terça-feira, 7 de maio de 2013

Carnificina na Síria: triste realidade


Por : Antonio Tozzi
A Primavera Árabe não ficará completa enquanto não houver a deposição do ditador sírio Bashar Al-Asad. O governante perdeu o apoio dos cidadãos, mas ainda conta com um exército bem armado ao seu lado. É bem verdade que muitos desertaram e se uniram aos rebeldes que desejam instalar um novo sistema de governo num dos mais importantes países do Oriente Médio.

Os simpatizantes da administração de Al-Asad acusam os rebeldes de serem, na realidade, guerrilheiros financiados pelas potências ocidentais, sobretudo Estados Unidos, Inglaterra e França. Se isto for verdade, eles estão com padrinhos pouco confiáveis. Os soldados do Exército Sírio Livre (ESL) reclamam por estarem sem armamentos para atacar o que resta das tropas leais do governo sírio e acabar de vez com esta guerra que está destruindo o país e prejudicando a população.

Seria ingênuo pensar que não há algum tipo de abastecimento de armas e munição para os rebeldes, fornecido pelos ocidentais, que desejam a saída do ditador sírio que tanto mal vem causando ao país. Mas os rebeldes querem mais. E precisam de mais. Eles formam um exército de Brancaleone com ex-civis que se alistaram nas forças rebeldes por terem visto uma ótima oportunidade para se livrarem da ditadura da família Asad que governa a Síria com mão de ferro há mais de meio século.

Apesar da simpatia do povo em geral, depor o ditador não é tão simples. Além de controlar as forças armadas, Asad conta com a simpatia de outras potências, como Rússia e China, que faturam muito comercializando armamentos e munição com a Síria. Tem ainda o Irã, que teme perder um aliado de peso na região, e os terroristas do Hezbollah, que são financiados pelo governo de Asad. Sem o dinheiro vindo da Síria, eles devem perder o poder no Líbano e, assim, a oposição que tem um discurso mais moderado pode retomar o controle do Líbano, país que sempre foi modelo de paz e tranquilidade, mas acabou sendo tragado pela instabilidade política da região, instigada pelo fanatismo religioso, Aliás, a maioria da colônia sírio-libanesa que emigrou para o Brasil é cristã e fugiu de lá para evitar represálias e em busca de novas oportunidades de trabalho.

O duro é que os líderes ocidentais atuam mais como torcedores do que como agentes de mudança. Evidentemente, ninguém quer envolver-se em outra guerra. Barack Obama, presidente dos EUA, está empenhado em completar a retirada das tropas americanas do Iraque e do Afeganistão, enquanto luta para fechar a prisão de Guantánamo, em Cuba, para onde são levados os acusados de causar atos terroristas que não sejam cidadãos americanos. Os governantes da França e da Inglaterra tampouco pretendem enviar soldados para lá. Assim, quem sofre é a Síria, envolta numa batalha fratricida que impede o restabelecimento de uma nova ordem social e econômica no país.

Outro fator importante é o temor de que o aliado de hoje transforme-se no inimigo de amanhã. Não faltam exemplos disto. Os americanos armaram e treinaram os guerrilheiros afegãos para combaterem o exército soviético que invadiu o país na década de 80 numa tentativa de anexar o Afeganistão como outra república soviética. O resultado todos sabem, a União Soviética não só foi humilhada pelos guerrilheiros afegãos como viu o império ruir e a consequente independência da maioria de suas repúblicas.

Os EUA, antes vistos como redentores, passaram a serchamados de o Grande Satã pelos membros do Al Qaeda e do Taliban. Aí, foi a vez da maior potência do mundo sentir que era impossível ganhar esta guerra e optar pela retirada das tropas, depois de muitas mortes dos dois lados e destruição do país, sem ter conseguido erradicar completamente as duas organizações terroristas.

Episódio parecido ocorreu no mês passado com as bombas que explodiram perto da linha de chegada da Maratona de Boston. Elas foram fabricadas e disparadas por dois irmãos chechenos que viviam há muito tempo nos EUA. Um deles, inclusive, era até mesmo cidadão americano,

O irônico é que o serviço secreto russo já havia alertado a CIA e o FBI sobre as atividades terroristas de Tamerlan Tsarnaev (o irmão mais velho), o qual estaria ligado a um grupo de radicais islâmicos. Por que os russos alertaram? Por um motivo simples: os chechenos foram autores de vários atentados em cidades russas por estarem inconformados com a ingerência dos governantes russos em seus assuntos internos. Claro que as forças armadas e policiais da Rússia mataram muitos rebeldes chechenos, entre eles alguns líderes.

Ou seja, nem EUA, nem França, nem Inglaterra querem meter a mão diretamente nesta cumbuca para evitar também um êxodo de sírios para seus países, que hoje precisam lidar cada vez mais com os islâmicos e com seus hábitos, bastante diferentes daqueles adotados pelos ocidentais.

Seria esta a chamada bomba demográfica que destruirá o mundo, como prevêem os mais alarmistas?

Via Direto da Redação


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