O
mundo pode viver uma crise alimentar global, como as de 2007 e 2008, caso os
governos não adotem medidas urgentes para reverter a alta dos preços. O alerta
foi publicado por três agências da Organização das Nações Unidas (ONU), com
sede em Roma.
A
crise é motivada pela quebra de safra das principais regiões produtoras do
mundo, o que tem pressionado os preços no mercado mundial. “Somos vulneráveis porque, mesmo em um bom
ano, a produção mundial de cereais é apenas o suficiente para atender a
crescente demanda por alimentos, ração e combustível. Em um mundo onde há 80
milhões a mais de bocas para alimentar a cada ano, nós estamos em perigo,
já que apenas um punhado de países são grandes produtores de alimentos básicos”,
destacou o comunicado conjunto assinado por representantes da Organização das
Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), do Fundo Internacional para
o Desenvolvimento Agrícola (Fida) e do Programa Alimentar Mundial (PAM).
Os
produtores de milho, trigo e soja de várias regiões do mundo têm registrado
prejuízos históricos em função da forte seca. Nos Estados Unidos, por exemplo,
onde o cultivo de milho já apresentou saldos decrescentes no ano passado, os
agricultores estimam perdas em torno de 20% a 30% com a estiagem deste ano. Os
prejuízos podem ultrapassar a marca das 130 milhões de toneladas, se somadas às
lavouras de soja e milho.
As
lideranças das três agências da ONU defendem uma ação internacional conjunta
para reverter o cenário. “Há duas
questões interligadas que devem ser abordadas: a questão imediata dos altos
preços de alguns alimentos, que podem afetar significativamente os países
dependentes da importação de alimentos e as pessoas mais pobres, e o problema a
longo prazo de como produzir, comercializar e consumir alimentos em um momento
de crescimento da população, da demanda e de mudanças climáticas.”
Os
dirigentes da FAO, Fida e PAM destacaram que o impacto da alta dos alimentos
recai de formas diversas sobre diferentes economias e apontaram estratégias de
solução, como o maior investimento no segmento de pequenos produtores de
alimentos para que possam aumentar a produtividade, acesso aos mercados e
reduzir a exposição ao risco.
“Adotamos uma abordagem de duas vias que
apoia investimentos de longo prazo na agricultura, principalmente dos pequenos
produtores, assegurando que as redes de segurança [alimentar] estão no local
para ajudar os consumidores e produtores de alimentos pobres e evitar a fome,
perda de bens e a armadilha da pobreza no curto prazo”, destacam.
Apesar
da referência à crise de 2007, quando os níveis de produção e estoque baixaram
drasticamente levando vários países a restringirem o consumo e adotarem
políticas de subsídio e estímulo à exportação para solucionar o problema, os
organismos das Nações Unidas reconhecem que o mundo está mais preparado do que
há cinco anos.
A
instituição do Grupo de Trabalho sobre Segurança Alimentar Alto Nível Mundial e
de Informação de Mercado Agrícola Sistema G20 (Amis, na sigla em inglês), foram
apontados como exemplos desse avanço.
Apesar
do tom de alerta, as agências da ONU acrescentaram que, neste cenário, “as coisas que devem ser evitadas são tão
importantes quanto aquelas que devem ser adotadas”. O comunicado ressalta
que os países devem evitar compras motivadas pelo pânico e se abster de impor
restrições à exportação que, embora temporariamente ajude alguns consumidores
no mercado interno, são geralmente ineficazes.
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