Presidente
tem pela frente a resolução de problemas antigos, que já rondaram seu primeiro
mandato
WASHINGTON
- Antes que o presidente reeleito dos Estados Unidos, Barack Obama, possa
relaxar e comemorar a conquista de um novo mandato, ele talvez deva considerar
alguns dos desafios que tem pela frente. Os problemas não são novos e já estão
na agenda do presidente. O grande desafio agora é solucioná-los.
Veja
cinco questões cruciais que Obama terá de enfrentar:
1. Uma
economia ainda em dificuldade
Os
EUA estão lentamente saindo de sua pior crise desde a Grande Depressão, em
1929. O desemprego caiu, mas permanece insistentemente alto, em 7,9%, e a
criação de vagas continua lenta demais para absorver os milhões de americanos
desempregados ou com subempregos. O crescimento econômico também permanece
vagaroso - 2% no terceiro trimestre. Um pequeno choque já poderia derrubar a
economia novamente.
Entre
os muitos problemas enfrentados pelos EUA estão a crise de dívida na Europa e
seu impacto sobre o comércio global, as dificuldades que persistem no mercado
imobiliário, incertezas sobre a política fiscal do governo no curto prazo e
preocupações com a divisão política em Washington.
Apesar de tudo isso, os americanos tiveram algumas boas notícias nas últimas semanas -o emprego cresceu, ainda que de maneira modesta, há uma retomada do PIB, mesmo que lenta, sinais de que o mercado imobiliário está finalmente começando a se recuperar e uma alta na confiança do consumidor que sugere que os americanos podem finalmente estar prontos para abrir suas carteiras. Se, como alguns analistas acreditam, há uma economia vibrante pela frente, Obama sem dúvida vai reivindicar o crédito pelo bom desempenho.
2. O
abismo fiscal e, depois, o déficit no orçamento
A
partir de 1º de janeiro haverá aumento de impostos e cortes nos gastos do
governo que irão afetar praticamente todos os americanos e podem devastar a já
fraca economia - a não ser que o Congresso tome alguma medida.
O
chamado abismo fiscal não é um acidente de política ou finanças. Foi criado
deliberadamente em um acordo feito em 2011 entre Obama e o Congresso como um
incentivo para que concordassem com um plano para reduzir o déficit no
orçamento no longo prazo. A ideia era que os democratas e os republicanos
agiriam para evitar cortes em defesa e programas sociais sensíveis para ambos
os lados, assim como o fim de um corte temporário de impostos e de redução de
impostos da época do governo de George W. Bush. Esse acordo foi transformado em
uma lei que deveria ser temporária, mas o Congresso tem demonstrado pouca
inclinação em deixar que expire.
Economistas
dizem que a combinação de cortes de gastos drásticos e aumento de impostos
poderia jogar a frágil economia americana de volta à recessão. Espera-se que um
acordo que tire os EUA do abismo fiscal também aborde o déficit, que neste ano
chegou US$ 1,1 trilhão. Para isso, o presidente e o Congresso terão de lidar
com programas sociais em rápida expansão, o orçamento de defesa de US$ 651
bilhões e a estrutura de imposto de renda.
3. Irã
O
Irã está presente em diversos desafios da política americana: reduzir a
presença dos EUA no Afeganistão, garantir a estabilidade do Iraque, promover a
resolução do conflito entre Israel e os palestinos, lutar contra o terrorismo,
garantir acesso livre a energia e impedir a proliferação nuclear. Os EUA
continuam determinados a evitar que o Irã fabrique armas nucleares. O Irã
afirma que seu programa nuclear tem fins pacíficos, e seus líderes prometeram
resistir às crescentes sanções internacionais que estão enfraquecendo sua
economia. "Os EUA e o Irã estão essencialmente em um estado de guerra
fria", diz Karim Sadjapour, analista no Carnegie Endowment for
International Peace, em Washington. Sob o regime do supremo líder Aiatolá Ali
Khamenei, o governo iraniano definiu seus interesses nacionais em oposição aos
EUA, diz Sadjapour.
Outro
fator que Obama tem de considerar é a ameaça de um ataque militar de Israel
contra a infraestrutura nuclear do Irã - e a promessa iraniana de retaliar. A
chave para Obama será lidar com as ambições nucleares do Irã sem recorrer à
força militar, diz Sadjapour. Para o analista, uma ação militar no Irã poderia
exacerbar todos os outros problemas que os EUA enfrentam no cenário
internacional e iniciar uma guerra regional.
4. Custos
do Medicare
O
Medicare, o enorme programa de saúde do governo para americanos com mais de 65
anos ou deficientes, deve ficar sem dinheiro em breve. Com quase meio século, o
programa é considerado uma das conquistas dos democratas, mas sofre com
pressões de dois lados: o crescente aumento dos custos de um sistema de saúde
ineficaz e a iminente aposentadoria da geração do baby-boom. O programa de
seguro de internação do Medicare deve ficar sem dinheiro em 2024. O programa de
consultas médicas e medicamentos com receita vai crescer de 2% do PIB no ano
passado para 3,4% do PIB em 2035.
Segundo
Don Berwick, ex-administrador dos centros de serviços do programa, o desafio
pela frente é muito mais complicado do que simplesmente mudar a estrutura de
financiamento do Medicare. Segundo ele, o sistema de saúde inteiro precisa de
mudanças.
5. Atuação
com o Congresso
Obama
se encontra mais uma vez rivalizando com um Congresso dividido que viveu em
impasse nos últimos quatro anos, quase sem conseguir aprovar qualquer
legislação mais polêmica. A maioria dos analistas prevê que o Congresso
continuará dividido, com os republicanos com o controle da Câmara dos
Representantes e os democratas mantendo uma pequena margem de vantagem no
Senado.
Pelo
menos no curto prazo, nada sugere que os republicanos, que controlam a Câmara e
têm número de votos suficiente no Senado para bloquear propostas, terão mais
disposição de entrar em acordo com os democratas do que no primeiro mandato de
Obama.
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