A mineradora Vale - antiga Companhia
Vale do Rio Doce - foi eleita a pior empresa do mundo por causa do seu
histórico de violações dos direitos socioambientais, credenciais que a colocam
no status de "Inimiga Número Um da Humanidade" e verdadeiro tsunami
ambiental do planeta.
Por Antonio Carlos Lacerda
O prêmio Public Eye Awards foi
entregue pessoalmente ao presidente da Vale, Murilo Ferreira, pela Articulação
Internacional dos Atingidos pela Vale, pelas numerosas violações dos direitos
socioambientais que a Vale promove nas regiões onde estão instalados seus projetos,
bem como acusações de evasão fiscal e dívidas bilionárias.
A Vale foi indicada e ganhou o
prêmio de pior empresa do mundo por violar direitos fundamentais no Brasil e em
mais 39 países, provocando danos aos seres humanos e ao meio ambiente. Ela teve
25.043 votos, no site da Public Eye Awards, concorrendo com as empresas Tepco -
responsável acidente nuclear de Fukushima - (24.245), Sansung (19.014),
Barclays (11.107), Syngenta (6.052) e Freeport (3.308).
Ao receber o prêmio, o presidente da
Vale afirmou não considerar a premiação, por envolver organizações
estrangeiras, que, na opinião de Murilo Ferreira, "querem bloquear o
desenvolvimento do Brasil".
Ao ser questionado sobre a
participação da Vale nas violações cometidas por Belo Monte e TKCSA, Murilo Ferreira
se desresponsabilizou das acusações, alegando que embora as reconheça - as
violações - a Vale não teria controle sobre esses projetos. "TKCSA e Belo
Monte estão fora do meu controle. Somos sócios minoritários. Dentro da TKCSA só
podemos ir ao banheiro, quando podemos".
A entidade afirmou que Murilo
Ferreira se omitiu diante das questões levantadas sobre a duplicação da estrada
de ferro Carajás, violação dos direitos trabalhistas e sobre a preservação dos
recursos hídricos. No caso da Serra da Gandarela, o presidente da Vale informou
que o projeto Apolo está parado por falta de recursos, mas sua assessora
confirmou que a Companhia continua realizando prospecções e pesquisa na última
serra intacta de Minas Gerais.
Ele disse ainda que são infundadas
as acusações de envolvimento da Vale nos assassinatos de trabalhadores, na
Guiné. Quanto a Moçambique, o presidente da Vale se limitou a reconhecer que
haveria problemas com os assentamentos de Moatize e não especificou que medidas
a empresa vem tomando para solucioná-los.
Murilo Ferreira se omitiu diante as
questões levantadas sobre a duplicação da estrada de ferro Carajás, violação
dos direitos trabalhistas e sobre a preservação dos recursos hídricos.
Denúncias
Em Piquiá, no município de
Açailândia, no Maranhão, a população sofre com vínculo ambíguo e predatório da
Vale com as guseiras, envolvidas em trabalho escravo, desmatamento e poluição.
Há indícios de um aumento significativo no número de mortes devido a câncer nos
pulmões na região.
Em Minas Gerais, no quadrilátero
ferrífero, a Vale já destruiu a maior parte das áreas de cangas ferruginosas
que, associadas à formação geomorfológica, protegem os mananciais de água. A
atividade predatória põe em risco a segurança do abastecimento público de água,
no Estado.
Foram apresentadas também denúncias
de práticas antissindicais da Vale e o descumprimento do Termo de Acordo de
Conduta (TAC), junto à Organização Internacional do Trabalho (OIT), na unidade
de Araucária, no Paraná.
No Estado do Espírito Santo, Sudeste
do Brasil, além da poluição que inclui a emissão de material particulado,
inclusive de gases cancerígenos, a Vale é acusada de despejar minério no mar,
formando uma jazida de 150 mil metros cúbicos no mar de Camburi, litoral da
capital, Vitória, contaminando a região.
No Sul do Estado, em Anchieta, a
empresa se esforça para retirar da localidade de Chapada do A 73 famílias
descendentes de indígenas para construir a Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU).
Em âmbito internacional, a Vale é
responsável pelo processo de expropriação e deslocamento compulsório de mais de
1300 famílias em Moçambique, segundo a Justiça Global. " Recentemente,
seis pessoas foram assassinadas em uma mobilização de operários que reclamavam
a falta de cumprimento da Companhia de acordos trabalhistas. Lideranças locais
acusam a Vale de ter fornecido veículos usados para reprimir os
manifestantes".
O prêmio internacional Public Eye
Awards é conhecido como o Nobel da vergonha corporativa mundial, e concedido a
empresas com graves passivos sociais e ambientais por voto popular. O prêmio
foi anunciado durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.
Reivindicações
Dentre as reivindicações da
Articulação estavam a solicitação de que as obras de duplicação da ferrovia
Carajás aconteçam, como previsto em lei, somente após a realização de
audiências públicas em todos os municípios afetados pela construção, e com a
consulta prévia das comunidades tradicionais diretamente impactadas.
Também foi solicitado que a empresa
se retirasse do consócio de Belo Monte. Em Altamira e na região do Xingu, as
populações indígenas e ribeirinhas têm sofrido diversas violações de direitos
por conta da construção da hidrelétrica. Além disso, a região sofre com a
intensificação do tráfico e exploração sexual e violência de mulheres, crianças
e adolescentes.
Vale
e TKCSA
A Vale é sócia da TKCSA e
fornecedora exclusiva do minério de ferro. Desde 2010, os moradores do entorno
da TKCSA são obrigadas a conviver e respirar partículas derivados do
funcionamento da empresa que até hoje funciona sem licença de operação. São
muitos os relatos de problemas dermatológicos e respiratórios (constatados em
relatório da Fiocruz.).
Esses mesmos moradores convivem com
o barulho frequente dos trens, rachaduras nas casas pela trepidação e a poeira
de minério deixada pelos trens. Além disso, os pescadores estão proibidos de
pescar desde 2006, por conta das áreas de exclusão de pesca criadas com o
funcionamento do porto.
Internacional
Em âmbito internacional, a
Vale é responsável no processo de expropriação e deslocamento compulsório de
mais de 1300 famílias, em Moçambique. Recentemente, seis pessoas foram
assassinados em uma mobilização de operários que reclamavam a falta de
cumprimento da Companhia de acordo trabalhistas.
Lideranças locais acusam a Vale de
ter fornecido veículos usados para reprimir os manifestantes.
Public
Eye Awards
Em 2012, a Vale venceu o prêmio
internacional Public Eye Awards, conhecido como o Nobel da vergonha corporativa
mundial e concedido a empresas com graves passivos sociais e ambientais por
voto popular. O prêmio foi anunciado durante o Fórum Econômico Mundial, em
Davos, na Suíça. A Vale foi a vencedora com 25.041 votos, ficando à frente da
japonesa TEPCO, responsável acidente nuclear de Fukushima.
Articulação
Internacional dos Atingidos pela Vale
A Articulação Internacional dos
Atingidos pela Vale é composta por populações e comunidades atingidas,
movimentos sociais, organizações e centrais sindicais de diversos países que
sofrem violações de direitos cometidos pela Vale.
Estiveram presentes: a Sociedade
Paraense de Direitos Humanos, o Sind-Química-PR, Pacs, Justiça nos Trilhos,
Movimentos pelas Serras e Águas de Minas e Justiça Global.
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