Em
depoimento ao Ministério Público Federal (MPF), como parte do acordo de delação
premiada, o empresário Emílio Odebrecht,
ex-presidente executivo e atual presidente do conselho de administração da
empreiteira Odebrecht, disse que o esquema descoberto pela Operação Lava Jato ocorre há mais de 30 anos na
relação da construtora com a classe política.
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Ao
descrever aos procuradores da força-tarefa da Lava Jato como se dava a relação
dele com a classe política, Emílio Odebrecht afirmou que a troca de favores
entre os políticos e as empresas é algo “institucionalizado” no país há
décadas.
“O
que nós temos no Brasil não é um negócio de cinco ou dez anos. Estamos falando
de 30 anos. [Me referi] ao sistema de fazer política. Tudo que está acontecendo
é um negócio institucionalizado. Uma coisa normal, em função de todos esses
números de partidos [envolvidos]”, disse Odebrecht.
Patriarca
da maior construtora do país, Emílio Odebrecht disse ainda que, apesar de ter
deixado a presidência executiva do grupo em 2002, cuidava pessoalmente das
demandas da empresa com presidentes.
“Desde 2002, vinha lutando para passar [o
relacionamento] com o [presidente da] Venezuela, Hugo Chaves, com o José
Eduardo Santos, presidente de Angola, e o [ex-presidente] Lula para Pedro Novis
[atual presidente-executivo do grupo] e para o Marcelo [Odebrecht, que presidia
o grupo até ser preso na Lava Jato]. Com essas pessoas com quem eu, não tendo
tido a oportunidade de poder transferir a relação, uns não aceitavam, outros
pelo convívio de 35 anos, não quiseram, continuei dando apoio a essas pessoas”.
Em
seu depoimento, Emílio Odebrecht também criticou a imprensa que, segundo ele,
tem agido com “demagogia”. “Eles [partidos] brigavam era por cargos?
Todo mundo sabia que não era. Era por orçamentos gordos. Ali que se colocava os
partidos e seus mandatários com a finalidade de arrecadar recursos”, disse.
“Há 30 anos que se faz isso e o
que me surpreende é quando eu vejo todos esses poderes, a imprensa, tudo como
se isso fosse uma surpresa. Me incomoda isso. Não exime em nada a nossa
responsabilidade, a nossa benevolência, nada do que nós praticamos, mas
passamos a olhar isso como normalidade, porque 30 anos é difícil as coisas não
passarem a serem normais”, disse Emílio Odebrecht na delação premiada.
Diante
da relação promíscua com o poder público no Brasil, segundo ele, era praxe
dentro da organização que os diretores tivessem experiência em subsidiárias da
companhia no exterior para conviverem com “concorrência
de verdade”. “Todos os companheiros
da organização já passaram pelo exterior para ter uma visão de mundo. Conviver
com concorrência efetiva, real. Disputa baseado em produtividade. Porque nos
outros países, principalmente no Brasil, não se fazia muita engenharia”,
disse.
Ao
lado do depoimento de mais 76 executivos e ex-executivos das empresas Odebrecht
e Braskem, o depoimento de Emilio Odebrecht serviu de base para a decisão do
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin autorizar a abertura de
investigação contra oito ministros do governo federal, três governadores, 24
senadores e 39 deputados federais.
O
depoimento de Emilio Odebrecht ao Ministério Público Federal ocorreu no dia 13
de dezembro do ano passado, na sede da Procuradoria-Geral da República, em
Brasília.
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