Marco Damiani, do Brasil 247 – O Mensalão, maior escândalo político dos últimos anos, que pode ser
julgado ainda este ano pelo Supremo Tribunal Federal, acaba de receber novas
luzes. Elas partem do empresário Ernani de Paula, ex-prefeito de Anápolis,
cidade natal do contraventor Carlinhos Cachoeira e base eleitoral do senador
Demóstenes Torres (DEM-GO).
“Estou convicto que Cachoeira e Demóstenes fabricaram a primeira
denúncia do mensalão”, disse o ex-prefeito em entrevista ao 247. Para quem não
se lembra, trata-se da fita em que um funcionário dos Correios, Maurício
Marinho, aparece recebendo uma propina de R$ 5 mil dentro da estatal. A fita
foi gravada pelo araponga Jairo Martins e divulgada numa reportagem assinada
pelo jornalista Policarpo Júnior. Hoje, sabe-se que Jairo, além de fonte
habitual da revista Veja, era remunerado por Cachoeira – ambos estão presos pela
Operação Monte Carlo. “O Policarpo vivia lá na Vitapan”, disse Ernani de Paula
ao 247.
O ingrediente novo na história é a trama que unia três personagens:
Cachoeira, Demóstenes e o próprio Ernani. No início do governo Lula, em 2003, o
senador Demóstenes era cotado para se tornar Secretário Nacional de Segurança
Pública. Teria apenas que mudar de partido, ingressando no PMDB. “Eu era o
maior interessado, porque minha ex-mulher se tornaria senadora da República”,
diz Ernani de Paula. Cachoeira também era um entusiasta da ideia, porque
pretendia nacionalizar o jogo no País – atividade que já explorava livremente
em Goiás.
Segundo o ex-prefeito, houve um veto à indicação de Demóstenes. “Acho
que partiu do Zé Dirceu”, diz o ex-prefeito. A partir daí, segundo ele, o
senador goiano e seu amigo Carlos Cachoeira começaram a articular o troco.
O primeiro disparo foi a fita que derrubou Waldomiro Diniz, ex-assessor
de Dirceu, da Casa Civil. A fita também foi gravada por Cachoeira. O segundo,
muito mais forte, foi a fita dos Correios, na reportagem de Policarpo Júnior,
que desencadeou todo o enredo do Mensalão, em 2005.
Agora, sete anos depois, na operação
Monte Carlo, o jornalista de Veja aparece gravado em 200 conversas com o
bicheiro Cachoeira, nas quais, supostamente, anteciparia matérias publicadas na
revista de maior circulação do País.
Até o presente momento, Veja não se
pronunciou sobre as relações de seu redator-chefe com o bicheiro. E, agora, as
informações prestadas ao 247 pelo ex-prefeito Ernani de Paula contribuem para
completar o quadro a respeito da proximidade entre um bicheiro, um senador e a
maior revista do País. Demonstram que o pano de fundo para essa relação
frequente era o interesse de Cachoeira e Demóstenes em colocar um governo
contra a parede. Veja foi usada ou fez parte da trama?
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