Brasília
– Menos de 20% das vagas para médicos oferecidas pelo Programa de Valorização
do Profissional da Atenção Básica (Provab) foram preenchidas no primeiro ano de
vigência do programa. Das 2 mil vagas abertas para atuação na saúde básica,
apenas 366 profissionais foram contratados, segundo o Ministério da Saúde.
Criado
em dezembro de 2011, o Provab é uma das estratégias do governo para tentar
fixar médicos em regiões com carência desses profissionais, como a Amazônia, o
Nordeste e as periferias das grandes cidades. Para estimular a ida para essas
áreas, é oferecida pontuação adicional de 10% na nota dos exames de residência
para os médicos que tiverem bom desempenho no primeiro ano de atuação no
programa. O governo financia ainda especialização em Saúde da Família e cursos
a distância.
De acordo com balanço do ministério, 950
municípios se inscreveram no programa para seleção dos profissionais. Para
Felipe Proenço, diretor de Programas da Secretaria de Gestão do Trabalho e da
Educação na Saúde do ministério, a baixa adesão está relacionada ao número
insuficiente de profissionais no mercado. Segundo o diretor, uma pesquisa da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostrou que existiam 13 mil médicos
graduados em 2010 no país para 19 mil vagas formais de trabalho. No entanto,
ele considera que o programa teve sucesso neste primeiro ano, mas que será
revisado para ser aprimorado.
“Olhando
para várias dificuldades dos estados, ouvindo pesquisas com gestores, a gente
entende que, além de um problema de má distribuição, existe um quantitativo
menor de médicos do que é necessário para o sistema de saúde,” diz Proenço,
destacando que diversas equipes do Saúde da Família estão desfalcadas, sem
médicos.
O diretor disse ainda que o ministério quer
chegar à relação de 2,7 médicos para mil habitantes, a mesma do Reino Unido.
Atualmente, no Brasil, essa relação é 1,9 médico para cada grupo de mil
pessoas.
Este
ano, o governo anunciou que pretende criar novos cursos de medicina e expandir
as vagas nas faculdades já existentes, com o objetivo de ampliar a quantidade
de profissionais. Em junho, o Ministério da Educação anunciou o Plano de
Expansão da Educação em Saúde, voltado para regiões consideradas prioritárias,
que prevê em 10% o aumento do número de vagas de medicina.
A
proposta não tem o apoio do Conselho Federal de Medicina (CFM). O CFM tem
argumentado que
não faltam médicos no país e que a proporção atual (1,95 médico por
mil habitantes) é suficiente.
Segundo
a entidade, existe uma má distribuição dos profissionais. O CFM defende a
implantação de políticas públicas para reduzir essa desigualdade, como a
criação de uma carreira de Estado exclusiva para médicos, semelhante à dos
magistrados e procuradores do Ministério Público.
Uma
pesquisa do CFM, de 2011, mostra que enquanto em São Paulo são 4,02 médicos por
mil habitantes, o maior número do país, no Maranhão a taxa é 0,68 médico por
mil habitantes, o menor.
Na
Bahia, 69 municípios implantaram uma carreira médica por meio da Fundação
Estatal de Saúde na Família. As progressões ocorrem com base no cumprimento de
metas e resultados. O médico começa trabalhando em cidades com dificuldade de
provimento e pouca infraestrutura. Conforme vai progredindo na carreira, passa
a atuar em cidades com melhor estrutura.
Porém,
de acordo com o presidente da fundação, Carlos Aberto Trindade, a iniciativa
não conseguiu reduzir o problema da fixação de médicos em locais que historicamente
enfrentam dificuldade de contratação. Os salários, continuou o presidente,
variam entre R$ 8 mil e R$ 11 mil para 40 horas de trabalho. Além da
remuneração, os profissionais têm direito a cursos a distância de educação
permanente e a possibilidade de cursarem mestrado e doutorado. “Há quase um
leilão por médicos entre os municípios [da Bahia]”, disse Trindade,
acrescentando que o número de profissionais é insuficiente.
Além
do Provab, o Ministério da Saúde desenvolve outros programas para incentivar a
atuação dos médicos fora dos grandes centros urbanos. Um deles é o abatimento
das dívidas com o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) para quem trabalhar
em uma das 2.282 cidades com carência na atenção básica à saúde.
Agência Brasil
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