O governo
brasileiro anunciou que vai cancelar ou renegociar cerca de US$ 900 milhões em
dívidas de países africanos, em uma tentativa de estreitar as relações
econômicas com o continente.
Entre os 12
países beneficiados estão o Congo-Brazzaville, que tem a maior dívida com o
Brasil - cerca de US$ 350 milhões, Tanzânia (US$ 237 milhões) e Zâmbia (US$113
milhões).
As transações
econômicas entre Brasil e África quintuplicaram na última década, chegando a
mais de 26 bilhões no ano passado.
O anúncio foi
feito durante a visita da presidente Dilma Rousseff à África - a terceira em
três meses - para participar, na Etiópia, do encontro da União Africana para
celebrar os 50 anos da instituição.
Além dos três
países já citados, também serão beneficiados Senegal, Costa do Marfim,
República Democrática do Congo, Gabão, República da Guiné, Mauritânia, São Tomé
e Príncipe, Sudão e Guiné Bissau.
'O sentido
dessa negociação é o seguinte: se eu não conseguir estabelecer negociação, eu
não consigo ter relações com eles, tanto do ponto de vista de investimento, de
financiar empresas brasileiras nos países africanos e também relações
comerciais que envolvam maior valor agregado', disse Dilma. 'Então o sentido é
uma mão dupla: beneficia o país africano e beneficia o Brasil.'
Estratégia
De acordo com
o porta-voz de Dilma, Thomas Traumann, quase todas as negociações envolvem
cancelamento das dívidas. O restante, segundo, ele envolve menores taxas e
prazos mais longos de pagamentos. 'Manter relações especiais com a África é
estratégico para a política externa do Brasil', disse. Ele afirmou ainda que
praticamente o total das dívidas foi acumulado nos anos 70 e já havia passado
por outras renegociações.
O Brasil vem
expandindo suas relações econômicas com a África, que é rica em recursos
naturais, na chamado coperação Sul-Sul. As negociações entre Brasil e países
africanos subiram de U$ 5 bilhões em 2000 para US$ 26,5 bilhões no ano passado.
Na África,
empresas brasileiras investem pesado em setores como o petrolífero e o de
mineração e em grandes obras de infraestrutura. O Brasil também abriu 19 novas
embaixadas na África na última década.
Problemas
No entanto, a
sede do Brasil por recursos naturais também é alvo de críticas, especialmente
no que diz respeito à atuação de empresas nacionais no continente.
Em artigo
sobre a relação Brasil-África publicado em janeiro, o instituto Think Africa
Press diz que a crescente ação de empresas brasileiras no continente pode sujar
a 'marca' do país na região. 'Agentes privados com agendas distintas estão se
tornando cada vez mais visíveis, e há um risco de que isso prejudique o projeto
político do Brasil de se retratar como um parceiro que sempre prioriza o
benefício mútuo num espírito de cooperação e igualdade', diz o texto.
Um dos
principais exemplos ocorreu no mês passado, quando centenas de manifestantes em
Moçambique bloquearam o acesso a uma mina de carvão da Vale. O grupo era
formado por trabalhadores que diziam não ter recebido toda a indenização que
haviam acordado com a empresa após serem realojados com o início das operações
da mina.
A Human Rights
Watch, ONG que defende os direitos humanos, afirma que eles foram realojados
para terras áridas, onde não conseguem produzir, e por isso vêm sofrendo com
falta de alimentos. A Vale e o governo de Moçambique prometeram melhoria para
os trabalhadores.
A empresa
também enfrenta resistência na Guiné, onde obteve licença para explorar uma
reserva de minério de ferro. Em julho, moradores ocuparam um acampamento da
empresa, acusando-a de descumprir acordo para a contratação de funcionários de
etnias locais. Seis manifestantes foram mortos por soldados do governo em ação
que, segundo políticos locais, contou com o respaldo da empresa.
A empresa nega
qualquer participação no ocorrido na Guiné e diz buscar melhorar as condições
de moradia das famílias deslocadas por sua operação em Moçambique.
Já em Angola,
quem enfrenta problemas é outra companhia nacional, a construtora Odebrecht.
Ativistas a criticam por manter negócios com políticos locais. A empresa nega
ilegalidades.
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R7
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