Por Thais Leitão da Agência Brasil
Como resultado do projeto, os alunos construíram, com a ajuda dos professores, uma casinha de bonecas usando caixas de leite, além de mesas e cadeiras feitas com madeira de caixotes reaproveitada. As brincadeiras também foram incrementadas com castelos de princesas construídas com latas de leite em pó, flores de rolo de papel higiênico e super-heróis de garrafas PET
Brasília - De calça vermelha, tênis preto de cadarços também vermelhos e camisa xadrez, o professor Wagner Júnior chama a atenção pelo visual despojado. Ele dava aulas de história geral em escolas públicas do Distrito Federal (DF) e ajudou a mudar a história de seus alunos. Com muitas ideias, conseguiu uma câmera e passou a desenvolver projetos de educação usando ferramentas da comunicação.
Um deles é o Programa Parabólica, que funciona no Centro de Ensino Médio 1 (CEM 1) de Sobradinho, cidade do DF. As produções, que abordam temas ligados à juventude, como educação, drogas, saúde e sistema de cotas em universidades, são exibidas na internet ou transmitidas pela TV Cidade Livre, de Brasília, parceira do projeto. As pautas são discutidas semanalmente por um grupo de alunos e ex-alunos da escola, que se reúne no local onde antes funcionava um depósito da unidade. Hoje, o pequeno cômodo, chamado de QG, sigla de quartel-general, tem porta grafitada, pufes coloridos e o entra e sai de quem está sempre em atividade.
São histórias assim, de educadores que vencem as dificuldades do dia a dia e transformam o processo de ensino em uma experiência democrática, criativa e bem-sucedida que a Agência Brasil conta hoje (15), no Dia do Professor.
Com o entusiasmo típico dos jovens, Wagner Júnior diz que decidiu trocar as salas de aula tradicionais, com mesas, cadeiras e quadro-negro, por ambientes menos formais e mais coloridos após perceber que o conteúdo de suas lições não despertava o interesse dos alunos. A inquietação diante do que via levou o professor a projetar nova prática pedagógica.
“Me angustiava muito ver que os alunos não se interessavam tanto pelo conteúdo das minhas aulas. Por outro lado, percebia que eles queriam estar conectados, estavam muito ligados às redes e mídias digitais. Decidi, então, fazer delas minhas aliadas”.
Ele acredita que o educador precisa renovar o fôlego para superar a falta de estrutura e os salários que “não estão à altura da importância da atividade”. Com mais de 20 anos de profissão, Wagner Júnior diz que a maior recompensa é ver os jovens tomando consciência de quem são e posicionando-se de forma intelectualmente autônoma diante de sua realidade.
“O educador é pouco valorizado pela lógica capitalista, do ponto de vista do rendimento financeiro, mas é muito valorizado pela lógica humana. A escola é lugar de se fazer amigos e é isso que mais ganho aqui”, acrescenta.
Ângelo Palhano, 19 anos, fugia das aulas de história do professor Wagner Júnior. Hoje, mesmo depois de ter concluído o ensino médio, volta ao CEM 1 de Sobradinho, pelo menos uma vez por semana para participar das reuniões de pauta do Parabólica.
“Com ele, aprendemos a nos conscientizar historicamente, a perceber quem somos. Nas aulas tradicionais, muitas vezes, o aluno fica angustiado poque o saber dele é ignorado. Aqui não, a gente pensa, a gente produz”, diz o jovem, aluno de filosofia na Universidade de Brasília e que, em poucos anos, deve seguir a mesma profissão de Júnior.
A paixão pelo ensino e a vontade de mudar a vida dos alunos também são as características mais evidentes na equipe pedagógica da Escola Classe Córrego das Corujas, na zona rural de Ceilândia, outra cidade do DF. Rosemar Barbosa, 48 anos, é uma das três professoras que trabalham na unidade. Para chegar à escola, ela leva, diariamente, 40 minutos e enfrenta 6 quilômetros de estrada de terra, mas diz que não “quer sair dali por nada”.
“Já trabalhei em escolas que ficavam a dez minutos da minha casa, mas sou apaixonada pelo trabalho que a gente faz aqui, com impacto direto não apenas no processo de aprendizagem do aluno, mas também na vida das famílias da comunidade”, diz. Para ela, a estrutura simples e os recursos limitados não desestimulam o trabalho de quem quer fazer a diferença.
“Não temos muitos recursos aqui, mas aproveitamos o que está disponível e provamos que é possível mudar. Ver o crescimento dessas crianças e o sorriso no rosto delas renova o nosso ânimo”, acrescenta.
De acordo com a diretora da escola, Suélia Gomes, foi essa dedicação à arte de ensinar, somada à integração entre as profissionais que levaram a escola a ser reconhecida como exemplo de sustentabilidade. Este ano, o projeto Saber Viver: Uma Escola Sustentável foi premiado durante o Circuito de Ciências de Taguatinga, promovido pela Secretaria de Educação do DF.
“Por meio do projeto, incentivamos os alunos a trazer material reciclável que virava lixo e acabava sujando a própria comunidade. Com isso, construímos vários objetos de lazer aqui na escola e conscientizamos as famílias sobre a importância do descarte responsável e do reaproveitamento de materiais”, explica.
Rakeu Santos, 9 anos, é aluna do terceiro ano do ensino médio e percebe a paixão das professoras pelo que fazem. Com sorriso no rosto, diz que tem orgulho de estudar em uma escola “tão legal”.
“Eu gosto muito de estudar aqui, sempre digo em casa que nunca quero sair desta escola. Aqui a gente aprende muitas coisas, como cuidar da natureza e reciclar”, diz a menina.
Edição: Graça Adjuto
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