O lucro e a impunidade são dois
fatores que ainda impulsionam o trabalho escravo contemporâneo no país. A
afirmação foi feita hoje (28) pelo procurador-geral do Trabalho, Luís Antônio
Camargo, em entrevista ao programa Revista Brasil, da Rádio Nacional
AM de Brasília, na data que marca o Dia Nacional de Combate ao Trabalho
Escravo.
“O trabalho escravo contemporâneo
ocorre porque há impunidade e um lucro muito grande. Qualquer empresário que
tem trabalhadores, que cumpre a legislação, tem custo com relação a isso. Ele
paga os trabalhadores, assina a carteira, recolhe Fundo de Garantia [FGTS] e
tantos outros benefícios que a lei aponta. Esse empresário cumpridor da
legislação, respeita [a lei]. Aquele que não cumpre a legislação acaba tendo um
lucro fabuloso. É lucrativo para quem explora o trabalhador”, explicou.
Segundo o procurador, cerca de 40
mil trabalhadores foram libertados ao longo desses últimos anos de situações
análogas à escravidão. Entretanto, ainda há uma ...
grande dificuldade na punição
desses crimes. “Não conseguimos eliminar esta situação. Nós reprimimos, nós
avançamos, mas ainda temos dificuldade.
Especialmente na esfera criminal, não
temos o mesmo sucesso que na esfera cível trabalhista. Então, fica parecendo
que há uma impunidade. Se você aliar essa lucratividade e [o fato de] os
criminosos ficarem impunes, parece que é interessante praticar esse crime”,
argumentou Camargo.
Luís Antônio Camargo também lamentou a
decisão da juíza substituta da 9ª Vara da Justiça Federal em Belo
Horizonte, Raquel Vasconcelos Alves de Lima, de remeter o julgamento da Chacina
de Unaí para a Vara Federal da cidade, local em que o crime ocorreu e onde os
principais réus têm grande influência política e econômica.
“Nos últimos dias tivemos essa
lamentável decisão e eu já obtive a informação de que o Ministério
Público está preparando um recurso para enfrentá-la. Nós ficamos com
uma angústia de desenvolver as atividades [...] e em um momento como este, em
que era absolutamente crucial se dar uma resposta rápida, mais uma vez passamos
para a sociedade uma sensação de impunidade, de que as pessoas poderão
continuar a fazer isso e não serão punidas”.
Conhecido como Chacina de Unaí, o
caso envolve o assassinato de três auditores fiscais do trabalho e um motorista
do Ministério do Trabalho mortos a tiros em 28 de janeiro de 2004, quando
faziam fiscalização de rotina em fazendas do município, situado a cerca de 500
quilômetros da capital mineira e a apenas 160 quilômetros da região central de
Brasília (DF).
“Não se pode admitir que o Estado
seja violentado, afrontado e desrespeitado como aconteceu no caso de Unaí. O
crime aconteceu em janeiro de 2004 e já estamos em janeiro de 2013 e o Estado
ainda não deu uma resposta, ainda não responsabilizou criminalmente as pessoas
que participaram do crime”, disse Camargo.
O procurador ressaltou ainda que o
combate ao trabalho escravo deve ser feito por meio da repressão e com formação
educacional e profissional do trabalhador. “Esses trabalhadores envolvidos em
rede de trabalho escravo são, em regra, analfabetos ou analfabetos funcionais.
É preciso que essas pessoas tenham acesso à educação para que possam ter uma
qualificação profissional. Se nós conseguirmos dar a essas pessoas uma
alternativa, uma qualificação profissional, nós permitiremos que elas não sejam
envolvidas nessa rede de exploração”, explicou.
Camargo ressaltou ainda a
dificuldade de trabalho dos auditores fiscais diante do tamanho do país e
criticou a falta de servidores que atuam no combate a esse tipo de crime no
país. “O número de auditores fiscais do trabalho no Brasil é muito reduzido, é
um número muito abaixo das dimensões do país. Nós temos vários exemplos de
grandes marcas famosas que se utilizaram de mão de obra escrava para vender
roupa de grife. É absolutamente necessário termos mais auditores fiscais do
trabalho, mais servidores no Ministério Público do Trabalho e mais procuradores
do Trabalho para que a sociedade seja atendida na sua absoluta necessidade”,
disse.
Agência Brasil
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