Cientistas brasileiros descobriram o mecanismo responsável pela
associação entre a doença de Alzheimer e a depressão. Na prática clínica,
observa-se que uma das manifestações psiquiátricas mais comuns do paciente com
Alzheimer são transtornos depressivos, que também atuam como fatores de risco
importantes para a doença degenerativa. O que não se conhecia até agora era o
mecanismo molecular exato por trás dessa relação.
O estudo da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) concluiu
que neurotoxinas chamadas oligômeros de abeta, presentes em maior quantidade no
cérebro dos pacientes com Alzheimer, são capazes de levar a sintomas de
depressão em camundongos. O tratamento desses roedores com antidepressivo
reverteu o quadro depressivo e melhorou a memória.
A descoberta, que abre a possibilidade de investigar mais a fundo
a eficácia da indicação de antidepressivos em fases iniciais do Alzheimer, foi
publicada na revistaMolecular Psychiatry, do mesmo grupo que publica a Nature.
Os oligômeros, estruturas que se agregam formando bolinhas, atacam
as conexões entre os neurônios, impedindo o processamento de informações. Como
são solúveis no líquido que banha o cérebro, eles se difundem, atacando o órgão
em várias regiões. Pesquisas anteriores demonstraram que os oligômeros são os
principais responsáveis pela perda de memória nas fases iniciais da doença.
Para testar a hipótese de que eles também provocam depressão, os
cientistas aplicaram a toxina nos cérebros de camundongos. Após 24 horas, os
animais foram submetidos a testes que identificaram comportamentos depressivos.
Mediante o tratamento com fluoxetina, o quadro foi revertido.
"Uma boa surpresa do estudo foi que a fluoxetina também teve
efeitos positivos na memória", diz um dos líderes do estudo, o pesquisador
Sergio Ferreira, do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ.
Segundo o neurologista Ivan Okamoto, membro da Academia Brasileira
de Neurologia, quem não tem histórico de depressão e desenvolve um quadro
depressivo com idade mais avançada tem de três a quatro vezes mais risco de
desenvolver Alzheimer.
Agora, de acordo com Ferreira, o desafio é entender por que os
oligômeros levam também à depressão. "Observamos que eles induzem uma
reação inflamatória no cérebro dos animais. É possível que essa reação esteja levando
à depressão, mas os dados ainda não permitem garantir isso."
Para o neurologista Arthur Oscar Schelp, da Unesp (Universidade
Estadual Paulista), é difícil reproduzir o Alzheimer em modelos animais, por
isso a transposição do que se descobre nos roedores para os seres humanos ainda
é difícil. Ele observa que a depressão predispõe ao surgimento de muitas
doenças.
(UOL)
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