Por Antonio Tozzi - Miami
Miami (EUA) -
Parece que agora virou moda entre os petistas criticar a imprensa, batizada de
imprensa “pig”. Isto pode ser engraçadinho, mas é perigoso. Demonstra uma
inclinação inequívoca para regimes totalitários, que suportam apenas imprensa
obediente e bajulatória, o que é péssimo para a nação.
O exemplo
mais recente é o julgamento do Mensalão. Os petistas e simpatizantes acusam os
ministros do Supremo Tribunal Federal de condenar os implicados no caso
Mensalão somente para aplacar a “sanha justiceira da imprensa burguesa e
capitalista que ainda está inconformada com o governo progressista de esquerda
que se instaurou no Brasil”.
Mas, será
que isto é mesmo verdade? Vamos tentar recapitular alguns fatos para ver se
isto condiz com a realidade. Dizem que Lula foi uma criação do general Golbery
do Couto e Silva para complicar a então esquerda brasileira que estava
preparando o retorno ao Brasil depois de anos de exílio com líderes como
Fernando Henrique Cardoso, Leonel Brizola, José Serra, Fernando Gabeira e
outros. Isto realmente não há como confirmar, mas uma coisa é certa: Lula é o
produto mais bem acabado construído pela imprensa brasileira.
Ele foi um
produto vendido como sindicalista, metalúrgico, nordestino e pobre que liderou
o mais importante sindicato do país, o dos metalúrgicos de São Bernardo do
Campo, onde estavam sediadas importantes empresas do setor. Vamos por partes. De
fato, ele nasceu em Garanhus (PE), mas é essencialmente um político paulista.
Chegou ao estado de São Paulo como criança, batalhou como pobre até ser
contratado pela Villares. Aí, sofreu um infeliz acidente que o colocou como
desabilitado para o trabalho e pôde organizar o sindicato. Ou seja, trabalhou
no máximo cinco anos como metalúrgico.
Teve o
mérito de ser um político que fala a língua do povo e, para isto, sempre contou
com o apoio da “imprensa burguesa”. Depois de eleito, beneficiou-se do fato de
ter encontrado um Brasil organizado e foi esperto o suficiente para manter o
que estava dando certo. Na área econômica, por exemplo, chamou os estão
“tucanos” Henrique Meirelles e Luiz Fernando Furlan para sua equipe econômica.
Aproveitou o Bolsa Família, que havia sido criado pela primeira-dama Ruth
Cardoso e divulgou como se fosse uma ideia de seu governo. O plano petista de
erradicação da pobreza mesmo deu com os burros na água, o chamado Fome Zero
simplesmente não decolou.
Para mostrar
que segue bastante os tucanos, o núcleo de poder petista apoderou-se do
Mensalão, que havia sido criado pelos tucanos mineiros. E, claro, potencializou
os ganhos e a influência, sob o comando de José Dirceu, de acordo com denúncia
de Roberto Jefferson, um dos principais envolvidos no esquema. Lula, mais uma
vez, saiu incólume, com a cândida desculpa de que “não sabia de nada”.
A imprensa
está sendo atacada exatamente por ter divulgado estas coisas. Mas a mesma
imprensa foi enaltecida em outras ocasiões. A hoje execrada Veja foi
cumprimentada pelos petistas quando publicou a entrevista com Pedro Collor de
Mello, que derrubou a República de Alagoas. Os conservadores O Estado de S.
Paulo e Jornal da Tarde foram elogiados ao mostrar Paulo Maluf com o nariz de
Pinóquio. A Folha de S. Paulo era tida como o farol da esquerda por ser muito
crítica dos governantes, e O Globo denunciou o esquema de contrabando do então
minsitro Ibrahim Abi-Ackel.
Só se ouvia
elogios à destemida imprensa. Agora, porém, a coisa mudou. O advogado de
Delúbio Soares, um dos próceres do PT, disse que “ jornalista bom é jornalista
morto”. José Genoíno chamou os jornalistas de abutres e José Dirceu se diz
vítima da orquestração da imprensa burguesa, aquela cantinela de quem não tem
outro argumento.
Por fim, o
PT se diz como partido de esquerda. Será mesmo? O PT tem hoje como aliados os
legítimos esquerdistas José Sarney, Paulo Maluf, Fernando Collor de Mello, Edir
Macedo e sua Igreja Universal do Reino de Deus, Valdemar Costa Neto e outros do
mesmo naipe.
Só mesmo
quem crê em conto de fadas pode acreditar no PT, um partido que um dia eu mesmo
cheguei a acreditar que poderia mudar o cenário político do Brasil e hoje
constato que se tornou igual ou pior do que seus antecessores.
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