Dag Vulpi 28/04/2011
[Política]
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A reforma política sempre é lembrada
quando surgem problemas como o escândalo envolvendo políticos no tal mensalão. Porém, reforma nenhuma irá resolver o maior dos problemas políticos do
Brasil, uma vez que este é cultural: o patrimonialismo. A falta de distinção
entre o que é patrimônio público e o que é patrimônio privado é o que acontece
quando o governante toma o público como sendo propriedade sua e faz uso deste
para obter ganhos pessoais.
Na semana passada foi revelado pela Revista
Época e pelo DFTV o
conteúdo de uma carta encontrada pela Polícia Federal na casa de Domingos
Lamoglia, ex-chefe de Gabinete do Governador José Roberto Arruda. O autor da
carta assina P.P., que segundo os investigadores seria o ex-Deputado Distrital
Pedro Passos, e é endereçada ao próprio governador.
A carta em si revela pouco sobre o
esquema de corrupção em que Arruda está envolvido. Mas é reveladora quando se
torna um instrumento valiosíssimo para o entendimento da forma como os
políticos pensam o poder, os recursos públicos e a si próprios.
Em tom lamurioso um homem que
encontrou sua derrocada devido ao seu envolvimento com a corrupção pede de
socorro financeiro de e de forma melodramática, chora suas amarguras e desventuras
no ano e meio anterior à sua redação. O mandato público que possuía servia a
ele, e serve a quase totalidade dos que o detém, como um viés facilitador de
seus negócios privados ou de seus financiadores.
Sem a “estrutura da CLDF” P.P. não
consegue sustentar o mesmo padrão de ganhos e acumula dívidas. Seus ganhos se
reduzem drasticamente, com o fim dos “diversos outros negócios decorrentes do
mandato”. Então ele clama por quem por hora detém o poder político ajuda em
seus negócios privados.
“Penso e sei que para o governo isso
não é nada. O governo é muito, muito grande e com um simples gesto de
solidariedade e amizade me ajudará imensamente.”
O governo está lá para atender aos
seus interesses. Mesmo que esses sejam o de sanar dívidas particulares e evitar
que se desfaça de seu patrimônio. O pedido é simples: ele quer R$ 1,5 milhão de
forma imediata, mais uma mesada de R$ 100 mil.
E de onde viria esse dinheiro? Do
bolso do próprio governador? Claro que não. P.P. tentava entrar no esquema de
distribuição de mesadas que o governador controlava, em troca de fidelidade e
gratidão. Uma rica moeda no jogo de altos e baixos da política em que o único
projeto de governo é dominar o poder.
Políticos como esses acreditam de
fato que estando no comando do poder detém os recursos públicos e podem o
administrar ao seu bel prazer. E acreditam que suas amarguras financeiras de
cunho pessoal podem ser sanadas com recursos oriundos de desvios, propinas ou
“recursos não contabilizados”. É o normal, é o usual, é o corriqueiro.
Este é o principal problema político
do Brasil.
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Dag Vulpi