Lisboa - Os brasileiros
formam a
maior colônia de estrangeiros em Portugal. Em março de 2011, conforme
o censo, havia 109,7 mil brasileiros. Há tantas pessoas procedentes do país que
as brasileiras com 34 anos, solteiras, com ensino médio e trabalhando em
serviço de limpeza formam
o perfil prevalente entre os imigrantes.
Filipa Pinho - Homens na construção, no comércio e na restauração, mulheres no comércio, bares e restaurantes, serviços. Não era uma questão de não interessar aos portugueses, era porque havia trabalho: muitos investimentos em infraestruturas para o Euro 2004, quer em construção, quer em serviços associados.
ABr - Os imigrantes brasileiros estão retornando? Pode-se dizer que está ocorrendo um esvaziamento da imigração brasileira? Esse fenômeno tem a ver com a situação econômica de Portugal e do Brasil?
Filipa Pinho - Há: quem está empregado e constituiu família, esse tenderá a ficar. Desempregados, como muitos portugueses, considerarão outras hipóteses migratórias, passem elas pelo retorno ou por uma reemigração.
ABr - Conheço casos de imigrantes brasileiros que voltaram para o seu país e depois retornaram a Portugal, por que isso acontece? Pode voltar a acontecer?
Filipa Pinho - Quando vieram, muitos imigrantes eram jovens. Entrevistei pessoas que vieram com 18, 19, 20 anos, que começaram a sua vida de trabalho e adulta em Portugal. Pode ocorrer que voltem para o Brasil e não se adaptem ou não encontrem trabalho... Não sei, esse caso específico eu não estudei, só posso fazer alguma reflexão sobre o que ouvi.
Os brasileiros
que vieram para Portugal, especialmente na última década, foram atraídos pela
perspectiva de emprego em áreas que não exigiam qualificação, como a construção
civil, os serviços de bar e restaurante e o emprego doméstico. Com a crise
econômica, essas atividades perderam dinamismo e já pode ser notado um
movimento de retorno entre os que se empregaram nesses setores.
A socióloga
Filipa Pinho, coordenadora da equipe técnica do Observatório da Emigração e
doutora pelo Instituto Universitário de Lisboa (Iscte-IUL), não acredita porém
que haverá um regresso em massa para o Brasil porque muitos estabeleceram
raízes em Portugal, aguardam a autorização de residência definitiva ou podem
buscar emprego em outros países da Europa. A seguir, a entrevista da especialista
à Agência Brasil.
Agência Brasil (ABr)
- Qual o perfil socioeconômico dos brasileiros que foram para Portugal na
última década?
Filipa Pinho -
Os brasileiros que emigraram na última década - sensivelmente desde o fim dos
anos 1990 - inseriram-se majoritariamente no segmento menos qualificado do
mercado de trabalho, os setores da construção, de restauração, comércio e
serviços. Isso, independentemente de alguns terem habilitações superiores ao
que lhes era pedido. Grande maioria veio sem visto - não é necessário quando
vem a turismo - e permaneceu além do prazo estabelecido para turista (90 dias).
A regularização se deu ao abrigo de ações extraordinárias ou decorrentes de
acordos com o Brasil (como o acordo Lula em 2003).
ABr - O que
esses brasileiros ambicionavam quando vieram para cá?
Filipa Pinho -
De acordo com as entrevistas que fiz, vinham em busca de oportunidades de
melhoria de vida, em uma época em que se queixavam do desemprego no Brasil e em
que havia chances de trabalho em Portugal. Na época em que começaram a vir, em
geral a partir de Minas Gerais, deu-se a coincidência de os controles para os
Estados Unidos terem se tornado mais rígidos, de o euro estar forte em relação
ao real e, como disse, de haver oportunidades de trabalho. A informação foi
passada por meio das redes de amizade e parentesco, e os migrantes que iriam
para os Estados Unidos vieram para cá. Para outros, que nunca tinham pensado em
ir para os Estados Unidos pelo fato de não saber a língua, Portugal se tornava
uma hipótese atrativa.
ABr - A
língua foi a principal motivação para escolherem Portugal?
Filipa Pinho -
Foi um conjunto de circunstâncias: oportunidades de trabalho, facilidade em
entrar no país, controle rígido da fronteira nos Estados Unidos, euro alto em
relação ao real/dólar, a língua, o fato de conhecerem pessoas em Portugal etc,
entre outras
ABr - Em
que atividades esses brasileiros se ocupavam? Essas ocupações não interessam
aos portugueses?
Filipa Pinho - Homens na construção, no comércio e na restauração, mulheres no comércio, bares e restaurantes, serviços. Não era uma questão de não interessar aos portugueses, era porque havia trabalho: muitos investimentos em infraestruturas para o Euro 2004, quer em construção, quer em serviços associados.
ABr - Os imigrantes brasileiros estão retornando? Pode-se dizer que está ocorrendo um esvaziamento da imigração brasileira? Esse fenômeno tem a ver com a situação econômica de Portugal e do Brasil?
Filipa Pinho -
Não necessariamente "em massa". Por um lado, podem estar retornando
ou indo para outros locais, como os portugueses, por causa do desemprego. Se
tiverem autorização de residência, o problema é maior porque a renovação dessa
autorização só é feita se houver contrato de trabalho. E, quando não há... Mas
os brasileiros podem ter permanecido até esgotar o período do subsídio ao
desemprego, por exemplo. Por outro lado, haverá muitos brasileiros empregados,
com famílias constituídas em Portugal, para quem não fará sentido sair do país.
