sexta-feira, 22 de março de 2013

Pastor da Maranata usou 'visão' para justificar desvio


Dinheiro foi usado para a compra de equipamentos eletrônicos

Equívoco

Para o advogado da Maranata, Sérgio Carlos de Souza, Deus não mostra caminhos para fazer algo errado. Refere-se ao uso equivocado da “visão” por parte de quem cometeu irregularidades.


Para os maranatas, a visão é um momento espiritual especial. Funciona como uma manifestação divina. Uma revelação. Surpreendente, documentos colhidos nas apurações sobre os desvios de recursos provenientes da Igreja Maranata estabelecem uma ligação entre esse lado espiritual e outro, bem mais material. Notas de compra do lote de documentos investigados trazem a anotação de “visão”, indicando que a transação foi aprovada por conta de um momento espiritual especial.

Isso ocorre, por exemplo, com uma nota de compra de equipamentos eletrônicos para a igreja. A anotação está em um dos recibos investigados por fazerem parte de um esquema de corrupção para desviar recursos provenientes do recolhimento
do dízimo, montado na cúpula da instituição. 

Existe um envolvimento de pastores, diáconos e até fornecedores no esquema. O desvio foi  identificado em uma investigação da própria igreja e foi parar na Justiça. UM dos nomes citados é o do vice-presidente da instituição, Antônio Ângelo Pereira dos Santos.

Pelas estimativas iniciais da própria Maranata, o rombo pode chegar a R$ 21 milhões. Mas a ação já protocolada na Justiça pede o ressarcimento de R$ 2,1 milhões.

 A compra que teve o auxílio de uma “visão”  foi para adquirir 300 projetores pelo valor de R$ 330 mil. Parte desse total foi adiantada ao fornecedor.

Para o advogado da Maranata, Sérgio Carlos de Souza, essa pode ser mais uma situação que faz parte do conjunto de irregularidades que foram praticadas contra a instituição. “Deus não mostra caminhos para fazer algo errado. Para acobertar um procedimento ilícito, a pessoa conta qualquer tipo de história”, pontua.

Ele assinala ainda que apesar da gravidade dos fatos – referindo-se aos desvios –, a Igreja Maranata está tranquila por ter a certeza de que todas as providências estão sendo adotadas para preservar a instituição e ressarcir os prejuízos ocasionados pelo desvio.

Afastamento
A forma como as denúncias vêm sendo apuradas pela Maranata acabou causando insatisfação em um grupo de fiéis, que decidiu abandonar a igreja. O grupo também protocolou denúncias em vários órgãos, pedindo que o caso seja investigado. 

“As pessoas passaram a assistir a um culto frio que outrora não era, em que se procura defender mais ideais institucionais”, argumenta Leonardo Lamego Schuler, advogado do grupo dissidente. A “visão” faz parte do rito espiritual da igreja. A compra que  teve o auxílio dessa experiência  foi para adquirir 300 projetores pelo valor de R$ 330 mil. Parte desse total foi adiantada ao fornecedor.

Mudança

Leonardo Lamego Schuler, advogado do grupo dissidente da Maranata, garante que os cultos se tornaram um centro de tentativa de justificação de fatos cometidos pelo homem.

Presença
706 mil fiéis
É o número de membros da Igreja Maranata no Brasil. Em 2000, segundo o Censo do IBGE, eram 98.640. 
2.378 pastores
Atuam nos 4.709 templos espalhados por todo o Brasil. No Espírito Santo são 838, para 1.669 igrejas.

Indignação nas redes sociais
A indignação dos fiéis da Igreja Maranata ganhou a internet e as redes sociais. Centenas de comentários foram registrados no Facebook, em comunidades no Orkut, além de blogs.

Os que se decepcionaram com o esquema de corrupção montado na cúpula da igreja manifestavam suas insatisfações e críticas. “Pelo visto, a liderança da Maranata perdeu a crença em Deus”, diz um post do Orkut.

Em paralelo, são rebatidos pelos que ainda permanecem na igreja e defendem suas crenças. “Para desespero da maioria, mesmo com os últimos acontecimentos, a Igreja Maranata continuará existindo e talvez até cresça mais com a saída de alguns pastores”, pontua outro post do Orkut.

Nova igreja
Entre os blogs, um dos mais ativos é o Cavaleiro Veloz.  O autor – que pede para não ser identificado – foi membro da igreja na época de sua fundação. Chegou a ser pastor até ser expulso, “por revelação”, como afirma, em 1987. 

Desde então vinha escrevendo artigos em várias comunidades no Orkut até que, em 2009, resolveu criar o blog. Nele faz questão de divulgar todas as informações sobre as irregularidades cometidas na Maranata, bem como críticas as ações que a igreja adota.

No mesmo espaço, fiéis que já abandonaram a Maranata começaram a trocar informações e a perguntar aos líderes dos dissidentes que já fundaram uma nova igreja – a Louvai – sobre a criação de filiais em outros municípios da Grande Vitória.
Gazeta online

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