Antes de ler
este artigo, sugiro ao leitor que responda ao seguinte questionário.
Você precisa
debater em público e não tem certeza da validade de seus argumentos?
Você, com certeza,
é o melhor executivo da empresa; mas por que as boas vagas sempre acabam sendo
ocupadas por profissionais que você julga menos capacitados?
Suas ideias, é
claro, são sempre as melhores; por que ninguém se interessa por elas?
Embora seja
frequente, você ainda não se conformou em sempre passar por idiota?
Você acredita,
realmente, que ainda vai vencer na vida?
Então este
artigo foi feito para você. Preste muita atenção!
Você não
precisa se aprofundar na arte de argumentar. Muitos sábios, advogados e homens
públicos já cuidaram disso por você.
Desde a Grécia
antiga, berço da civilização ocidental – começando com os filósofos sofistas e,
depois, Sócrates, Platão e Aristóteles -, muitos dos grandes pensadores da
humanidade se debruçaram sobre esse tema. Discutia-se a respeito dele na
República e no Império Romano, em Bizâncio, na Europa medieval, na
Renascença, no Novo Continente e até hoje se acumulam novos conhecimentos sobre
o assunto.
Pensadores da
estatura do filósofo alemão Arthur Schopenhauer chegaram a elaborar tratados
sobre o tema.
Há uma obra
dele que merece ser lida e devidamente estudada. Foi publicada depois de sua
morte e recebeu dos editores o sugestivo título “Como Vencer um Debate sem
Precisar Ter Razão”.
As conclusões
são alarmantes e desoladoras. Os bons argumentos não precisam ser os melhores
nem os mais verdadeiros. Bem apresentá-los é o que realmente importa.
O que cabe a
você, aqui, é – de uma vez por todas – saber que os que sabem discursar melhor não
são, necessariamente, os que sabem governar melhor. Os medíocres também têm
vez. Não importa se seu produto é o melhor, o que importa é saber vendê-lo bem.
Saiba, enfim que para vencer um debate o que menos você precisa é estar com a
tese certa.
1.ª lição –
Mesmo que esteja em dúvida, trate de ser convincente – se não der para
convencer, confunda. Se mesmo assim não funcionar, encontre um ausente no qual
pôr a culpa.
2.ª lição –
Demonstre sempre certeza do que está falando, mesmo quando já tenha percebido
que sua proposta está errada.
3.ª lição –
Decorre da segunda: ninguém segue um líder que se mostre em dúvida.
4.ª lição –
Não se preocupe em responder a um argumento correto, é muito melhor dizer que
seu oponente não tem autoridade moral para afirmá-lo. Inversamente: uma boa
ideia será sempre uma boa ideia, independentemente de quem a tenha tido.
5.ª lição –
Apresente ideias que aparentem ser coerentes. As boas histórias só convencem a
audiência se tiverem começo, meio e fim. Inversamente: não acredite em
histórias perfeitas, geralmente elas são inventadas. Tenha sempre em mente que
a realidade não produz enredos perfeitos.
6.ª lição –
Para que ideias confusas sejam mais convincentes, você deve atribuí-las a
alguém como Napoleão. Servem também Júlio César, Alexandre ou Abraham Lincoln.
Ninguém se atreverá a desmenti-lo nem admitirá pouco saber sobre eles. Se a
celebridade em questão já tiver falecido, nem mesmo ela poderá desmenti-lo.
7.ª lição – Os
exemplos de que você se vale não precisam ser verdadeiros. Basta que eles sejam
verossímeis.
As lições são
inúmeras. Mas, por enquanto, são suficientes essas sete. Você ainda acredita
nas palavras e nas elaborações intelectuais? Então, para terminar leia o que
vem a seguir.
Recordo-me de,
muitos anos atrás, ter lido um livro sobre retórica no qual havia um belo
exemplo de como tudo isso funciona. O autor resumiu a questão apresentando duas
biografias, retratos fiéis de grandes vultos da História.
O primeiro era
um beberrão contumaz. E, não bastasse, tabagista inveterado, mulherengo e dado
a excessos alimentares. Não tinha hora de dormir nem de acordar. Era
indisciplinado por natureza. Não gostava de ler relatórios, era teimoso,
ranzinza e não aceitava as ideias de ninguém. Por causa da teimosia, perdeu
diversas batalhas, foi afastado do comando, caiu em desgraça perante a imprensa
em geral e a opinião pública o desprezou por mais de duas décadas. Voltou ao
poder em razão de uma grave comoção popular. Pode-se dizer que tinha grande
desprezo por seus subordinados e era cético quanto à capacidade de
discernimento da humanidade.
Já o segundo
era praticamente o oposto. Não se conhece dele nenhum vício ou algum tipo de
costume reprovável. Não fumava, não bebia e se preocupava sempre em estar
dentro do peso. Extremamente metódico e disciplinado, tinha obsessão pela
pontualidade. Quando não estava trabalhando, cuidava de ler e estudar. Desde
pequeno sentia-se imbuído de uma grande missão. A ela dedicou toda a sua
juventude. Para bem executá-la evitou até a prática sexual, só vindo a contrair
matrimônio no fim da vida.
Enquanto
viveu, dedicou todo o seu tempo à sua causa. Morreu por causa dela. E sua
mulher morreu logo a seguir. Todos os que o conheceram afirmam que nunca deixou
de ser um idealista. Em suas aparições públicas demonstrava ser enérgico e
intransigente, mas em casa seu comportamento era cordial. Seus funcionários
mais íntimos foram unânimes em afirmar que era cavalheiro, polido e afável no
trato. Às vezes perdia a paciência, mas só quando se sentia injustiçado.
Qual dos dois
perfis é o que mais lhe agrada?
Qual dos dois
líderes você não vacilaria em acompanhar?
Os dois
líderes foram retratados com exatidão. Qual deles, a princípio, mais lhe
desperta simpatia?
A maioria das
pessoas, provavelmente, terá escolhido o segundo. Pois as aparências, como
sempre, enganam.
O primeiro
perfil é de Winston Churchill. E o segundo, de Adolf Hitler.
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Abração
Dag Vulpi