Bagaço da cana-de-açúcar usado para a geração de energia elétrica na Usina de Santa Adelia em Jaboticabal, São Paulo (Fernando Cavalcanti) |
As medidas de redução
do preço da energia elétrica podem ser um novo entrave para a cogeração de
energia elétrica a partir de biomassa. Segundo o presidente interino da União
da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Antonio de Pádua Rodrigues, com os atuais
preços da energia os investimentos em biomassa já não são viáveis. Assim como
energia eólica e de térmicas movidas a gás e diesel, o preço da energia de
biomassa é mais caro do que a hidrelétrica.
Rodrigues diz que os
investimentos em cogeração de biomassa apenas são viáveis se feitos em conjunto
com a produção de etanol, em novas usinas greenfield (projetos criados a partir
do zero). "Para que isso ocorra, contudo, o governo precisa resolver a
política para o etanol hidratado carburante", completou.
Biomassa pode prover 20% da energia
do mundo sem comprometer alimentação, dizem pesquisadores ingleses
Para chegar a esse resultado, sem
aumentar a área usada pela agricultura atualmente, será necessário investir em
técnicas para aumentar a produtividade e diminuir o desperdício
É possível produzir 20% da energia
mundial com biomassa sem prejudicar a produção de alimentos, segundo estudo
publicado pelo Centro de Pesquisas do Reino Unido (UKERC, na sigla em inglês).
Para isso, porém, será necessário melhorar as técnicas de agricultura,
produzindo mais comida em menos espaço.
BIOMASSA
A madeira foi o primeiro tipo de
biocombustível usado pelos seres humanos, milênios antes da descoberta do
petróleo. Isso ocorreu, estimam os arqueólogos, há cerca de 300 mil anos, no
Paleolítico Superior, quando o homem das cavernas dominou o fogo e passou a
usar madeira para cozinhar, se esquentar e afugentar predadores.
E a madeira foi, ainda por muito
tempo, o único combustível da humanidade. Hoje ainda é um dos maiores, mas o
desmatamento e a emissão de gases que causam o efeito estufa durante a queima
fazem com que ela não seja um biocombustível ecológico.
Atualmente, materiais como a
cana-de-açúcar, o milho, a batata e alguns tipos de capim servem para produzir
combustíveis como o etanol e o bio-diesel; que substituem a energia proveniente
de fontes não renováveis, como petróleo e carvão mineral.
Cientistas do Imperial College, em
Londres, cruzaram dados de mais de 90% pesquisas feitas no mundo inteiro para
chegar aos resultados. “Prover até um
quinto da energia global com biomassa é uma ambição razoável se fizermos o
melhor uso dos resíduos agrícolas, do material que sobra das culturas”,
afirma Raphael Slade, principal autor do relatório e pesquisador do Imperial
College. Um exemplo é o uso do bagaço de cana de açúcar, que pode gerar açúcar
e energia.
Para chegar a esse produção de
energia, diz o estudo, não seria necessário aumentar a área que hoje é usada
para agricultura. O papel dos governos é essencial para que isso aconteça, já
que o apoio a pesquisas que levem ao aumento da produtividade dependem de
grandes financiamentos.
O relatório reforça que a
possibilidade de produzir esse montante de energia é técnica. Para torná-la
prática, é preciso estudar formas de aumentar a produtividade das plantações.
As mudanças na dieta de pessoas que vivem em países que estão se desenvolvendo,
na Ásia e na América Latina, são vistas como um desafio pelos pesquisadores.
“Quanto
mais você quer de bioenergia, mais difícil torna-se conciliar a demanda por
proteção alimentar, energética e ambiental”, diz Slade.
“A bioenergia vai fazer parte do mix
de energias de baixo carbono do futuro”, afirma Ausilio Bauen, do Centro de
Política Energética e Tecnologia do Imperial College. “Mas garantir que a
bioenergia, a produção de comida e as florestas não vão competir por espaço não
vai ser simples. Só aumentando a produtividade e fazendo melhor uso do que
produzimos poderemos produzir combustível, alimentar a população e conservar o
meio ambiente”, completa.
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