplos em outros países de médicos
estrangeiros que depois de dois anos de trabalho acabaram voltando para casa ou
caindo no mercado informal por não ter conseguido se integrar no novo ambiente
de trabalho. Alguns viraram taxistas", exemplifica ele.
Segundo o
Ministério da Saúde, o governo ainda está discutindo os termos do programa de
contratação de médicos estrangeiros e, no momento, está estudando como esquemas
semelhantes foram implantados em outros países.
Grã-Bretanha
O diretor da OMS sugere que a Grã-Bretanha pode ser um exemplo a ser analisado pelo Brasil. Anos antes da criação do Código Global de Prática sobre o Recrutamento Internacional de Profissionais de Saúde da OMS, do qual o Brasil é signatário desde 2003, a Grã-Bretanha já vinha seguindo regras próprias de conduta para auxiliar na contratação de médicos estrangeiros.
Essas regras
se baseiam em parcerias com os países fontes de mão de obra para facilitar a
transferência dos profissionais e garantir que eles sejam reinseridos no
mercado de trabalho se decidirem voltar à sua terra natal.m Além disso, como
parte do comprometimento com as regras do Código de Prática da OMS, na última
década a Grã-Bretanha vem aumentando o número de vagas nas faculdades de
medicina visando aumentar o número de médicos formados no país.
A Grã-Bretanha
conta com uma presença expressiva de médicos estrangeiros em várias áreas da
Saúde desde os anos 60, quando as primeiras levas começaram a desembarcar no
país. A maioria vinha da Índia e do Paquistão, nações fortemente ligadas à
Grã-Bretanha por causa do passado colonial. Até hoje, os médicos desses países,
juntamente com os da África do Sul, encabeçam a lista de médicos estrangeiros.
A Grã-Bretanha
é hoje o país com segundo maior número de médicos estrangeiros (44 mil), atrás
apenas dos Estados Unidos (cerca de 190 mil). Segundo dados do General Medical
Council (GMC), equivalente na Grã-Bretanha ao Conselho Federal de Medicina, os
médicos de fora representam 37% do total de profissionais. Em 2011, mais de 3,8
mil médicos de fora ingressaram no país.
Postos de
trabalho abundantes, combinados a bons salários e à oportunidade de exercer a
profissão em centros de saúde e pesquisas considerados referência mundial, são
os principais atrativos para essa mão de obra estrangeira. De acordo com a
British Medical Association (BMA), um clínico geral na Grã-Bretanha ganha cerca
de 95 mil libras (R$ 293 mil) por ano. Segundo dados da Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), este valor fica acima da média
paga em outros países do grupo, que é de R$ 170 mil por ano. Entre as nações
que integram a OCDE estão Alemanha, Grécia, Portugal e Espanha.
Isso pode
explicar, em parte, por que tantos médicos europeus vêm buscando oportunidades
na Grã-Bretanha. De acordo com o General Medical Council, houve um
"crescimento notável" no número de médicos do continente,
especialmente gregos e espanhóis.
"Apesar
deste cenário não ser muito surpreendente diante do clima econômico
desfavorável nesses países e altas taxas de desemprego, isso nos mostra um
ponto interessante sobre a natureza global da medicina", diz o GMC em seu
último relatório The State of Medical Education and Practice in the UK (O
Estado da Educação e Prática da Medicina no Reino Unido).
Fluência
em idioma
O GMC é responsável pelos registros de todos os médicos que atuam na Grã-Bretanha. Para atuar no país, os médicos estrangeiros devem passar por um controle rigoroso, que inclui validação do diploma do país de origem, pedido para obtenção de uma licença para praticar a medicina, provas de inglês, certificado de boa conduta e documentos que provem a experiência do médico.
As regras
mudam ligeiramente para os profissionais europeus, que não precisam de prova de
inglês para atuar no país. Segundo a GMC, isto causa problemas porque muitos
europeus não são fluentes no idioma, o que pode afetar seu desempenho
profissional e eventualmente colocar a vida de pacientes em risco. Ainda
segundo dados do GMC, 63% dos médicos que tiveram seus registros cassados ou
suspensos na Grã-Bretanha nos últimos cinco anos foram treinados no exterior.
A entidade
concluiu que esses profissionais teriam falhado ao demonstrar suas habilidades
para praticar medicina e tinham conhecimento insuficiente sobre as leis e códigos
que regem o sistema de saúde do país. Desde então, O GMC vem defendendo que o
governo implemente mudanças para que esses profissionais sejam acompanhados
mais de perto no início de suas carreiras na Grã-Bretanha e que os europeus
também passem por testes de inglês para avaliar sua capacidade de comunicação.
Para o diretor
da associação Patient Concern, Roger Goss, que representa os pacientes
atendidos na Grã-Bretanha, a preocupação com o bom nível de português dos
médicos deve ser prioridade para o Brasil. "É essencial que médicos e
pacientes se entendam para não haver confusões sobre diagnósticos e
tratamentos" , disse Goss à BBC Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua visita foi muito importante. Faça um comentário que terei prazaer em responde-lo!
Abração
Dag Vulpi