Um grupo de cientistas do
Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (ICe-UFRN),
em colaboração com cientistas da Universidade de Uppsala, na Suécia, descobriu
o funcionamento de mecanismo da memória que pode ajudar na elaboração de
medicamentos para a cura do mal de Alzheimer e da esquizofrenia, entre outras
doenças.
De acordo com os cientistas, o
cérebro utiliza somente um mecanismo para gravar e lembrar memórias, alternando
entre uma função e outra em fração de segundo. Nas pesquisas, os cientistas
descobriram que as células responsáveis pela memória são sensíveis à nicotina,
precisamente o grupo analisado. Outros pesquisadores deverão tentar desenvolver
um medicamento semelhante à substância, porém, sem os efeitos nocivos.
O neurocientista e professor da UFRN
Richardson Leão, que participou das pesquisas, disse que é necessário ter
cautela sobre os medicamentos que serão desenvolvidos. Segundo ele, é preciso
ainda realizar mais etapas de pesquisas. “As pesquisas são feitas com animais -
neste caso específico, com roedores - que são diferentes dos seres humanos,
embora, no caso das células estudadas, existam semelhanças.”
Os pesquisadores descobriram que a
ativação de um tipo específico de neurônios, conhecido como OLM , altera
o fluxo de informação do hipocampo - região cerebral que funciona de forma
semelhante à memória RAM dos computadores, armazenando temporariamente a
informação que depois será salva no córtex. A revelação foi possível devido aos
avanços tecnológicos recentes e testes feitos com camundongos transgênicos.
Pesquisas anteriores indicavam que
os neurônios do tipo OLM tinham um papel-chave no controle da memória. Mas o
camundongo desenvolvido na Suécia permitiu testar a hipótese. O cientista sueco
Klas Kullander e o grupo dele geraram um camundongo transgênico cujos
neurônios brilham quando iluminados por luz verde.
Os cientistas brasileiros injetaram
um vírus geneticamente modificado no animal, deixando as células OLM sensíveis
à luz. Ao utilizarem fibras óticas, os cientistas conseguiram ativar e inativar
essas células, lançando mão de uma nova tecnologia, conhecida por optogenética.
No estudo, cientistas brasileiros e
suecos mostraram que as células OLM modulam a entrada e a saída de informações
nas vias do hipocampo. Quando ativadas, essas células priorizam os sinais
provenientes do próprio hipocampo, atraindo as memórias armazenadas ao mesmo
tempo em que fecham a entrada de informações sensoriais na região.
A próxima etapa das pesquisas é
fazer estudos eletrofisiológicos no Instituto do Cérebro da UFRN, com base em
uma investigação da atividade elétrica do cérebro, para entender de que forma
as células OLM influenciam as ondas cerebrais no hipocampo, também envolvidas
na formação de memórias.
Nas pesquisas, os cientistas
conseguiram também demonstrar que o contrário ocorre quando essas células estão
inativas. O estudo foi publicado na revista Nature Neuroscience de
outubro. A pesquisa foi possível devido a um convênio de cooperação científica
financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(Capes).
Os cientistas brasileiros, no
entanto, advertem que é necessário vencer algumas limitações existentes no
Brasil e que acabam por limitar as pesquisas com animais transgênicos trazidos
do exterior. Segundo eles, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
relaciona como biopirataria a importação de animais transgênicos para pesquisas
científicas de financiamento público.
Renata Giraldi Agência Brasil
| Edição: Davi Oliveira
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