sexta-feira, 18 de abril de 2014

Poder ideológico e consciência política



O poder não é algo que existe objetivamente, é fruto de uma relação de consciência. Neste meio existem aqueles que consolidam esta relação inconscientemente, chamados de “analfabetos políticos” e aqueles que pensam na mudança, os chamados “conscientes políticos”. Nenhum dos dois poderá mudar a sociedade com suas ações, mas o segundo poderá com sua consciência.

Um poder, seja ele de qualquer natureza ou exercício, se revela na expressão de um coletivo que atribui a um indivíduo a função de exercer um serviço para este povo. Este é o princípio que norteia a Constituição Federal com a expressão: “Todo poder emana do povo para em seu nome ser exercido”. Portanto esse povo é o seu patrão, que paga inclusive o seu salário por este serviço. Aí se insere a idéia de poder como relação e não como algo natural.

Portanto, o poder não existe objetivamente, não pode ser encontrado em algum lugar ou como se fosse um objeto. Ele é fruto de uma relação ideológica entre os indivíduos de uma sociedade. 

O poder político, por exemplo, constituído através de um mandato, existe porque uma parte da sociedade o atribuiu a alguém. Mas não é o voto que foi escrito em uma cédula ou registrado em um computador que dará este poder ao político. O voto, através de uma eleição, é apenas uma simbologia que formaliza as organizações do sistema de estado convencionado pela sociedade. Se fosse ele (o voto) que de fato desse poder ao político, era suficiente rasgar as cédulas ou destruir o computador para interromper o poder.

Todavia o poder existe, e agora como algo concreto, consolidado numa consciência que assumimos que atribuído empodera um político (ou qualquer outra situação de poder: militar, empresarial, etc.). Neste caso o presidente é presidente, como os demais políticos são políticos, porque nos (a sociedade) assumimos a consciência de que eles o são. Portanto é o nosso pensar, a nossa consciência que constitui o poder de alguém. Isto quer dizer que somos nós (a sociedade) que decidimos quem tem poder, portanto, decidimos quem vai ser político, até quando terá mandato político, inclusive quanto deverão ganhar. Portanto, decidimos a vida dos políticos. 

Os interesses da pequena parcela que domina a sociedade (os políticos) exigem imperiosamente que ignoremos este postulado e até cheguemos a pensar que o poder é algo natural, ou seja, quem tem poder tem, porque “já nasceu com a estrela na testa”. Isto garante a possibilidade de uma relação de injustiça e desigualdade, mas de forma harmônica, pois, por este pensamento, o poder trata-se de uma providencia divina ou consequência da própria natureza. 

Isto pode explicar a necessidade de se cultivar o “analfabetismo político” em nossa sociedade. Aquelas pessoas que não sabem que a garantia de escola, saúde e emprego não são gestos de boa vontade, são obrigação do governante e direito do povo. Assim como também não sabem que o preço da sua comida, a possibilidade de seu emprego e o valor do seu salário dependem das decisões dos políticos. 

Ainda mais: inverte-se no contexto social, por consequência deste “analfabetismo político”, o verdadeiro papel dos envolvidos nesse circulo político ideológico. O político que necessita do voto do eleitor não parece ser quem está pedindo e o eleitor que dá o voto ao político, não parece ser quem tem para dar. Esta é uma relação que precisa ser alimentada para ser mantida a lógica do poder ideológico. 

O maior castigo para estes que não se interessam por política é que serão governados por quem se interessa, como já previa Arnold Toynbee. 

De qualquer modo é preciso saber que quem decide a vida dos políticos somos nós mesmos, como somos nós que fazemos nossa História e que podemos construí-la de acordo com nossos interesses. 

Mas isso não pode ser entendido como resultado apenas do fato de termos votado em alguém. Até porque a História contemporânea nos mostra que mesmo tendo votado consciente muita pouca coisa ou quase nada mudou. Poderíamos então dizer que o eleitor consciente não é aquele que apenas vota, mas o que acompanha o mandato do candidato que se elegeu. Mas a partir daí iniciamos uma outra questão: Como acompanhar o trabalho dos políticos que votam secretamente aquelas decisões quando lhes são convenientes o segredo? 

Isso pode revelar que a distancia que separa o “analfabeto político” do “consciente político” não é necessariamente o efeito de sua atitude frente a um momento de decisão política, mas o efeito de uma consciência numa perspectiva Histórica, que poderá transformar a sociedade, que nem um nem outro conseguira alcançar fisicamente, mas as gerações de um futuro, que poderia ser nós, se a do passado tivesse assim pensado. 

Em verdade, todo o poder emana do povo, muito embora pouco dele em seu nome seja exercido. Contudo, podemos decidir nossa Historia, fazemos a nossa História, porque se a política decide nossa vida, nos decidimos à vida da política e consequentemente dos políticos. 


Via  Duplipensar .net

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