Segundo o ex-ministro da Fazenda, o
BC deveria esperar para analisar os efeitos sobre a economia dos cortes
promovidos até o momento
ex-ministro da Fazenda Antônio Delfim Netto |
Wladimir D'Andrade, Agência Estado
O economista e ex-ministro da
Fazenda Antônio Delfim Netto afirmou nesta segunda-feira que o corte da Selic
na semana passada, de 7,50% para 7,25% ao ano, encerrou a série de reduções da
taxa básica de juros neste ano. Segundo ele, o Banco Central (BC) deve esperar
para analisar os efeitos sobre a economia dos cortes promovidos até o momento e
das medidas de estímulo anunciadas.
"O governo já deu muitos
incentivos de forma que seja bom parar um pouquinho para verificar seus
efeitos", declarou Delfim Netto, após ser homenageado com o 16.º Troféu
Guerreiro da Educação, entregue pelo Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE)
e pelo jornal O Estado de S.Paulo.
Delfim Netto disse confiar na
análise do BC e que a instituição tem instrumentos mais sofisticados que os
analistas para avaliar a economia do País. "Na minha opinião, o BC tem se
comportado de uma maneira muito conveniente para o desenvolvimento
brasileiro."
O economista elogiou também a
abertura dos votos dos membros do Comitê de Política Monetária (Copom). Para
ele, isso reforça a independência do BC. "Essa abertura é muito boa,
porque mostra que as pessoas estão pensando diferente."
Delfim Netto negou ainda que o BC
tenha deixado de lado o tripé econômico formado por superávit primário, câmbio
flutuante e meta de inflação. Na opinião dele, o BC segue as metas, mas faz
ajustes de acordo com a realidade de cada momento. "Os três alicerces são
os mesmos, isso não mudou nada. Apenas estão sendo feitos ajustes para a
economia se adequar à realidade do momento."
Valorização
cambial
Delfim Netto também disse nesta
segunda-feira que "é óbvio que o aumento da liquidez mundial tende a valorizar
o real". Segundo ele, os países desenvolvidos que promovem afrouxamentos
monetários sabem disso e o Brasil toma medidas "em legítima defesa"
para combater a valorização artificial da sua moeda.
Delfim deu as declarações em evento
em São Paulo após ser questionado por jornalistas sobre a fala do presidente do
Banco Central norte-americano (Fed, na sigla em inglês), Ben Bernanke, em
seminário patrocinado pelo Banco do Japão (BoJ) e pelo Fundo Monetário
Internacional (FMI), em Tóquio. Bernanke afirmou que os efeitos do fluxo de
capital nas economias emergentes não são predeterminados, e, sim, dependem das
escolhas das autoridades monetárias dessas economias.
"Ele (Bernanke) está falando
aquilo que ele tem que falar, mas é óbvio que o aumento da liquidez mundial
tende a valorizar o real. Isso nem ele nem ninguém nega", disse Delfim
Netto. "O Brasil apenas toma medidas em legítima defesa, medidas que estão
funcionando", completou.
Protecionismo
Sobre o questionamento de países na
comunidade internacional de que o Brasil está adotando medidas protecionistas,
o ex-ministro rebateu afirmando que todos os países do mundo defendem sua
atividade e que o Brasil é menos protecionista do que aqueles que o acusam.
"O Brasil tem uma porção de dificuldades. Tivemos um câmbio
sobrevalorizado durante muitos anos, destruímos a sofisticação de uma indústria
que é muito importante e agora estamos tentando reconstruir isso. Não tem nada
de protecionismo", afirmou Delfim Netto. "Na OMC (Organização Mundial
do Comércio) o Brasil tem medidas que atingem outros países, e os outros países
têm medidas que afetam o Brasil. Mas o Brasil é credor nessa
contabilidade."
O economista foi homenageado hoje,
na capital paulista, com o título de professor emérito de 2012 ao receber o
Troféu Guerreiro da Educação, promovido pelo Centro de Integração Empresa
Escola (CIEE) e pelo jornal O Estado de S. Paulo. Também estava presente no
evento o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB). Ele, porém, saiu da
cerimônia sem falar com a imprensa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua visita foi muito importante. Faça um comentário que terei prazaer em responde-lo!
Abração
Dag Vulpi