sexta-feira, 29 de abril de 2011

Política brasileira

Dag Vulpi 28/04/2011
[Política]
A reforma política sempre é lembrada quando surgem problemas como o  escândalo envolvendo políticos no tal mensalão. Porém, reforma nenhuma irá resolver o maior dos problemas políticos do Brasil, uma vez que este é cultural: o patrimonialismo. A falta de distinção entre o que é patrimônio público e o que é patrimônio privado é o que acontece quando o governante toma o público como sendo propriedade sua e faz uso deste para obter ganhos pessoais.

Na semana passada foi revelado pela Revista Época e pelo DFTV o conteúdo de uma carta encontrada pela Polícia Federal na casa de Domingos Lamoglia, ex-chefe de Gabinete do Governador José Roberto Arruda. O autor da carta assina P.P., que segundo os investigadores seria o ex-Deputado Distrital Pedro Passos, e é endereçada ao próprio governador.

A carta em si revela pouco sobre o esquema de corrupção em que Arruda está envolvido. Mas é reveladora quando se torna um instrumento valiosíssimo para o entendimento da forma como os políticos pensam o poder, os recursos públicos e a si próprios.

Em tom lamurioso um homem que encontrou sua derrocada devido ao seu envolvimento com a corrupção pede de socorro financeiro de e de forma melodramática, chora suas amarguras e desventuras no ano e meio anterior à sua redação. O mandato público que possuía servia a ele, e serve a quase totalidade dos que o detém, como um viés facilitador de seus negócios privados ou de seus financiadores.

Sem a “estrutura da CLDF” P.P. não consegue sustentar o mesmo padrão de ganhos e acumula dívidas. Seus ganhos se reduzem drasticamente, com o fim dos “diversos outros negócios decorrentes do mandato”. Então ele clama por quem por hora detém o poder político ajuda em seus negócios privados.
“Penso e sei que para o governo isso não é nada. O governo é muito, muito grande e com um simples gesto de solidariedade e amizade me ajudará imensamente.”

O governo está lá para atender aos seus interesses. Mesmo que esses sejam o de sanar dívidas particulares e evitar que se desfaça de seu patrimônio. O pedido é simples: ele quer R$ 1,5 milhão de forma imediata, mais uma mesada de R$ 100 mil.

E de onde viria esse dinheiro? Do bolso do próprio governador? Claro que não. P.P. tentava entrar no esquema de distribuição de mesadas que o governador controlava, em troca de fidelidade e gratidão. Uma rica moeda no jogo de altos e baixos da política em que o único projeto de governo é dominar o poder.

Políticos como esses acreditam de fato que estando no comando do poder detém os recursos públicos e podem o administrar ao seu bel prazer. E acreditam que suas amarguras financeiras de cunho pessoal podem ser sanadas com recursos oriundos de desvios, propinas ou “recursos não contabilizados”. É o normal, é o usual, é o corriqueiro.
Este é o principal problema político do Brasil.



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Dag Vulpi

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