Não
se pode esperar que uma mídia que engordou com a Ditadura Militar vá lutar por
cidadania. É a mídia independente quem deve fazer esse papel, batendo de frente
justamente com a mídia dominante, interessada apenas em satisfazer seus anseios
por mais lucro e semelhantes anseios de seus patrocinadores.
Segundo
os estudos mais clássicos, a cidadania é o conjunto de três tipos de direitos:
direitos políticos (voto, participação através de Conselhos e Conferências),
direitos civis (as liberdades individuais, como o direito de ir e vir), e
direitos sociais (por exemplo, o Bolsa Família). A velha mídia ataca
corriqueiramente cada um desses “troncos” de direitos garantidos aos cidadãos.
Vejamos,
então, direitos mais específicos, garantidos direta ou indiretamente pela
Constituição: transporte, trabalho, moradia, igualdade perante a lei,
comunicação. O transporte público definitivamente não é uma pauta contumaz nos
veículos da mídia dominante. Seus patrocinadores são as revendedoras e fábricas
de automóveis. Da mesma forma, os trabalhadores são constantemente atacados,
criminalizados e ridicularizados a cada mobilização de classe que levam a cabo.
O direito à moradia é sumariamente ignorado por esses setores da mídia, que
omitem a luta por reforma urbana e criminalizam as lutas por reforma agrária. A
igualdade é achincalhada pelo racismo e pela exclusão das culturas
não-dominantes, como a indígena, e quilombos e reservas indígenas desaparecem
da pauta, ao mesmo tempo em que as cotas são atacadas. Por fim, o direito à
comunicação é enterrado a partir do momento em que faz-se uso do domínio
econômico para estrangular os veículos independentes e manter uma hegemonia
antidemocrática e antipopular nos espaços de mídia.
Não
é a mídia dominante quem lutará para que a cidadania seja constantemente construída
– ela é, necessariamente, uma construção, uma conquista continuada de direitos,
não um fim específico –, mas a mídia independente deve colocar-se nessa função.
Aproximar-se das demandas populares é o motivo primordial de existência de uma
mídia independente, com possibilidade real de contrapor-se a setores midiáticos
que jamais tiveram qualquer compromisso com o povo brasileiro. E essa
construção só pode ser coletiva, dialogada e democrática. Caso contrário, não
passará de um simulacro.
*Texto
baseado em palestra proferida nesta segunda-feira na cadeira de Comunicação e
Cidadania, na Faculdade de Comunicação da UFRGS, a convite da professora Ilza
Girardi. Fonte
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