Presidente
não estaria disposta a ceder às pressões para modificar a medida provisória que
renova as concessões das empresas
A presidente Dilma Rousseff não vai
ceder às pressões das empresas que estão contra as normas de renovação das
concessões do setor elétrico. "A presidente mandou uma medida provisória
para o Congresso e é esse texto que ela quer ver aprovado", afirmou um
assessor do Palácio, ao acrescentar que o governo vai mesmo "peitar"
as concessionárias.
Nas contas do governo, a decisão da
Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) de não pedir a renovação de três
de suas usinas hidrelétricas, aliada à recomendação feita pelo Conselho de
Administração da Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (CTEEP)
aos acionistas da empresa para rejeitarem a renovação dos contratos terá pouco
impacto sobre o objetivo principal do governo, que é reduzir a conta de luz a
partir do ano que vem.
Pelas contas apresentadas para a
presidente, essas duas ações vão tirar só 1 ponto porcentual da taxa média de
redução da conta de luz. Em termos práticos, isso significa que o corte
previsto passaria para 19%. A concentração de contratos da Eletrobrás no bloco
de concessões que poderão ser renovadas antecipadamente é outro fator que
fortalece a decisão do Planalto de comprar a briga com as elétricas.
O grupo detém 67,26% das usinas com
concessões vencendo entre 2015 e 2017. Uma posição favorável da Eletrobrás -
controlada pela União - à proposta do Planalto garantirá boa parte da redução
da conta de luz desejada por Dilma.
O mercado, porém, tem outra
interpretação. Para os analistas Gabriel Salas e Pedro Manfredini, do JP
Morgan, a decisão do Conselho de Administração da CTEEP de não renovar a
concessão dos ativos de transmissão põe em risco a meta do governo de cortar a
conta de luz em 20% em 2013. "Nós pensamos que a MP está em risco de
falhar em prover o esperado impulso de curto prazo para a economia",
escreveram os dois analistas.
Para eles, os termos da MP 579 não
oferecem nenhum incentivo para que as elétricas aceitem a renovação dos seus
contratos de concessão. "Como resultado, nós esperamos que apenas a
Eletrobrás será incentivada a aceitar a MP, porque nós acreditamos que a
empresa, controlada pelo governo federal, tem um papel de instrumento de
política que supera a busca pelo lucro."
O professor da UFRJ, Nivalde Castro,
também entende que a meta da presidente de redução das tarifas pode já estar
comprometida. "Na medida em que outras empresas também decidam não
renovar, esse comprometimento tende a ficar maior." Na opinião dele, nas
condições atuais, a melhor opção é manter a concessão até o fim. Ontem, depois
do anúncio da CTEEP, as ações preferenciais da empresa subiram 9,93%.
Mas, para um auxiliar da presidente,
a pressão das empresas não surtirá efeito. Segundo ele, se as concessionárias
não quiserem renovar os contratos, elas terão que devolver as concessões e
explicar para a população e para o Congresso por que querem manter as altas
tarifas. "As empresas estavam ganhando demais."
Prazo. Relator da MP 579 no
Congresso, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) afirmou que não há como alterar
os prazos para manifestar interesse em renovar as concessões e assinar os
contratos com as novas tarifas, receitas e indenizações devidas às empresas.
"Não temos como fazê-lo", afirmou, ressaltando que a MP, mesmo que
ainda não tenha sido aprovada, tem força de lei. Apesar das reclamações das
concessionárias e dos governadores, Calheiros mantém a intenção de votar a MP
579 até o fim de novembro na comissão especial e tentar aprová-la no Congresso
antes do recesso parlamentar, em meados de dezembro.
Por Tânia Monteiro, Anne Warth / Brasília
- O Estado de S.Paulo
/ colaboraram Ricardo Brito, Renée Pereira
e Wellington Bahnemann
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