O
relatório Todas as Crianças na Escola em 2015 – Iniciativa Global pelas
Crianças Fora da Escola, divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para
a Infância (Unicef), alerta para a persistência do trabalho infantil entre as
crianças em idade escolar, o que prejudica o direito dessa população à
educação. De acordo com o levantamento, 638 mil crianças entre 5 e 14 anos
estão nessa situação, apesar de a legislação brasileira proibir o trabalho para
menores de 16 anos. O grupo representa 1,3% da população nessa faixa etária,
mas para o fundo não pode ser desconsiderado porque o trabalho infantil é uma
“causa significativa” do abandono escolar.
Segundo
o secretário de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), César
Callegari, o estudo do Unicef traz uma fotografia importante dos desafios que o
Brasil tem pela frente: garantir a educação para todas as crianças e jovens
brasileiros, incluindo não só essa parcela da população, mas favorecendo sua
permanência na escola. Ele ressaltou, no entanto, que o país conquistou avanços
significativos principalmente na útlima década.
"Se
olharmos não apenas a fotografia, mas o filme dos últimos anos, veremos que o
Brasil conseguiu incluir nos últimos 12 anos mais de 5 milhões de crianças e
jovens que estavam fora da escola. Tínhamos 8,7 milhões, entre 4 e 17 anos,
nessa situação em 1997 e agora são 3,69 milhões", disse Callegari. Ele
citou a criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) como um dos mecanismos mais
importantes para esse avanço, ao viabilizar "recursos firmes e
mensais" para que cada município e estado garanta a matrícula de crianças
na pré-escola e de jovens no ensino médio.
Estudos
mostram que os índices de trabalho infantil caíram nas últimas décadas, mas
ficaram estagnados nos últimos cinco anos. O levantamento do Unicef inclui
tanto crianças e jovens que desenvolvem atividades econômicas, quanto aqueles
que se ocupam de serviços domésticos com duração superior a 28 horas semanais.
A coordenadora do Programa de Educação do Unicef no Brasil, Maria de Salete
Silva, diz que o momento econômico que o Brasil vive tem feito crescer o número
de meninos e meninas responsáveis pelas tarefas do lar.
“Quando
temos uma situação de oferta de emprego grande, isso pode acarretar aumento do
trabalho infantil doméstico para as meninas, que substituem a mãe que foi para
o mercado de trabalho. Essas meninas ficam com a responsabilidade de cuidar dos
irmãos, lavar louça, arrumar a casa”, explica Salete. Para a representante do
Unicef, uma das principais barreiras para superar essas práticas é cultural. Em
muitas famílias, o trabalho desde a infância é considerado normal e importante
para o desenvolvimento. Além das tarefas do lar, outro “nicho” do trabalho
infantil está na zona rural, onde logo cedo jovens ajudam a família no trabalho
do campo.
“O
trabalho agora é localizar essas famílias e entender o que leva aquela
criança a trabalhar e o que pode ser feito para convencer a família de que
aquele trabalho não é adequado”, aponta Salete. A questão socioeconômica também
tem grande peso no ingresso precoce no mercado de trabalho. O relatório mostra
que mais de 40% das crianças de 6 a 10 anos, de famílias com renda familiar per
capita até um quarto de salário mínimo, trabalham. Esse percentual cai
para 1,2% no grupo de famílias com renda superior a dois salários mínimos por
pessoa.
Do
total de crianças de 5 a 14 anos que trabalham, 93% estudam. O relatório mostra
o trabalho infantil como uma grande barreira tanto para as crianças que estão
fora do sistema de ensino, quanto para aquelas que frequentam a escola. Mesmo
quem está regularmente matriculado terá o desempenho escolar prejudicado pelas
outras tarefas que desempenha.
“Essa
questão interfere de fato na qualidade do ensino, já que a criança que trabalha
tem menos condição de aprendizagem porque fica cansada e desatenta. E se ela
não está na escola, dificilmente vai largar o trabalho para estudar”, ressalta
Salete.
De
acordo com o relatório, 375.177 crianças na faixa de 6 a 10 anos estão fora da
escola – o que corresponde a 2,3% do total dessa faixa etária. Dessas, 3.453
trabalham (0,9%) e, nesse grupo, a maioria é negra (93%). O número de crianças
de 11 a 14 anos que só trabalham é cerca de 20 vezes maior que na faixa
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