segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Para Delfim Netto, Banco Central deve encerrar corte de juros


Segundo o ex-ministro da Fazenda, o BC deveria esperar para analisar os efeitos sobre a economia dos cortes promovidos até o momento

ex-ministro da Fazenda Antônio Delfim Netto

Wladimir D'Andrade,  Agência Estado
O economista e ex-ministro da Fazenda Antônio Delfim Netto afirmou nesta segunda-feira que o corte da Selic na semana passada, de 7,50% para 7,25% ao ano, encerrou a série de reduções da taxa básica de juros neste ano. Segundo ele, o Banco Central (BC) deve esperar para analisar os efeitos sobre a economia dos cortes promovidos até o momento e das medidas de estímulo anunciadas.

"O governo já deu muitos incentivos de forma que seja bom parar um pouquinho para verificar seus efeitos", declarou Delfim Netto, após ser homenageado com o 16.º Troféu Guerreiro da Educação, entregue pelo Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) e pelo jornal O Estado de S.Paulo.

Delfim Netto disse confiar na análise do BC e que a instituição tem instrumentos mais sofisticados que os analistas para avaliar a economia do País. "Na minha opinião, o BC tem se comportado de uma maneira muito conveniente para o desenvolvimento brasileiro."

O economista elogiou também a abertura dos votos dos membros do Comitê de Política Monetária (Copom). Para ele, isso reforça a independência do BC. "Essa abertura é muito boa, porque mostra que as pessoas estão pensando diferente."
Delfim Netto negou ainda que o BC tenha deixado de lado o tripé econômico formado por superávit primário, câmbio flutuante e meta de inflação. Na opinião dele, o BC segue as metas, mas faz ajustes de acordo com a realidade de cada momento. "Os três alicerces são os mesmos, isso não mudou nada. Apenas estão sendo feitos ajustes para a economia se adequar à realidade do momento."

Valorização cambial
Delfim Netto também disse nesta segunda-feira que "é óbvio que o aumento da liquidez mundial tende a valorizar o real". Segundo ele, os países desenvolvidos que promovem afrouxamentos monetários sabem disso e o Brasil toma medidas "em legítima defesa" para combater a valorização artificial da sua moeda.

Delfim deu as declarações em evento em São Paulo após ser questionado por jornalistas sobre a fala do presidente do Banco Central norte-americano (Fed, na sigla em inglês), Ben Bernanke, em seminário patrocinado pelo Banco do Japão (BoJ) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), em Tóquio. Bernanke afirmou que os efeitos do fluxo de capital nas economias emergentes não são predeterminados, e, sim, dependem das escolhas das autoridades monetárias dessas economias.

"Ele (Bernanke) está falando aquilo que ele tem que falar, mas é óbvio que o aumento da liquidez mundial tende a valorizar o real. Isso nem ele nem ninguém nega", disse Delfim Netto. "O Brasil apenas toma medidas em legítima defesa, medidas que estão funcionando", completou.

Protecionismo
Sobre o questionamento de países na comunidade internacional de que o Brasil está adotando medidas protecionistas, o ex-ministro rebateu afirmando que todos os países do mundo defendem sua atividade e que o Brasil é menos protecionista do que aqueles que o acusam. "O Brasil tem uma porção de dificuldades. Tivemos um câmbio sobrevalorizado durante muitos anos, destruímos a sofisticação de uma indústria que é muito importante e agora estamos tentando reconstruir isso. Não tem nada de protecionismo", afirmou Delfim Netto. "Na OMC (Organização Mundial do Comércio) o Brasil tem medidas que atingem outros países, e os outros países têm medidas que afetam o Brasil. Mas o Brasil é credor nessa contabilidade."

O economista foi homenageado hoje, na capital paulista, com o título de professor emérito de 2012 ao receber o Troféu Guerreiro da Educação, promovido pelo Centro de Integração Empresa Escola (CIEE) e pelo jornal O Estado de S. Paulo. Também estava presente no evento o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB). Ele, porém, saiu da cerimônia sem falar com a imprensa.

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