Por : Antonio Tozzi
A Primavera
Árabe não ficará completa enquanto não houver a deposição do ditador sírio
Bashar Al-Asad. O governante perdeu o apoio dos cidadãos, mas ainda conta com
um exército bem armado ao seu lado. É bem verdade que muitos desertaram e se
uniram aos rebeldes que desejam instalar um novo sistema de governo num dos
mais importantes países do Oriente Médio.
Os
simpatizantes da administração de Al-Asad acusam os rebeldes de serem, na
realidade, guerrilheiros financiados pelas potências ocidentais, sobretudo
Estados Unidos, Inglaterra e França. Se isto for verdade, eles estão com
padrinhos pouco confiáveis. Os soldados do Exército Sírio Livre (ESL) reclamam
por estarem sem armamentos para atacar o que resta das tropas leais do governo
sírio e acabar de vez com esta guerra que está destruindo o país e prejudicando
a população.
Seria ingênuo
pensar que não há algum tipo de abastecimento de armas e munição para os
rebeldes, fornecido pelos ocidentais, que desejam a saída do ditador sírio que
tanto mal vem causando ao país. Mas os rebeldes querem mais. E precisam de
mais. Eles formam um exército de Brancaleone com ex-civis que se alistaram nas
forças rebeldes por terem visto uma ótima oportunidade para se livrarem da
ditadura da família Asad que governa a Síria com mão de ferro há mais de meio
século.
Apesar da
simpatia do povo em geral, depor o ditador não é tão simples. Além de controlar
as forças armadas, Asad conta com a simpatia de outras potências, como Rússia e
China, que faturam muito comercializando armamentos e munição com a Síria. Tem
ainda o Irã, que teme perder um aliado de peso na região, e os terroristas do
Hezbollah, que são financiados pelo governo de Asad. Sem o dinheiro vindo da
Síria, eles devem perder o poder no Líbano e, assim, a oposição que tem um
discurso mais moderado pode retomar o controle do Líbano, país que sempre foi
modelo de paz e tranquilidade, mas acabou sendo tragado pela instabilidade
política da região, instigada pelo fanatismo religioso, Aliás, a maioria da
colônia sírio-libanesa que emigrou para o Brasil é cristã e fugiu de lá para
evitar represálias e em busca de novas oportunidades de trabalho.
O duro é que
os líderes ocidentais atuam mais como torcedores do que como agentes de
mudança. Evidentemente, ninguém quer envolver-se em outra guerra. Barack Obama,
presidente dos EUA, está empenhado em completar a retirada das tropas americanas
do Iraque e do Afeganistão, enquanto luta para fechar a prisão de Guantánamo,
em Cuba, para onde são levados os acusados de causar atos terroristas que não
sejam cidadãos americanos. Os governantes da França e da Inglaterra tampouco
pretendem enviar soldados para lá. Assim, quem sofre é a Síria, envolta numa
batalha fratricida que impede o restabelecimento de uma nova ordem social e
econômica no país.
Outro fator
importante é o temor de que o aliado de hoje transforme-se no inimigo de
amanhã. Não faltam exemplos disto. Os americanos armaram e treinaram os
guerrilheiros afegãos para combaterem o exército soviético que invadiu o país
na década de 80 numa tentativa de anexar o Afeganistão como outra república
soviética. O resultado todos sabem, a União Soviética não só foi humilhada
pelos guerrilheiros afegãos como viu o império ruir e a consequente
independência da maioria de suas repúblicas.
Os EUA, antes
vistos como redentores, passaram a serchamados de o Grande Satã pelos membros
do Al Qaeda e do Taliban. Aí, foi a vez da maior potência do mundo sentir que
era impossível ganhar esta guerra e optar pela retirada das tropas, depois de
muitas mortes dos dois lados e destruição do país, sem ter conseguido erradicar
completamente as duas organizações terroristas.
Episódio
parecido ocorreu no mês passado com as bombas que explodiram perto da linha de
chegada da Maratona de Boston. Elas foram fabricadas e disparadas por dois
irmãos chechenos que viviam há muito tempo nos EUA. Um deles, inclusive, era
até mesmo cidadão americano,
O irônico é
que o serviço secreto russo já havia alertado a CIA e o FBI sobre as atividades
terroristas de Tamerlan Tsarnaev (o irmão mais velho), o qual estaria ligado a
um grupo de radicais islâmicos. Por que os russos alertaram? Por um motivo
simples: os chechenos foram autores de vários atentados em cidades russas por
estarem inconformados com a ingerência dos governantes russos em seus assuntos
internos. Claro que as forças armadas e policiais da Rússia mataram muitos
rebeldes chechenos, entre eles alguns líderes.
Ou seja, nem
EUA, nem França, nem Inglaterra querem meter a mão diretamente nesta cumbuca
para evitar também um êxodo de sírios para seus países, que hoje precisam lidar
cada vez mais com os islâmicos e com seus hábitos, bastante diferentes daqueles
adotados pelos ocidentais.
Seria esta a
chamada bomba demográfica que destruirá o mundo, como prevêem os mais
alarmistas?
Via Direto da
Redação
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua visita foi muito importante. Faça um comentário que terei prazaer em responde-lo!
Abração
Dag Vulpi