Se tiverem obtido a nacionalidade portuguesa, mesmo a situação de desemprego
não os torna ilegais, portanto poderão permanecer. Teremos de esperar novas
estatísticas dos próximos anos para perceber os efeitos da crise na população
brasileira residente em Portugal. Mas, assim como os portugueses que estão
deixando o país, o mesmo pode acontecer com brasileiros, é claro. O fluxo de
entrada tem estagnado, sim.
ABr - Há
quem parta, mas há quem fique. Há diferença de perfil desses imigrantes
brasileiros?
Filipa Pinho - Há: quem está empregado e constituiu família, esse tenderá a ficar. Desempregados, como muitos portugueses, considerarão outras hipóteses migratórias, passem elas pelo retorno ou por uma reemigração.
ABr - Conheço casos de imigrantes brasileiros que voltaram para o seu país e depois retornaram a Portugal, por que isso acontece? Pode voltar a acontecer?
Filipa Pinho - Quando vieram, muitos imigrantes eram jovens. Entrevistei pessoas que vieram com 18, 19, 20 anos, que começaram a sua vida de trabalho e adulta em Portugal. Pode ocorrer que voltem para o Brasil e não se adaptem ou não encontrem trabalho... Não sei, esse caso específico eu não estudei, só posso fazer alguma reflexão sobre o que ouvi.
ABr - Com
as dificuldades de conseguir emprego em Portugal, é possível dizer que
imigrantes brasileiros poderão disputar trabalho com os portugueses?
Filipa Pinho -
Pessoalmente, tenho muita dificuldade em ver essa situação como uma disputa. Há
oportunidades ou a falta delas e um conjunto de residentes para as preencher.
Eles ocuparão as vagas de acordo com a capacidade para fazer o trabalho. Há
profissões em que os brasileiros ganharam visibilidade e estão bem
conceituados, como manicures ou na restauração, mas desconheço se ganharão ou
perderão quando se trata de contratar brasileiros ou portugueses. Não conheço
casos concretos que possam servir de exemplo. (EBC em Portugal)
21/11/2012 -
Brasileiros formam a maior colônia de estrangeiros em Portugal, aponta censo
Lisboa – Os brasileiros formam a maior colônia de estrangeiros residentes em Portugal. De acordo com o Censo 2011 (resultados definitivos), há 109,7 mil brasileiros (o que equivale a 28% dos 394,4 mil imigrantes). Depois do Brasil, o maior número de estrangeiros residentes em Portugal vem de Cabo Verde (10%), Ucrânia (9%) e Angola (7%).
Responsável pelo Censo 2011, o Instituto Nacional de Estatística (INE), órgão equivalente ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgou poucos dados sobre o perfil socioeconômico dos imigrantes. O relatório, no entanto, assinala que a população estrangeira (principalmente a brasileira) foi fundamental para que Portugal tivesse crescimento demográfico nos últimos dez anos.
De 2001 a 2011, a população portuguesa cresceu em torno de 200 mil pessoas (atingindo mais de 10,5 milhões de pessoas). No mesmo período, o total de brasileiros passou de 31.869 para 109.767.
Além do peso demográfico, a população estrangeira se destaca por ser mais jovem que a população portuguesa residente e, portanto, encontra-se em plena atividade produtiva. Segundo o censo, 82% dos estrangeiros são adultos em idade ativa contra 66% dos portugueses. De cada dez portugueses, dois têm mais de 65 anos (há 128 idosos para cada grupo de 100 jovens de até 25 anos). O contingente populacional idoso é dependente das políticas de proteção social que estão sendo reduzidas por causa da contenção de despesas públicas.
Apesar de os números terem sido levantados em março de 2011, é possível que os dados já estejam desatualizados por causa da crise econômica. Dois meses depois da realização do censo, Portugal recorreu a empréstimos externos e teve que implantar medidas de austeridade fiscal, que resultaram em aumento de desemprego (hoje em torno de 16% da população economicamente ativa).
Não há estatística oficial sobre a saída de estrangeiros de Portugal, mas a imprensa de Lisboa usa como estimativa o número de 80 mil pessoas deixando o país este ano. O montante inclui brasileiros e outros imigrantes que voltam às suas origens buscando melhores oportunidades de trabalho (Brasil e Angola, por exemplo, vivem melhor momento econômico que Portugal).
Segundo o INE, mais da metade da população de Portugal não trabalha (a taxa de atividade é de 48%). A maioria da população lusitana é formada por mulheres (52,2%) - como ocorre no Brasil - e está concentrada em 33 municípios, geralmente próximos ao litoral – em especial, nas regiões metropolitanas de Lisboa e do Porto (as principais cidades do país).
Na comparação com o Brasil, Portugal tem um perfil educacional mais qualificado. De acordo com o censo, mais da metade dos portugueses concluiu nove anos de estudos (equivalente ao ensino fundamental no Brasil); 31% completaram o ensino médio e 15% têm curso superior.
No Brasil, segundo o IBGE (Censo 2010), o percentual de pessoas sem instrução ou com o fundamental incompleto chega a 50,2%. Cerca de 7,9% da população brasileira tem curso superior completo.
EBC em Portugal
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