O desejo de
construir uma família e vivenciar a maternidade quase sempre está ligado a
partilhar a mesma herança genética. Mas para muitos isso nem sempre é possível.
Por isso, para tornar realidade esse sonho a opção é adotar, uma atitude que
une o desejo de ter um filho com o direito de cada criança de ter uma família.
Dados dos
Cadastro Nacional de Adoção (CNA) mostram que atualmente existem cerca de 30
mil pessoas (homens e mulheres) dispostos a receber cerca de 5.500 pessoas como
seus filhos. Para algumas pessoas, a legislação engessa o processo, diminuindo
as chances da criança ou do adolescente encontrar um novo lar.
De acordo com
a supervisora substituta da Seção de Colocação em Família Substituta da Vara da
Infância e Juventude do Distrito Federal, Niva Campos, o que mais dificulta é o
fato de as pessoas querem adotar, majoritariamente crianças recém-nascidas
deixando de lado as mais velhas.
“Mais de 95%
dos pretendentes hoje querem adotar uma criança em tenra idade. Então
praticamente a pessoa tem a fila inteira a sua frente. Se a pessoa vier a se
interessar a adotar um adolescente provavelmente vai ser a primeira da fila,
pois não temos famílias disponíveis para o acolhimento de adolescentes,
explicou à Agência Brasil.
Niva esclarece
que com a nova legislação, as pessoas interessadas tem que passar por um
processo de habilitação, antes de serem incluídas no cadastro e que, muitas
vezes, a demora se deve ao perfil de criança escolhido. Os dados do CNA mostram
que do total de pessoa habilitadas 15,69% querem adotar somente crianças
recém-nascidas, 18,96% crianças com um ano de idade e 20,35% com dois anos. “A
questão etária restringe muitas vezes a inclusão das crianças nas famílias,
pois a partir dos seis anos de idade cai o número de candidatos interessados”,
observa Campos.
Não é o o caso
da arquiteta e funcionária pública Patrícia Garcia Melasso, mãe biológica de
uma adolescente de 17 anos ela resolveu adotar uma criança para ampliar a
família. “Sou divorciada e quando minha filha cresceu mais um pouco nós
retomamos a ideia. Quando ela fez 15 achamos que era um momento ideal, disse
Patricia que desde setembro de 2012 ganhou uma nova filha: Vitória.
“Escolhi uma
menina, [com idade entre 2 e 8 anos]. Eu sabia que viria uma criança mais
velha. No final de agosto fui habilitada pelo juiz. Saiu uma sentença dizendo
que eu poderia ser mãe adotiva e quando foi em outubro me ligaram da comarca de
Ipatinga para saber se eu tinha interesse em conhecer a Vitória. Filho a gente
não escolhe, né.”
Patricia diz
que trilhou um caminho mais curto, por ter escolhido um perfil mais amplo de
criança. Entre a entrada com o pedido e o encontro com Vitória passou pouco
mais de um ano. “Achei super rápido. sempre falavam que era muita burocracia,
que demorava demais. Mas [o processo] confirma o que tudo mundo diz: depende
muito do perfil que a gente coloca”, observa.
A informação é
confirmada pela Vara da Infância e Juventude. De acordo com Niva Campos, a
legislação privilegia o cadastro e consequentemente o perfil para evitar o que
acontecia antes, as adoções dirigidas em que a mãe entregava o filho para outra
família adotar.
“A adoção
dirigida era muito prevalente antes da lei. Era em torno de 80% das adoções.
Ela esclarece que muitas vezes, existia uma relação desigual entre a mãe que
entregava o filho e a família adotante. “É uma relação de poder desigual entre
que adota e quem entrega.
Para evitar
este tipo de situação, atualmente as pessoas precisam passar por um processo de
habilitação. Ao manifestar a intenção de adotar, a pessoa deve procurar a
defensoria pública para entrar com o pedido, que vai ser analisado pelo juiz,
sem custos. Em seguida, o interessado passa por um curso e é submetido a um
estudo psicossocial. Nessa etapa, é elaborado um relatório que será encaminhado
ao Ministério Público e ao Judiciário.
Depois dessa
análise, o juiz diz se o candidato está habilitado. Durante o processo
verifica-se a disponibilidade do candidato e o perfil de criança que ele quer
adotar. Uma vez habilitado, ele vai aguardar na fila do cadastro, de acordo com
o perfil elaborado.
“É importante
que a pessoa seja o mais honesta e mais verdadeira com o seu desejo, para que a
compatibilização [com a criança] seja concreta, para que não se inicie o estágio
de convivência e depois se quebre, o que vai gerar mais sofrimento para a
criança”.
Antes da
apresentação da criança à possível família adotante, ambos passam por uma
preparação com o apoio de psicólogos e assistentes sociais. “Depois da
liberação da criança, se tudo der certo, o juiz vai deferir a guarda provisória
e o acompanhamento posterior. Em, geral ele fixa em três meses esse
estágio". Nesse período também é feito um acompanhamento, com um trabalho
direcionado para estas famílias, feito em grupo e essas pessoas podem se
beneficiar da experiência de outras pessoas que já estão em outra fase do
processo, explica.
Patrícia conta
que a preparação foi fundamental na sua experiência com Vitória. “Logo que a
criança chega a gente fica alucinado pra dar amor, pra querer fazer carinho,
mimar e tudo o mais. Mas essa é a fase em que a criança começa a fazer aqueles
testes pra querer ver se a gente quer ser mesmo mãe, faz birra, [tem] mudanças
súbitas de comportamento, [para] ver se a gente vai abandoná-la ou não”.
Patrícia lembra que Vitória, atualmente com 8 anos, já está plenamente adaptada
à nova vida.
De acordo com
Niva Campos, a preparação é necessária porque a adoção está focada na proteção
dos direitos de crianças e adolescentes, muito mais do que nos interesses dos
adultos. Patrícia conta que viu muita gente desistir durante o processo de
preparação.
“Eu vi gente
no curso da Vara da Infância levantar e ir embora quando [ouviu] a primeira
frase dita: 'A gente não está aqui para resolver o problema de vocês, a gente
está aqui para resolver o problema da criança'. Isso me marcou tanto, porque na
verdade inicialmente eu queria resolver o meu problema de aumentar a família
também".
Hoje, Patrícia
reconhece que o curso muda a visão dos candidatos a adotar, que deixam de se
ver como a parte prioritária do processo e cedem o lugar para quem realmente
tem prioridade: a criança.
Agência Brasil
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