A defesa de José Dirceu de
Oliveira e Silva, personagem central do processo conhecido como ‘mensalão’, vai
sustentar na Tribuna do Supremo Tribunal Federal (STF) que “a história foi
montada por Roberto Jefferson” e que o esquema de compra de apoio parlamentar
“não existiu”. A apenas três dias do início do julgamento, José Luís Oliveira
Lima, criminalista, defensor do ex-ministro, mira Roberto Jefferson,
ex-deputado do PTB, autor da denúncia que levou à cassação de Dirceu. A
Procuradoria-Geral da República classifica o ex-chefe da Casa Civil no governo
Lula de principal articulador da engrenagem do mensalão, “sofisticada
organização criminosa”.
Oliveira Lima mantém a
serenidade quando indagado sobre o desafio que o espera. As próximas horas ele
passará debruçado, como já o fez no fim de semana, sobre os autos da ação penal
470. Aqui e ali, rastreia atalhos para fustigar a denúncia do Ministério
Público Federal, que formalmente atribui a Dirceu formação de quadrilha e
corrupção ativa.
– Foram mais de 500
depoimentos, nenhuma testemunha confirma as acusações levantadas por Roberto
Jefferson – afirmou o advogado a jornalistas. Ele chegará a Brasília na
quarta-feira.
Nas alegações finais,
Oliveira Lima rechaçou o libelo da procuradoria contra seu cliente.
“Derrubando cada um
dos indícios brandidos pela denúncia, a prova judicial assegurou que José
Dirceu se dedicava exclusivamente ao governo, não comandava os atos dos
dirigentes do PT, não tinha controle nem ciência das atividades de Delúbio
Soares, não decidia nomeações e não mantinha vínculo com Marcos Valério.”
Nesse documento, da
página 113 e até a 144, um capítulo só para golpear Jefferson.
“As contradições e as
inconsistências nas manifestações de Roberto Jefferson sobre a imaginada compra
de votos são incontáveis e se agravam ainda mais quando se referem à suposta
participação de José Dirceu. Provou-se nesta ação penal que Roberto Jefferson
estava acuado e no foco de investigações no exato momento em que formulou a
acusação de compra de votos”.
Na sexta-feira, dia 3,
os ministros do Supremo e o País vão ouvir o criminalista em sua manifestação
na Corte. A ele caberá a primeira da longa série de sustentações orais. Dele e
de seus argumentos depende o destino de José Dirceu.
Ainda segundo a defesa
de Dirceu, “as alegações finais demonstram quão frágeis são as acusações e como
não há nada na minha conduta que venha a justificar uma eventual condenação. As
denúncias já foram exaustivamente investigadas. É importante frisar: além de
inquérito policial, foram instauradas duas CPIs, houve buscas e apreensões,
quebras de sigilo bancário, fiscal e telefônico, requisições de documentos e
tomados inúmeros depoimentos.
Solidariedade
Em seu blog, na
internet, Dirceu relata suas atividades antes do julgamento no STF.
“Tenho andado muito
pelo Brasil, reunindo-me com amigos e companheiros, fazendo palestras,
participando de debates. Recebo, aonde vou, a solidariedade e o apoio dos que
têm plena consciência de que a punição a mim imposta por 293 deputados foi
injusta e política. Não cometi nenhum crime, não feri o decoro parlamentar, não
me envolvi em negociatas. Meus adversários políticos, que pregaram a minha
cassação para afastar-me da vida pública, não conseguiram uma só prova
documental ou testemunhal para justificar a decisão tomada pela Câmara dos Deputados.
“Mesmo sem provas, o
procurador-geral da União incluiu-me na denúncia que apresentou ao Supremo
Tribunal Federal contra 40 pessoas que ele considera envolvidas no episódio que
ficou conhecido como “mensalão”. Não apenas me incluiu, entendeu que eu era o
chefe do que ele denominou “organização criminosa”. Até hoje essa denúncia não
foi apreciada pelo STF, deixando-me na incômoda situação de réu sem julgamento.
“Ao lado disso, meus
adversários procuraram me envolver em vários outros episódios largamente
explorados pela imprensa. Tentaram, a todo custo, acabar com minha vida
pública, construída com muita luta desde a adolescência. Não tiveram sucesso.
“Como disse no
discurso em que fiz minha própria defesa, na sessão da Câmara em que a maioria
decidiu pela cassação de meu mandato e decretação de minha inelegibilidade por
oito anos, não abandonarei a vida pública e a luta política em nenhuma
circunstância.
“Continuo militante
político, embora sem mandato e sem função de direção partidária. E continuarei
lutando, sobretudo, pelo reconhecimento de minha inocência.
“Esta publicação,
preparada por amigos e companheiros que têm travado essa luta ao meu lado, tem
o objetivo de apresentar meus argumentos e mostrar minhas razões de forma
simples e direta. Agradeço a todos pela iniciativa, um instrumento a mais para
que os que ainda têm alguma dúvida possam entender melhor a enorme injustiça
cometida contra quem nada quer além de combater a injustiça e restabelecer a
verdade”, afirma.
Genoíno
No julgamento em curso
no STF, a defesa do ex-deputado federal José Genoino se concentrará em afastar
as atividades do então presidente do PT – descritas por seus advogados como
meramente políticas e institucionais – das decisões financeiras, função do
ex-tesoureiro Delúbio Soares. Também tentará provar que Genoino mantinha
relações apenas políticas com parlamentares do PP e do PTB e rebaterá as
acusações de formação de quadrilha, sustentando que não houve crime nenhum.
As alegações finais,
entregues em setembro do ano passado, ressaltam o estilo de vida modesto do
ex-parlamentar.
– Não tenho bens. Vivo
há 28 anos na mesma casa em São Paulo, me hospedo no mesmo hotel simples há
mais de 20 anos em Brasília, cidade onde trabalho de segunda a sexta – relata
Genoino.
Genoíno, seus
advogados e amigos demonstram que ele continua a ser o mesmo de antes, com uma
trajetória de vida ligada à resistência ao governo militar, que incluiu cinco
anos vividos na prisão após sua participação na guerrilha do Araguaia. Segundo
o advogado Luis Fernando Pacheco, responsável pela defesa de Genoino, o
ex-deputado espera com ansiedade pelo desfecho do julgamento e por uma decisão
que o considere inocente das acusações sofridas.
– Será de cabeça
erguida, peito aberto e coluna ereta que Genoino poderá dizer a toda sociedade:
‘Meu nome é José Genoino Neto e eu fui absolvido das acusações do mensalão’.
Tenho certeza de que ele sonha com esse dia – concluiu.
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