quinta-feira, 5 de abril de 2012

A mídia independente e a construção da cidadania

Não se pode esperar que uma mídia que engordou com a Ditadura Militar vá lutar por cidadania. É a mídia independente quem deve fazer esse papel, batendo de frente justamente com a mídia dominante, interessada apenas em satisfazer seus anseios por mais lucro e semelhantes anseios de seus patrocinadores.

Segundo os estudos mais clássicos, a cidadania é o conjunto de três tipos de direitos: direitos políticos (voto, participação através de Conselhos e Conferências), direitos civis (as liberdades individuais, como o direito de ir e vir), e direitos sociais (por exemplo, o Bolsa Família). A velha mídia ataca corriqueiramente cada um desses “troncos” de direitos garantidos aos cidadãos.

Vejamos, então, direitos mais específicos, garantidos direta ou indiretamente pela Constituição: transporte, trabalho, moradia, igualdade perante a lei, comunicação. O transporte público definitivamente não é uma pauta contumaz nos veículos da mídia dominante. Seus patrocinadores são as revendedoras e fábricas de automóveis. Da mesma forma, os trabalhadores são constantemente atacados, criminalizados e ridicularizados a cada mobilização de classe que levam a cabo. O direito à moradia é sumariamente ignorado por esses setores da mídia, que omitem a luta por reforma urbana e criminalizam as lutas por reforma agrária. A igualdade é achincalhada pelo racismo  e pela exclusão das culturas não-dominantes, como a indígena, e quilombos e reservas indígenas desaparecem da pauta, ao mesmo tempo em que as cotas são atacadas. Por fim, o direito à comunicação é enterrado a partir do momento em que faz-se uso do domínio econômico para estrangular os veículos independentes e manter uma hegemonia antidemocrática e antipopular nos espaços de mídia.

Não é a mídia dominante quem lutará para que a cidadania seja constantemente construída – ela é, necessariamente, uma construção, uma conquista continuada de direitos, não um fim específico –, mas a mídia independente deve colocar-se nessa função. Aproximar-se das demandas populares é o motivo primordial de existência de uma mídia independente, com possibilidade real de contrapor-se a setores midiáticos que jamais tiveram qualquer compromisso com o povo brasileiro. E essa construção só pode ser coletiva, dialogada e democrática. Caso contrário, não passará de um simulacro.

*Texto baseado em palestra proferida nesta segunda-feira na cadeira de Comunicação e Cidadania, na Faculdade de Comunicação da UFRGS, a convite da professora Ilza Girardi. Fonte 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sua visita foi muito importante. Faça um comentário que terei prazaer em responde-lo!

Abração

Dag Vulpi

Sobre o Blog

Este é um blog de ideias e notícias. Mas também de literatura, música, humor, boas histórias, bons personagens, boa comida e alguma memória. Este e um canal democrático e apartidário. Não se fundamenta em viés políticos, sejam direcionados para a Esquerda, Centro ou Direita.

Os conteúdos dos textos aqui publicados são de responsabilidade de seus autores, e nem sempre traduzem com fidelidade a forma como o autor do blog interpreta aquele tema.

Dag Vulpi

Seguir No Facebook