"Enquanto empresários se sentirem livres para
ajudar a eleger políticos, a corrupção estará garantida" (Jorge
Hage).
A Lei nº.
9.096, de 19 de setembro de 1995, que regulamenta os artigos 14 e 17 da
Constituição Federal de 1988 e é conhecida como a Lei dos Partidos Políticos
define em seu primeiro artigo que “partido político, pessoa jurídica de direito
privado, destina-se a assegurar, no interesse do regime democrático, a
autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos fundamentais
definidos na Constituição Federal”. Desta forma, um partido deve ter como uma
das suas principais bandeiras defender as premissas democráticas e buscar o
atendimento dos interesses da coletividade, ressaltando viés ideológicos
próprios da pluralidade de pensamentos existentes nas sociedades. Os partidos
devem atender os interesses da sociedade, de acordo com a visão ideológica de
seus integrantes, respeitando o que determina a nossa Constituição, realçando
os princípios éticos, morais e dos bons costumes.
Um dos
complicadores para os partidos políticos cumprirem as determinações da
Constituição Federal é o sistema de financiamento dos partidos políticos e das
campanhas eleitorais, e isso força-nos uma avaliação sobre seus efeitos, tanto
sobre os partidos como ao próprio sistema democrático.
A experiência
histórica tem nos mostrado que a relação entre dinheiro e política foi, é e
continuará sendo complexa, e que ela constitui uma questão fundamental para a
qualidade e estabilidade da democracia. "mais que nenhum outro fator
é a competição entre partidos com recursos equilibrados (políticos, humanos,
econômicos) que gera democracia" (Giovanni Sartori). Nessa afirmação está
subjacente a premissa que enuncia a importância dos partidos políticos para a
democracia, sem os quais ela não seria viável.
Em um modelo
ideal, os partidos agregam interesses, desenvolvem alternativas de política e,
em geral, constituem o principal elo entre a cidadania e o governo. O
funcionamento dos partidos – sua organização e profissionalismo, sua base de
financiamento e sustentabilidade – tem um impacto direto na efetividade do
resto do sistema político.
A frase do
presidente colombiano César Gaviria Trujillo - "criou-se entre muitas
pessoas a falsa idéia de que era possível fortalecer a democracia ignorando ou,
pior ainda, atacando os partidos políticos" - não tem efeito quando
aplicada para expor nossa realidade, pois no Brasil, a contribuição dos
partidos políticos para o fortalecimento da democracia é nula. Aqui os
partidos já não prestam serviços de excelência para selecionar, recrutar e
capacitar candidatos para que exerçam cargos públicos, mobilizar os eleitores,
participar e depois ganhar ou perder as eleições, assim como formar governos.
Os escândalos
ocorridos nos últimos anos, os desvios do erário publico, as corrupções e o
desapego ao ideologismo por parte de nossos representantes, culminou no
surgimento de um descontentamento quanto aos partidos e aos políticos, o que
teve um impacto nas atitudes em relação à democracia em seu conjunto. Outro
motivo para que isso tenha ocorrido foi, sem dúvida, o que se percebe como uma
intromissão excessiva do dinheiro na política. Que a preocupação particular se
centre nas pressões do setor empresarial ou em doações associadas a dinheiros
ilícitos, na compra de votos ou no crescimento incessante das campanhas nos
meios de comunicação, a imagem pública dos partidos se vê cada vez mais
deteriorada pela mancha da corrupção. Por isso, a questão do financiamento dos
partidos e das campanhas eleitorais se transferiu nos últimos anos para o
centro da agenda política.
Com efeito, o
funcionamento de uma democracia exige a existência de partidos políticos e
estes, assim, como qualquer outra organização, necessitam gerar rendas para
financiar sua vida permanente, custear sua operação e, muito em particular,
para entrar e competir na disputa eleitoral.
O dinheiro que
move os partidos é um assunto relevante, não somente pelas quantidades
implicadas ou por suas fontes de origem, mas porque se tornaram a coluna
vertebral do Estado democrático.
Em
resumo, embora a democracia não tenha preço, ela tem um custo de
funcionamento que é preciso pagar e, por isso, é indispensável que seja o
sistema democrático que controle o dinheiro e não o oposto. Desse modo, o tema
do financiamento político e de campanha se converteu em uma questão estratégica
de toda democracia, e ao mesmo tempo, dada sua complexidade e os desafios que
apresenta, também tornou-se um problema, uma verdadeira dor de cabeça. "A
democracia não está ameaçada pelo regime de partidos, mas pelo financiamento
deles". (Maurice Duverger)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua visita foi muito importante. Faça um comentário que terei prazaer em responde-lo!
Abração
Dag Vulpi