Se o Brasil
recuperasse suas áreas degradadas – terras abandonadas, em processo de erosão
ou mal utilizadas – não seria preciso derrubar mais nenhum hectare de floresta
para a agropecuária. A avaliação foi de técnicos e pesquisadores que se reunião
na quarta-feira, durante o 9º Simpósio Nacional de Recuperação de Áreas
Degradadas (9º Sinrad), que ocorre até sexta-feira, no Rio de Janeiro.
O diretor do Departamento
de Florestas do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Fernando Tatagiba, estimou
em até 140 milhões de hectares o total de terras nessa situação no país, área
superior a duas vezes o tamanho da França. O ministério está finalizando seu
novo plano plurianual, que dará grande importância à recuperação da terra como
forma de evitar o empobrecimento das populações e prevenir a derrubada de mais
áreas de florestas.
- Neste plano está
estabelecida uma meta de elaborar, até 2015, um plano nacional de recuperação
de áreas degradadas, que necessariamente deve ser feito com políticas
integradas com outros setores da sociedade. Não existe um número preciso [de
terras degradadas], mas gira em torno de 140 milhões de hectares. É um grande
desafio que temos pela frente, de superar esse passivo, pois essas áreas geram
prejuízos enormes para o país e trazem pobreza para o produtor rural – disse
Tatagiba.
Segundo o diretor, existem
áreas degradadas em todos os biomas e regiões do país.
- Obviamente, onde a
ocupação humana é mais antiga, existem áreas mais extensas, como é o caso da
Mata Atlântica. Mais recentemente, temos o Cerrado. Na Amazônia, as áreas
degradadas estão localizadas em locais de mineração e no chamado Arco do
Desmatamento [faixa de terra de pressão agrícola marcada por queimadas e
derrubadas, ao sul da Amazônia, do Maranhão ao Acre] – explicou.
Tatagiba considerou
que se as áreas degradadas forem recuperadas, não seria preciso derrubar mais
nenhum hectare de floresta para agricultura e pecuária, ainda que na prática
nem toda área possa ser totalmente recuperada.
- Para reduzir a
pressão sobre florestas, há necessidade de se recuperar pastagens degradadas,
que são em torno de 15 milhões de hectares. Se você recupera a capacidade
produtiva dessa pastagem, elimina a necessidade de suprimir uma área
equivalente em florestas. Além disso, é preciso aumentar a produtividade da
pecuária, pois não tem cabimento um boi por Maracanã [equivalente a um hectare]
– comparou Tatagiba.
Para o chefe do Centro
Nacional de Pesquisa de Agrobiologia da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa Agrobiologia), Eduardo Campello, o Brasil já detém
tecnologia própria para reverter a degradaçãodas terras, por meio de
processos de seleção e manejo e trocando produtos químicos por insumos
biológicos. Com isso, ele considera ser possível reduzir ou até reverter a
derrubada de florestas para a agropecuária.
- Várias dessas áreas podem
se tornar mais rentáveis, tirando a pressão sobre as florestas e os
remanescentes nativos. Já tivemos avanços incontestáveis com o plantio direto
[técnica em que se roça a terra e se semeia em seguida, evitando a erosão]. É
preciso integrar lavoura, pecuária e floresta, usando mecanismos naturais, como
fixação biológica de nitrogênio, evitando o uso de adubo químico. Já temos
áreas abertas suficientes, o que precisamos é recuperar o solo – explicou o
pesquisador chefe.
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