Relação
foi mapeada ao longo de seis meses de investigação
Gravações
telefônicas e e-mails interceptados pela Polícia Federal (PF) durante
investigação sobre contrabando ligam o secretário nacional de Justiça, Romeu
Tuma Júnior, ao principal alvo da operação, Li Kwok Kwen, apontado como um
dos chefes da máfia chinesa em São Paulo. A relação de Tuma Júnior com Kwen,
conhecido como Paulo Li, foi mapeada ao longo dos seis meses da
investigação que deu origem à Operação Wei Jin (trazer mercadoria
proibida, em chinês), deflagrada em setembro de 2009.
Paulo Li foi
preso com mais 13 pessoas sob acusação de comandar quadrilha
especializada no contrabando de telefones celulares falsificados, procedentes
da China. Ao ser detido, Paulo Li telefonou para Tuma Júnior na frente dos
agentes federais que cumpriam o mandado. Dias após a prisão, ao saber que seu
nome poderia ter aparecido no inquérito, Tuma Júnior ligou para a
Superintendência da PF em São Paulo, onde corria a investigação, e pediu para
ser ouvido.
O depoimento
foi tomado num sábado, para evitar exposição. Ele declarou que não sabia de
atividades ilegais de Li. O surgimento do nome Tuma Júnior no inquérito seguia
em segredo até agora. O esquema, estimou a PF à época, envolvia R$ 1,2 milhão por
mês. Os aparelhos eram vendidos no comércio paralelo de São Paulo e no
Nordeste. Denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) pelos
crimes de formação de quadrilha e descaminho, Paulo Li seguia preso até ontem.
Paulo Li, que
de acordo com as investigações também ganhava dinheiro intermediando a emissão
de vistos permanentes para chineses em situação ilegal no País, tinha livre
trânsito na secretaria. Segundo o inquérito, Li conseguia acelerar processos em
tramitação no Departamento de Estrangeiros, órgão subordinado diretamente
ao secretário. Os telefonemas também revelam Tuma Júnior como cliente assíduo
do esquema: sem hesitar, ele fazia encomendas por telefone de aparelhos
celulares, computador e até videogame.
Ministério
Procurada pela
reportagem, a assessoria do Ministério da Justiça afirma, em nota, que não há
investigação nem pedido de interceptação telefônica contra o secretário Romeu
Tuma Júnior, mas sim “trechos de conversas do secretário com um alvo da Polícia
Federal”.
“A Assessoria
de Comunicação do Ministério da Justiça informa que não há, na Polícia Federal,
investigação nem pedido de interceptação telefônica contra o secretário
nacional de Justiça Romeu Tuma Júnior, mas que trechos de conversas do
secretário com um alvo investigado foram captadas pela PF, em inquérito que
corre sob sigilo”, limitou-se a dizer o ministério.
Horas antes,
depois de contato telefônico informando o teor da reportagem, a reportagem
havia enviado 15 perguntas destinadas a Tuma Júnior e ao diretor do
Departamento de Estrangeiros, Luciano Pestana. O ministério não informou a
razão pela qual preferiu não responder às questões.
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